Conhecendo a Dinamarca através do cinema.
Em termos gerais, a arte – e atualmente, sobretudo o cinema – é um excelente meio de se conhecer a cultura e história de um país. Por isso, a minha proposta é de apresentar pra vocês a Dinamarca através do cinema, com filmes que mostram um pouco dos costumes, histórias, dores e delícias do país. Aproveite as férias escolares para ver alguns desses filmes, ou todos, se você se interessa em conhecer mais sobre alguns aspectos da vida na Dinamarca e sua história.
Tema: Resistência na 2ª Guerra Mundial
A região da Jutlândia contou com a ação de vários grupos de resistência durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. A história do primeiro desses grupos é contada nesse filme.
Hvidstengruppe ou Grupo de Hvidsten era um grupo de receptadores de armamentos, munições e granadas para os Aliados ingleses na Dinamarca ocupada. Hvidsten, pequeno povoado da região de Randers, era o melhor local do país para receptação desses aparatos de guerra, e rapidamente se articulou um grupo de moradores para a tarefa.
Oito dos cerca de 27 membros do grupo, incluindo seu líder, Marius Fiil, foram executados a mando da Gestapo em 29 de junho de 1944. Outros foram presos e se exilaram na Suécia, de onde retornaram com vida à Dinamarca após o fim da guerra.
A pousada (kro) onde tudo se organizou, Hvidsten Kro, é uma das mais antigas da Dinamarca e segue ativa até os dias de hoje, sendo parada quase que obrigatória para viajantes que se interessem pela história do país.
Por que está na lista: a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial é um período muito marcante da história dinamarquesa. O filme retrata esse período e a bravura dos dinamarqueses que resistiram.
Corações livres (Elsker dig for evigt)
Tema: Amor e relacionamentos
Parte integrante do movimento Dogma 95, sendo o Dogma#28 da série, o filme fala de como as consequências da vida afetam e constroem – ou destroem – os relacionamentos afetivos.
A história tem como personagem principal uma mulher dinamarquesa de classe média casada com um médico, interpretado por Mads Mikkelsen. Ela se envolve num acidente e atropela um jovem que acabou de ficar noivo, tornando-o tetraplégico.
O rapaz, antes alegre e brincalhão, fica agora agressivo e desconta a dor maltratando a namorada. A situação se complica quando o médico, compadecido com a situação e buscando consolar a jovem noiva acaba se envolvendo com ela, pondo em risco o seu próprio casamento.
Por que está na lista: embora trate de uma situação que poderia acontecer em qualquer sociedade moderna e em qualquer país do mundo, a ótica da narrativa se baseia na cultura dinamarquesa e na forma como os dinamarqueses se relacionam. Também é uma introdução digerível para quem quer conhecer o movimento Dogme95.
Rosita
Tema: casamentos de conveniência
Rosita é uma jovem filipina que vem para a Dinamarca apostando num relacionamento com um homem mais velho, que ela mal conhece, para escapar das mazelas de uma vida sofrida e repleta de necessidades no seu país de origem. Entretanto, um envolvimento com o filho do homem que a trouxe para a Dinamarca pode botar seus planos a perder.
Por que está na lista: atualmente há muitos homens dinamarqueses buscando através da Internet relacionamentos com mulheres asiáticas, vistas como belas, exóticas e submissas. Por outro lado, essas mulheres normalmente veem na relação com um europeu a possibilidade de melhorar de vida e de sair da pobreza ou de uma situação de risco no seu país de origem. O filme mostra os desdobramentos desse tipo de “negócio”, em que ambas as partes parecem sair ganhando.
Leia mais: Dinamarqueses e o amor
A festa de Babette (Babettes gæstebud)
Tema: choque cultural
Este filme de 1987 e premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro tem o roteiro baseado num conto de uma das filhas ilustres da literatura dinamarquesa, Karen Blixen. Uma cozinheira francesa fugindo de conflitos no seu país chega a um pequeno vilarejo na Dinamarca. Ali consegue emprego como camareira e cozinheira para duas irmãs, filhas de um pastor.
Após 14 anos de trabalho ela ganha na loteria e, com saudade da comida de sua terra natal, resolve fazer um banquete francês em homenagem aos 100 anos do pastor, já falecido. Os pratos exóticos e luxuosos são ao mesmo tempo um desafio e um deleite para os habitantes do vilarejo, acostumados a uma vida modesta, regrada, religiosa e monótona.
Por que está na lista: um dos aspectos marcantes da Dinamarca é a homogeneidade; o que vem de fora é exótico, estranho ou como algo para ser provado apenas de vez em quando, ou nunca. Vemos, também, a pessoa estrangeira tentando se reconectar com suas raízes através da culinária. No fim, vemos a troca benéfica: generosidade da parte estrangeira e a abertura de horizontes que a experiência traz aos habitantes locais. Com a ascensão atual de políticas extremistas no mundo todo, o filme pode trazer reflexões interessantes.
A caça (Jagten)
Tema: justiça e injustiça
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, candidato a melhor filme estrangeiro no Oscar de 2014 e estrelado por Mads Mikkelsen, tem como tema o tamanho do estrago que uma inverdade pode causar. Uma criança contrariada com a falta de atenção dada a ela por um dos funcionários de um jardim de infância o acusa de ter lhe mostrado seu pênis. Não há evidências concretas para legitimar a acusação, mas mesmo assim a vida desse homem vira de cabeça pra baixo, e a única verdade que ninguém parece ouvir é a dele.
Por que está na lista: na Dinamarca a palavra das crianças é sempre levada muito a sério, mesmo que seja mentira, embora o mote principal do filme seja a justiça versus a injustiça. O desenvolvimento do enredo é bem interessante. É um filme para ver e refletir.
Leia mais: Curiosidades sobre a Dinamarca
Rosa Morena
Tema: adoção e homossexualidade
Uma coprodução Brasil-Dinamarca, trata de uma realidade muito comum a pessoas homossexuais, a busca por adoção de crianças em países em desenvolvimento ou pobres. Também aborda a adoção ilegal.
Thomas tem um forte desejo de ser pai e vem ao Brasil, onde um amigo dinamarquês vive, para tentar adotar uma criança. No país conhece Maria, jovem pobre que está grávida mas não tem condição de criar outro filho, e se oferece para adotar a criança, passando a acompanhar a gravidez com generosidade. Os problemas começam quando o pai do bebê aparece e reclama a paternidade. Entretanto, Thomas fará qualquer coisa para realizar o sonho de ter um filho – no caso, uma filha -, mesmo que isso signifique colocar sua própria vida em risco.
Por que está na lista: a adoção de crianças estrangeiras por casais homoafetivos é legal na Dinamarca desde 2010, porém a primeira adoção oficial só aconteceu em 2014. É preciso ser aprovado pelo governo, comprovando aptidão para adotar, e o processo é muito demorado e caro. Além disso, alguns países tendem a rejeitar pedidos de casais homoafetivos, o que dificulta ainda mais a situação.
2 Comments
Ah que legal ver o Rosa Morena recomendado. A primeira voz que abre esse filme, a da última chamada para o passageiro no aeroporto, é minha 🙂
Olha só que legal! Obrigada por comentar 🙂