Copa do Mundo na Holanda.
A Copa do Mundo chegou e esse ano eu não tenho álbum de figurinhas. Não sei a escalação da Seleção Brasileira de cabeça. Não me apaixonei pelos jogadores da Seleção Grega. Nem mesmo decorei direito as seleções que estão no mesmo grupo que o Brasil.
O nosso país tem os seus inúmeros problemas e, sempre que eu abro sites de notícias, me pego pensando que no momento não tenho vontade de volta. Mas estar fora do Brasil em ano de Copa do Mundo é agoniante. É quando o brasileiro esquece um pouco dos problemas e se orgulha de ser brasileiro (mesmo que a gente vire especialista em futebol e critique todas as decisões do pobre do técnico).
E eu ainda dei o azar de estar na Holanda, um país que, apesar de ter uma boa tradição em Copas do Mundo, ficou fora dela esse ano. Ou seja, o mais perto que eu estou chegando de futebol é olhando pela janela do trabalho e vendo o campinho que tem aqui do lado.
Eu não sinto muitas saudades do Brasil. Sinto falta, é claro, da família, dos amigos, das comidas, mas não de estar no Brasil. Até agora.
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Nessas últimas semanas eu, que nunca me preocupei em achar bares brasileiros em Amsterdã, me peguei pesquisando lugares que vão transmitir os jogos da Copa e que tenham caipirinha. Me peguei querendo pedir pros amigos brasileiros que vêm visitar pra trazerem bandeiras e cornetas verde-amarelas pra eu poder torcer direito. Convenci as pessoas do trabalho que tínhamos que fazer um bolão e sair um dia pra ver os jogos (afinal, já que a Holanda não está participando, eles bem que podiam torcer pro Brasil, né?). Até playlist no Spotify com as músicas-tema das Copas passadas eu fiz.
Por sorte, Amsterdã tem uma grande quantidade de brasileiros, os holandeses do meu trabalho já falaram que querem ver as partidas comigo e eu já até descobri que um dos meus bares preferidos vai transmitir alguns dos jogos.
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Mas nada vai substituir a sensação de estar perdendo alguma coisa, de que a Copa de 2018 sempre vai ficar na minha cabeça como “A Copa que eu não vi no Brasil”. E isso me fez pensar em escolhas (a coisa vai ficar filosófica daqui pra frente, já aviso).
Morar fora do país, pra maioria das pessoas, é uma escolha. Como a mudança não é fácil, essa escolha demanda grande esforço, planejamento e, óbvio, renúncias. E morar fora é, de certa forma, escolher não ser mais brasileiro. Por mais que você tente adequar o que você come, o que você veste e o que você fala, você vai deixando de ser brasileiro.
Chega um dia, por exemplo, que você começa a revirar os olhos pra quem prefere ir de carro e não de bicicleta pro trabalho. Que você vai falar uma frase e simplesmente não lembra de uma palavra em português (e morre de medo de ser visto como esnobe por causa disso). Que acontece uma tragédia no Brasil e você fica sabendo dela através dos seus amigos holandeses. Que você vai visitar a cidade que você morou por 14 anos e fica com medo de andar na Av. Paulista e ser assaltado.
Mas você também dificilmente vai se sentir em casa no seu novo país. Mesmo que você aprenda a língua, consiga andar de bicicleta falando no WhatsApp e segurando um guarda-chuva ao mesmo tempo e se acostume a almoçar pão em vez de arroz com feijão, você não vai ter as mesmas referências que uma pessoa que nasceu aqui tem. Amsterdã pode ser a minha casa, mas eu não sei se um dia eu vou realmente me sentir em casa por aqui.
E tá tudo bem, viu? Eu fiz a minha escolha com consciência e não me arrependo dela, muito pelo contrário! Mas que vai me cortar o coração não sair louca pulando pela rua a cada gol que o Brasil marcar, isso vai!
Então, pra quem mora aqui ou vai estar visitando Amsterdã na época da Copa, eu separei alguns bares (brasileiros ou não) que vão transmitir alguns jogos e fazer com que eu me sinta um pouco mais perto de casa.