Continuando a saga de ser mãe longe de casa, mostro a vocês como funcionam as creches aqui em Madri. O sistema de educação espanhol, a respeito do financiamento, se divide em três: pública, privada e “concertada”. Tá, os dois primeiros ok, mas e esse concerto aí? “Concertada” seria traduzido por subvencionada. A escola ou creche é privada, mas o governo paga um tanto e os pais, outro.
Como aqui funciona pelo sistema paroquial – posto de saúde e escolas têm que ser perto da sua casa – em nosso bairro tínhamos opção de tentar nos inscrever em uma pública e em outra subvencionada. A pública era mais longe e a última, mais perto, e ficamos torcendo para que a vaga saísse nesta. Pode se candidatar qualquer casal, mãe ou tutor, independentemente de sua condição financeira ou situação familiar. Os critérios de desempate são a proximidade com o trabalho, família numerosa (igual ou mais de três filhos), se a criança requer atenção especial, irmãos que já estão matriculados no mesmo estabelecimento, etc. Mas o principal é que os pais trabalhem fora e justifiquem que não terão como cuidar da criança naquele período.
Para se inscrever na creche pública é moleza. Basta preencher os dados e autorizar que os funcionários da prefeitura madrilenha tenham acesso a sua renda e dados trabalhistas; acrescentar cópias da identidade e estamos conversados. Mas na subvencionada você tem que levar todos os documentos e comprovantes possíveis e mais um pouco. Vou poupar vocês das minhas agruras e digamos que o Todo-Poderoso há de se lembrar de tudo que passei e abreviar minha estadia no purgatório.
Feito isso, é esperar e rezar. Ainda bem que o processo é rápido. Em dez dias saiu o resultado e o pimpolho foi contemplado com uma vaga na creche subvencionada. Quanto à pública, não tivemos sorte e nossa candidatura foi rejeitada. Lembrando que na Espanha o sistema público de educação é pago e cada um contribui conforme sua renda. Claro que as escolas/creches/faculdades privadas são infinitamente mais caras que as públicas ou subvencionadas. Comparemos: uma creche particular sai, em média, de 300 a 500 euros; enquanto numa pública ou subvencionada se paga de 96 a 276 euros – não incluído aí o gasto com a comida – por um período de sete horas. Se os pais precisam que a criança fique mais tempo devem justificar e o período pode ser alargado para oito horas e meia. Por outro lado, a jornada não pode ser abreviada. Mesmo que você deseje que a criança fique menos tempo na creche isso não seria possível sob o risco de perder a bolsa.
As grandes empresas costumam dar ajuda ao funcionário e o governo disponibiliza alguns auxílios financeiros para alimentação e material, sempre mediante justificativa. Agora, com a crise, muitas dessas ajudas foram cortadas, o que tem deixado várias crianças em situação de risco.
No entanto, o que mais deixou estarrecida a respeito da creche pública ou subvencionada foi o fato de não haver o período de adaptação tal qual o conhecemos no Brasil. Desde o primeiro dia você deixa o seu filho sozinho na sala de aula por meio período e vai aumentando gradativamente o número de horas. Hein? Quase enfartei! Vou ter que jogar meu filho às feras desde o primeiro dia? Tentei explicar isso para a diretora e até ensaiei um “será que a senhora não poderia dar um jeitinho?”, mas ela foi irredutível.
A explicação deles é simples: se um pai ou mãe ficassem lá, todas as crianças iriam querer que os pais delas também estivessem ali. Segundo essa teoria, quanto mais os pais ficam, maior será o sofrimento da criança. Achei uma crueldade sem fim, mas quem vive fora do país tem que se adaptar a tudo. Para ambientá-lo, levei o pimpolho a uma biblioteca infantil para que ele visse cadeirinhas, livros e interagisse com outras crianças.
Chegou o glorioso primeiro dia. Estava nervosa, mas disfarcei bem. Controlei-me o tempo todo para não chorar e consegui. Quando o levamos para a sala, várias crianças gritavam e meu olho encheu d’água. Por sorte, meu marido o colocou perto de uns brinquedos e ele se distraiu. Fui me despedir e saí arrastada para não chorar na frente dele.
E para o pimpolho? Como foi a experiência? Segundo o professor, ele não chorou, o que é normal para muitas crianças. No segundo dia ficou mais uma hora almoçando lá. Chorou um pouquinho, mas ficou bem e foi assim toda semana até que quatro meses se passaram. Agora, salta do nosso colo direto para o do professor e não quer voltar para casa quando o buscamos. Sobrevivemos.
10 Comments
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Oi ju tudo bom? Tb sou de Niterói e pensando em ir pra Espanha em 2016. Li seu texto sobre as creches. Minha filha tem 11 anos e esta terminando no conhecido e decadente Abel o 5 ano. Vc sabe como são as escolas públicas para ela ai? São boas? Tb precisam ser perto da moradia para a criança ser aceita? Precisamos traduzir documentos ou os Papéis de transferência são aceitos? Tenho a nacionalidade portuguesa e vou tirar pra ela Tb. Isso ajuda? Meu marido é brasileiro. Bjs e obrigada
Oi! Devo me mudar pra Espanha, Madrid, até o final do ano. Estou amando seu site, mas confesso que esse dado de não haver período de adaptação nas creches quase fez meu coração parar de bater. Minha BB tem um ano e nem português fala, tadinha.
Estou pesquisando sobre creches pelo mundo. Preciso ler e ver varias e fazer varias visitas segundo a correspondente do sebrae. Quero criar uma creche.
Oi Juliana,
Minha família irá se mudar para Madrid em janeiro/2017, Tenho dois filhos (8 anos e uma bebê de 1 e 9 meses), estou bem preocupada com a escola do mais velho!
Vc poderia me dar indicação de escolas (estamos pensando em morar no bairro da Salamanca ou no Retiro).
Muito obrigada.
Fabiane
Fabiane, a Juliana parou de colaborar mas temos outras colunistas na Espanha para quem você pode eventualmente redirecionar a sua pergunta.
Obrigada e boa sorte,
Edição BPM
Estou me preparando para conhecer a Espanha mes novembro 2017 e como trabalho com criancas de 4 a 11 anos com dificuldade e transtornos de aprendizagem gosraria de visita escolas referência em Madri que atenda este público. pode dar-me alguma referência sobre algumas escolas?
Olá,
Estou me mudando para Madrid o ano que vem, tenho uma filha de 4 anos, e tenho buscado escolas infantis pela internet, para selecionar algumas para ver quando chegar aí (a princípio privadas mesmo. Depois penso na passagem para a pública, já que ainda não tenho endereço fixo e taus…)
Porém, estou tendo dificuldades em saber como nomear a escola infantil de 3 a 6 anos. Geralmente, quando coloco escola infantil, me aparecm várias opções de 0 a 3 e quase nada de 3 a 6…
Você pode me ajudar, Juliana?
Abraço e obrigada
Olá!
Estou começando meus estudos também e achei este link, espero ajudar de alguma forma.
http://www.easyexpat.com/pt/guides/spain/madrid/escola/sistema-educativo.htm