Custo de vida em Braga no norte de Portugal.
Com a crescente demanda de brasileiros se mudando para Portugal, cresceu em mim a necessidade de explicar a diferença que existe entre morar no Sul, digo Lisboa e cercanias, e morar no Norte, ou como já apresentado aqui: no Minho.
Brasileiros e o sonho de viver em Portugal
Entendo que quando pensamos em mudar de país, cada um traz consigo um escolha pessoal. Seja a busca pela qualidade de vida, seja a tentativa de viver uma aventura (como foi meu caso). Não importa o motivo: o fato é que enchemos as malas de roupa, pegamos o avião, trocamos nossos míseros reais e aportamos em algum lugar. Muitos escolhem Portugal pela ilusão da proximidade com o idioma ou porque existe vínculo familiar. Para quem ainda não fez a escolha, uma dica: as semelhanças param por aí, principalmente no Norte do país.
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Desde que cheguei, percebo que muitos brasileiros chegam aqui com visão deturpada e decepcionam-se com o Minho. Já expliquei que essa região carrega muitas tradições, seu povo é atencioso, recebe bem, mas os brasileiros, posso dizer, sofrem um bocado por aqui.
Sim, a comunidade brasileira cresce diariamente, mas o sonho de morar em Lisboa ou Porto, as duas primeiras opções dos brasileiros, está cada vez mais distante para muitos de nós por causa do valor das moradias.
A verdade é que a comunidade brasileira já é considerada a maior em Portugal, com mais de 85 mil pessoas vivendo aqui, de acordo com dados divulgados pelo SEF em maio de 2018. Ainda segundo a BBC News, os brasileiros, somente entre 2016 e 2017, aplicaram em imóveis mais de R$ 1,22 bilhão. Soma que cresce vertiginosamente desde 2009.
Se até os brasileiros ricos estão trocando Miami, nos Estados Unidos, por Portugal, imagina a classe média! Essa aporta com menos disposição financeira, mas de igual forma despeja sua economia ou reforma por aqui. Conclusão: é impossível andar nas ruas sem que se ouça a voz de um brasileiro.
Mesmo a grande maioria ainda desejando a região Sul, os altos valores praticados nesses mercados têm empurrado os nossos conterrâneos para outras cidades, e Braga tem se destacado. Estima-se que vivam mais de 30 mil brasileiros em Braga, segundo o SEF. Além disso, são mais de 1200 inscritos na Universidade do Minho, um dos principais centros acadêmicos do país.
Custo de vida em Braga
Com essa movimentação, a terceira maior cidade portuguesa tem sido considerada o novo eldorado dos brasileiros. O problema é que o mercado imobiliário daqui também não responde mais a tanta demanda, e os valores triplicaram nos últimos dois anos para desespero dos portugueses.
É muito comum ouvir por aqui que os brasileiros são culpados pelo engarrafamento, pelos preços exorbitantes nos mercados e também pela inflação dos imóveis. Hoje, é impossível alugar um apartamento T2 (dois quartos) por menos de 600 euros em Braga. Perto da Universidade, os valores praticados são ainda mais salgados e, se antes a alternativa era comprar para aproveitar as baixas taxas de juros, agora já não se diz o mesmo. Os preços dos imóveis são o que mais pesa no orçamento, e o governo começa a se preocupar com os valores praticados.
Desde que cheguei a Braga, o que mais me impressionou foi conseguir viver (digo: pagar as principais contas) com o que ganhava como part-time no MC Donalds. Dependendo do mês, ganhava entre 450 e 500 euros e conseguia pagar todas as minhas contas básicas com esse salário. No Brasil, isso seria impossível.
Vivo em um apartamento T1+1 bem no centro de Braga e minha renda (aluguel) não chega a 300 euros. Tive que pagar 4 meses de renda como caução porque não tinha fiador (Hoje, em alguns casos, pedem até um ano de caução. Principalmente para brasileiros). Além disso, precisei mobiliar toda a casa. Nessa brincadeira, foram mais de 2 mil euros.
A luz, o gás e a água, no início, surpreenderam-me porque não entendia muito bem. Em relação à luz, a dica é pesquisar a melhor operadora. Troquei a EDP (que era estatal e foi privatizada) pela Endesa e hoje sou feliz, mas cheguei a pagar mais de 100 euros de conta. É preciso passar a leitura do relógio todo mês pelo site. A água é barata e o gás pode ser de botijão ou encanado. No meu caso, é botijão e pago mais caro, cerca de 30 euros/mês. Outra conta que precisa atenção é a internet e o telemóvel. Com 50 euros é possível ter um bom pacote com tudo incluído.
Dessa forma, consigo pagar tudo com menos de 500 euros, ficando de fora o mercado e a universidade. Outra dica, é prestar atenção aos folhetos dos varejistas. Há sempre boas promoções e as grandes redes dão sempre descontos.
Em relação aos transportes públicos, vale a pena comprar os passes. A passagem custa 1,55 euro, mas com os cartões fica muito mais barato. A cidade não tem metrô, apenas autocarros (ônibus), que funcionam bem e atendem a demanda. No entanto, tem que prestar atenção às coroas (forma como dividem as zonas das cidades), pois o valor difere. Existe a amarela, azul e vermelha. O comboio (trem) é a melhor opção para cruzar o país.
Trabalho, saúde e educação
Outros fatores importantes a considerar são o emprego, a saúde e a educação. Trabalhar por aqui não é fácil. Primeiro, quem vem com visto tem que ter autorização do SEF para retirar o número da segurança social, e agendar horário está cada vez mais difícil. Muitos amigos perderam oportunidades de trabalho por causa disso.
Segundo, não é fácil conseguir trabalho. Por aqui, vigora a lei dos contratos ‘A tempo indeterminado’ e, sobretudo, ‘A tempo determinado’, o que significa dizer que ser efetivado em uma empresa pode levar anos. E se quiser deixar o emprego, uma dica: é preciso dar um mês à casa para quem tem pouco tempo na empresa ou até dois meses, caso a relação trabalhista já contabilize alguns anos. Se isso não acontecer, perde-se um salário, ganhando apenas subsídio natal (13° salário) e o proporcional de férias. Importante: no Norte do país, a maior parte recebe um pouco mais de um salário mínimo, ou seja, aproximadamente, 600 euros.
A vida não é fácil quando se precisa da saúde pública. Aqui, é preciso ter médico de família para usufruir dos subsídios do governo. No entanto, conseguir um em Braga é loteria. Estou aqui há pouco mais de um ano e ainda aguardo. Consultas só no centro de saúde e digo: tem que ter paciência. Como tudo é co-participado, um exame ginecológico é feito a cada dois anos. Mamografias e ultra-sonografia também. Se quiser, pode ir ao particular, mas terá que arcar com valores salgados. As consultas chegam a 70 euros.
Hospital público tem apenas um e a espera por exames e internações pode levar meses, o que a maioria dos brasileiros, que se dispõe a vir para cá, não está acostumada. Recomendação: há seguros saúdes bons e a preços acessíveis.
Já no campo da educação não existe problema. As escolas são boas e atendem às necessidades de todos. Não ouço reclamações, apenas elogios. As escolas particulares também são muito requisitadas por brasileiros, mas como não tenho filhos, não estou ciente dos valores. Apenas sei que nas públicas existe uma taxa para alimentação.
Diante disso, o meu conselho é: antes de vir faça um planejamento sério. Morar em Portugal já não é tão barato e o custo de vida tem aumentado ano a ano. Eles sentem e nós também. Emprego não é fácil e ganha-se menos. Mas se o que se busca é qualidade de vida para a família, aqui com certeza encontrará. O país é calmo, lindo.
Enfim, espero que tenha podido ajudar neste momento tão importante. E se o plano concretizar-se,avise e tomamos um vinho quando chegar.
2 Comments
Boas Dicas! Quem sabe um dia não chego por ai! Abraços
Olá! Agradeço pelas dicas, foi de grande esclarecimento. Fica dica, públique sempre suas informações. Obrigada.