É Natal! Viva a tradição do Minho, em Portugal.
Escrever sobre o Natal não é fácil. Não para uma pessoa como eu, que viveu plenamente a data durante muitos bons anos da vida. Lembro-me perfeitamente dos primeiros contatos que tive com a crença do Papai Noel. Ele não tinha chaminé, contava meu pai, porque onde morávamos o bom velhinho sentia calor e contentava-se em coletar nossas cartinhas em meias penduradas nas janelas.
Sei que não é todo mundo que guarda boas lembranças dessas datas. Mas sou uma privilegiada que, mesmo no auge dos 42 anos, recorda-se a infância com um misto de sentimentos: por vezes, alegres; por outros, saudosos.
O Natal para mim é sinônimo de manjar do avô à mesa, meias na janela a aguardar o Papai Noel e a surpresa do presente, família reunida, muita farra, música, dança, brincadeiras até altas horas da noite. Natal é alegria, é horário de verão, é encontro com amigos na praia para um singular espumante, um brinde ao pôr-do-sol às 20h da noite e com muitos aplausos, é troca de presentes, é amor transbordando para todos os lados, é brincar com as sobrinhas, suar e poder cair no mar porque a água está quetinha e todos banham-se à luz da lua. Isso é Natal.
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Hoje, não posso dizer que perdi a magia. De jeito algum! Apenas aprendi que Natal rima com companheirismo, família minha sendo construída, alguns novos elementos, outras formas de comemorar, muito frio e chuva, uma gastronomia diferente, e quilos a mais (infelizmente).
O que mais sinto é que já estou há três Natais longe de minha família no Brasil. Para mim, é estranho. Sinto falta, muita falta. Sei que preciso aprender a relativizar. Sei que a escolha que fiz há dois anos foi necessária e trouxe frutos dos quais não abro mão. Porém, é difícil. Por isso, o texto; por isso, a vontade de expor esses sentimentos.
Espero que todos possam, um dia, fechar os olhos e sentir essa saudade boa. Até porque sentir saudade é puramente nosso, uma vez que somente a nossa língua possibilita traduzir a falta de alguém de uma maneira tão fraternal e próxima. Aqui, em Braga, Natal tem outro sentido: é a tradução do amor, da paixão, de minha casa, de um banquete de guloseimas portuguesas, bacalhau, vinho tinto maduro posto ao lado da lareira para ficar na temperatura certa.
Este ano, quero mais dessa data. A tradicional cartinha para o Papai Noel (sim, eu escrevo todos os anos) terá um pedido especial: pedirei uma estrelinha a mais em minha árvore e que sua magia entre em minha casa travestido de amor paternal.
Fora os sentimentos que trago a respeito dessa época e a vontade de trocar o frio pelo calor brasileiro, há algumas tradições portuguesas que gostaria de pontuar para os que desejam conhecer o natal minhoto. Por isso, descrevo abaixo alguns ritos típicos desta região de Portugal.
As tradições natalinas no Minho
Se quiser passar Natal no Minho, a primeira dica é: venha preparado para a chuva e o frio. Em algumas regiões pode nevar, logo proteja-se. Em Braga, infelizmente, este fenômeno é raro acontecer. Mesmo assim, as temperaturas chegam a zero graus e, à noite, baixam ao negativo.
A segunda dica é: se não estiver chovendo e estiver em Braga, vá tomar um moscatel acompanhado por uma banana no Bananeiro. A pequena loja fica na Rua do Souto, bem no centro da cidade. É tradição nesta época beber um moscatel entre amigos. A rua fica lotada! O frio não impede ninguém de cumprir este rito.
Falar de Natal no Minho é referir-se a uma consoada (ceia familiar) típica com bacalhau e polvo cozido com batatas, rabanada, bolo rei e aletria. É bem verdade que o bacalhau reina soberano em grossas postas assadas regadas com muito azeite, acompanhado por alho, cebola e legumes. Tudo isso enquanto se espera pela hora da Missa do Galo.
Nestas noites, a família reúne-se em frente à lareira e come-se em fartura. Há também muitos frutos secos e queijos de todos os tipos. No fim da refeição, não se levanta a mesa para que as alminhas e os anjos possam saciar-se. Para o dia 25, o almoço minhoto é preparado com as sobras de bacalhau da noite natalina. Logo, come-se a roupa velha ou farrapo velho, em que se mistura couve, ovos, legumes cozidos e lascas de bacalhau com muito azeite. Fica uma delícia!
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Por esses dias, experimente caminhar pelas aldeias (pequenas vilas). As casas estão sempre iluminadas e todos se reúnem em volta da mesa. Nesses lugares, é comum as portas estarem abertas para que os vizinhos possam juntar-se à consoada. Muitos cantam pelas ruas e seguem em pequenas procissões para as igrejas. É bonito de se ver.
Dentro das casas, a decoração é tradicional: presépios e árvores de natal, meias nas lareiras, enfeites natalinos nas portas e um detalhe enriquecedor: a toalha da mesa é em linho, guardada o ano inteiro a espera deste momento. Por aqui, também se tem a tradição da troca de presentes entre familiares, e é possível participar de um amigo secreto nas empresas e entre amigos.
Para mim, o Natal aqui ganhou novas cores e perspectivas. Sinto falta do calor e da agitação carioca, mas amo o que encontrei no Minho, em Portugal. Convido a todos que venham conhecer a região e possam sentir o cheiro da lenha queimada, aproveitar o frio e beber um bom vinho, além de provar algumas de nossas tradições. Não esqueça de bater um bom papo nas ruas das cidades ou nas aldeias. O Minho é encantador e nesta época fica especialmente mágico. Faça como eu: escreva uma carta para o Papai Noel e deixe-se viver esta plenitude. Feliz Natal!