Depois de passearmos por Varanasi, Mumbai, Goa e Calcutá, nada mais apropriado do que terminarmos este breve giro pela Índia em Nova Délhi — a capital indiana, onde a minha participação no BPM começou.
Destino menos provável para aqueles que sonham conhecer a Índia, Délhi, no entanto, é praticamente inevitável. Sendo uma das principais portas de entrada para todo o país, conecta norte a sul e leste a oeste. Quem se aventura por estas terras, dificilmente escapa de algumas horas no aeroporto local ou, até mesmo, de um dia inteiro entre voos.
O que fazer então? Aproveitar!
Délhi, como outras capitais, possui uma cultura mais cosmopolita, uma atmosfera estressante, capitalista. Alguns consideram esse tipo de experiência distante da que esperam ter no país. Ainda assim, a capital indiana é tão fascinante quanto se possa esperar.
Com os raios de sol ainda tímidos, os vendedores de chá espalham seus aromas pelas ruas e os comerciantes preparam-se para um novo dia — esta é a hora para se estar na parte velha da cidade, a chamada Old Delhi. Entre construções deterioradas pelo tempo, sujeira, caos, entre o barulho das buzinas e a multidão que aumenta à medida que a manhã avança, podemos ver as cores e sentir a verdadeira alma da Índia, o que faz a cidade pulsar.
Comece pela rua principal, Chandni Chowk, onde às oito da manhã já estão a postos vendedores de chole bhature, o café da manhã tradicional de Délhi, composto por um pão frito e grão-de-bico cozido e bem condimentado. Desvie dos homens que se lavam em baldes e torneiras nas calçadas. Dos bodes e cabras sendo alimentados. Das vacas que disputam espaço com pedestres, carros, bicicletas, motos…. Um passeio com duração de quatro horas em um cycle-rickshaw – tipo de charretes puxadas por homens em bicicletas – é uma boa forma de se conhecer as intricadas alamedas. O roteiro deve incluir a visita ao mercado de especiarias – o Spice Market –, a uma das maiores mesquitas da Índia – a Jama Masjid – e ainda ao forte de onde foi anunciada a independência do país em 1947 – o Red Fort.
Guias informais, os cycle-rickshaws encontram-se estacionados em vários lugares do centro antigo, principalmente nas saídas das estações de metrô. Contrate o serviço na hora. E atenção: muito embora o pagamento deva ser feito ao final, não esqueça de negociar o preço antes do passeio começar.
Tratando-se apenas de um dia, convém evitar os acidentes gástricos, as infecções estomacais por conta de comidas contaminadas ou temperos muito pungentes, como a pimenta. Por isso, chegada a hora do almoço, deixe a velha cidade para trás e siga em direção a Nova Délhi, a parte da capital inaugurada em 1931 pelos ingleses para acomodar a sede de seu império na Índia.
Com inúmeros restaurantes, o mercado Khan Market oferece boas opções de cardápios ocidentais a preços acessíveis. Um bom exemplo é o restaurante Smoke House, com comidas mais próximas a nosso paladar. Já o Soda Bottle Opener Wala reproduz o ambiente dos cafés Parsis de Mumbai, com uma culinária que se desenvolveu a partir das tradições dos imigrantes iranianos na Índia. Entre os pratos mais populares do restaurante estão o berry pulao, um arroz com especiarias e frutas secas, e o dhansak, um ensopado feito com lentilhas, legumes e especiarias — ambos em versões vegetarianas ou com diferentes carnes.
Além dos restaurantes, no Khan Market encontra-se ainda uma seleção das melhores lojas de Délhi, assegurando no nosso roteiro um momento também para as compras.
No portão principal do mercado pegue um auto-rickshaw – popularmente conhecido como tuk-tuk – um veículo de três rodas utilizado como taxi para distâncias curtas. Siga então para o nosso próximo destino, que, na minha opinião, será o ponto alto do dia — Lodi Gardens.
A alguns minutos do Khan Market, Lodi Gardens é um jardim imenso com ruínas da época dos Mogóis, imperadores muçulmanos que governaram a Índia entre 1526 e 1857. Entre construções magníficas e um paisagismo primoroso, famílias indianas fazem piqueniques sobre gramados nos finais de semana, enquanto casais de namorados tiram proveito da atmosfera romântica do lugar. Um cenário belíssimo, que sempre resulta em fotografias extraordinárias.
A partir de Lodi Gardens, um outro tuk-tuk pode nos levar até o Gandhi Smriti, um museu dedicado à memória de Mahatma Gandhi, na casa onde foi assassinado. A atmosfera do local é tocante, e o silêncio parece ecoar os sonhos do grande líder. De lá, seguimos de taxi em direção à avenida Rajpath para uma breve visita ao Portal da Índia – o arco do triunfo construído em memória dos soldados que lutaram na Primeira Guerra Mundial, um dos marcos que faz a cidade de Délhi ser reconhecida em todo o mundo.
Terminamos o dia na hipster vila de Hauz Khas, com suas alamedas cheias de galerias de arte, lojas encantadoras e inúmeros bares. O pôr do sol do terraço do Social, um bar que se destaca pelos coquetéis deliciosos e criativos, faz valer a pena uma corrida de taxi mais longa até o bairro.
Hauz Khas foi o lugar escolhido por amigos para me apresentar à Délhi, logo que aqui cheguei. Somente depois de ultrapassar a confusão do trânsito, o turbilhão das gentes e o lixo nas ruas pude encontrar o lago, cercado pelas ruínas Mogóis de uma escola, uma mesquita e três pequenos pavilhões. Um cenário que pode ser admirado de cima, do terraço do Social, e que para mim, naquele dia, parecia irreal de tão belo.
A Índia é assim, cheia de contradições, e Délhi não poderia ser diferente. Seja vivendo aqui, seja em um passeio de apenas um dia, o inesperado é sempre parte do roteiro — desafia, encanta e, acima de tudo, faz deste país uma experiência única.