Após tantos depoimentos emocionantes descrevendo a celebração do Natal em diferentes partes do mundo me sinto constrangida por continuar falando deste assunto. Infelizmente, porém, tenho que insistir no tema, porque na Espanha, o Natal começa na última sexta-feira de novembro com a iluminação das ruas e termina no dia 6 de janeiro.
Por isso tenho que contar para vocês como é a comemoração do dia de Reis neste canto da Península. É importante observar, que apesar do número absurdo de festejos que acontecem nestas terras, não existe “a” festa como o nosso Carnaval ou as festas juninas. Aliás, penso que é a única data em que o país inteiro para e comemora junto é o 6 de janeiro.
Como narrei no meu relato natalino, quem traz os presentes na Espanha são os Reis Magos. O Papai Noel quase não é visto nas decorações e na ceia do dia 24 se trocam lembranças especialmente entre os adultos, pois a criançada espera ansiosamente por Gaspar, Melchior e Baltazar.
Durante todo o mês de dezembro nos mercadillos e nos grandes centros comerciais sempre há um embaixador (ou um pajem ou os dois juntos) dos Reis Magos que recebem as cartas com os pedidos das crianças. Às vezes é possível encontrar os próprios Reis Magos e aí se formam filas imensas para fazer fotos e entregar cartinhas.
A festança propriamente dita começa no dia 5 de janeiro com a Cabalgata. Trata-se de um desfile onde participam diferentes instituições como clubes de futebol, canais de televisão e empresas diversas que montam um carro alegórico, fantasiam meia dúzia de pessoas que jogam balas para a multidão. Diferente do desfile das escolas de samba, aqui cada carro alegórico tem sua própria música e, de vez em quando, os quesitos evolução e harmonia ficam comprometidos. Mas ninguém está interessado nisso, pois todos estão mais preocupados em catar as balas que caem e há quem leve sacolinha para pegar mais, quase como um São Cosme e São Damião.
Desta maneira, no dia 5 de janeiro, não há cidade na Espanha que não organize sua Cabalgata para recepcionar os três e desde o final do século 19 há registro sobre este costume. Nas cidades grandes, como Madri, elas são organizadas por bairros, mas com direito a Cabalgata oficial pelas principais ruas da cidade. Em municípios menores, como Alcalá de Henares, a prefeitura banca uma só culminando na praça mais cêntrica.
Os últimos a aparecerem são os Reis Magos montados em seus camelos para delírio dos pimpolhos. Em alguns lugares eles são recebidos pelas autoridades locais, leem uma mensagem de paz e amor, e finalmente, acontece uma grande queima de fogos de artifícios. Aqui em Madri também é realizado um concerto após o desfile, no Palácio Cibeles.
Mas a festa não terminou. Depois, todo mundo vai pra casa, beber chocolate quente e comer o Róscon de los Reyes, um pão decorado com frutas cristalizadas que imita uma coroa. Há duas versões: recheada com creme (os espanhóis adoram um chantilly!) ou sem recheio. Dentro do Roscón está escondido um brinquedinho e quem o encontrar terá que pagar o doce no próximo ano. Esta tradição é obervada em outros países europeus como a França e foi levada pelos espanhóis para suas antigas colônias como o México tal qual foi descrito pela Fernanda, aqui no blog.
Em seguida, a criançada verifica se está tudo certo para receber os Reis Magos. Não basta apenas colocar o sapatinho: é preciso deixar água e palha para os camelos. Afinal, os bichinhos empreendem uma grande jornada e tem que ser alimentados para aguentar a viagem. No dia seguinte, as crianças que se tiverem se comportado bem durante o ano ganharão os presentes pedidos e já as que se comportaram mal receberão carvão. Sobram histórias de gente que ganhava as duas coisas…
Dia 6 de janeiro é feriado nacional e todo mundo fica jogando com seus novos brinquedinhos até enjoar. Melhor dizendo, até a próxima segunda-feira útil do ano, pois acabou o recesso de Natal, o Ano Novo já está ficando velho e a rotina se reinicia. Como deve ser.
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13 Comments
Muito legal… nao sabia que o dia de reis era celebrado com tanta euforia… adorei… parabens pelo texto.
Juliana, parabéns pelo texto!
Adorei conhecer a tradição daí, e é mesmo os países colonizados pela Espanha tem mesmo essa tradição, vivi no México e o Dia de Reis é muito importante mesmo,mas sabe que aqui na França também temos a tradição do bolo de com um brinquedinho dentro e quem ganha é o ” reizinho” do dia! Ano passado quase engoli o brinquedinho, mas acho que foi mesmo para me darem bias vinda!
Beejos
Que bom que apesar de já estarmos no meio de janeiro, ainda podemos lembrar o espirito natalino , o brilho das luzes e a magia desta época que todos gostaríamos que se estendesse por muito mais tempo ate o próximo ano, Parabéns pelo texto,bjs.
Obrigada, queridas! De fato é reconfortante para o espírito curtir um pouco mais do Natal. Sem falar que o “roscón” é uma delícia! Nham!
Muito bom o texto, Juliana 🙂 E obrigada por linkar o meu post! Aqui , como já havia dito os reis magos são muito celebrados e esperados. A rosca de reyes ( aí na Espanha Roscón) aqui não acho muito saborosa não. Mas semana passada tive a oportunidade de provar a rosca francesa que achei deliciosa. É recheada com um creme de nozes divino. Yumm. Realmente só não gosto desses bonecos desgraçados escondido dentro rsrs. Besitos!
Minha avó materna é filha de espanhol, por isso dia de reis sempre teve um significado pra gente. Não como na Espanha, é claro, mas era dia de desmontar a árvore e outras coisinhas…
Já aqui na Bélgica a gente tem o mesmo hábito do Roscon, mas aqui se chama galette! 🙂
Fernanda, obrigada a você. Com tanta discussão sobre colonização existem hábitos tão arraigados que nem nos damos conta. Bia, eu provei a galette de rois quando estive em Paris e adorei tb. Mas sou suspeita porque adoro doces… 😉
Muito interessante conhecer este ritual de dias dos magos ao invés de dia de natal em um pais católico, moro ha mais de 120 anos na Europa e não sabia desta diferença! Espanha pra mim sempre foi verão, ferias ou arte e cultura, sei pouco sobre as tradições! Adorei!!!!!! e ja marquei o links do seu blog pra ler com mais tempo!!!!!!! Não conheço ainda Madrid, quem sabe não seda a minha próxima voada de fim de semana prolongado? rsrsrsr bjus querida! e Parabens
Oi Juliana, sou paulista, casada com um madrilenho ha 10 anos e morando na Espanha ha 1 e meio, minha cunhada morava em Alcala e tb tenho filhos na idade de reis e etc. Acho que para uma carioca o estilo de vida eh mais parecido, para mim eh estranho encontrar as pessoas na rua em vez de uma coisa mais intima em casa. Mas ADORO os estilo direto dos espanhois, detesto chegar no Brasil e ter que lidar com aquela incerteza do ” a gente vai se falando ” e ” vamos ver”. Ou quer ou nao quer e nao empate mais o meu tempo, nao eh uma palavra feita para ser usada. Gostei dos seus posts, principalmente nessa semana que vou me apresentar na policia para a nacionalidade. Aiii que preguica, como diria Macunaima.
Abs
Diana
Oi, Ana Cristina !! Que bom que meu texto te ajudou a conhecer mais a Espanha. Eu tb viajo (não literalmente, pena) pela Suíça com os seus. Se você vier por estas bandas vamos tomar um vinho (!!) juntas. Abraços, Juliana
Oi, Diana! Tudo bem ? Concordo com você. depois que aprendemos a diferenciar que é direto e quem é “grosso” (porque los hay, los hay), a vida se torna bem mais simples! Obrigada pelo seu comentário e espero que tenha saído tudo bem para você obter sua nacionalidade. Abraços!
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