Muito além da língua falada, um outro ponto importante a ser tomado em consideração quando se faz graduação em outro país são os costumes. Coisas ou atitudes com as quais estamos acostumados no nosso país de origem – e que muitas vezes nem sequer pensamos sobre – podem ser estranhas no novo meio acadêmico ou até pegar mal. Como alguém que começou o Bacharelado no Brasil, terminou em Portugal e agora faz Mestrado na Alemanha, vi/vejo contrastes interessantes e até engraçados. Claro que é impossível checar os hábitos de cada um dos inúmeros estudantes e docentes do país, mas, falando de maneira geral, alguns tipos de comportamento corriqueiros no Brasil são aqui quase que inimagináveis. Por isso, as vezes é preciso prestar atenção para não pagar mico. Aqui vão alguns exemplos mundo acadêmico na Alemanha.
1. Falar só quando for chamado
Claro que não conheço todas as universidades do Brasil, mas uma coisa que sempre presenciei foi como os alunos simplesmente começam a falar ou questionar sem esperar sua vez, muitas vezes interrompendo o professor. Tanto na Alemanha quanto em Portugal, notei que ninguém fala/pergunta nada sem antes levantar a mão e esperar que seja chamado. Muitos até mesmo desistem e não interrompem de maneira alguma, caso o professor esteja olhando para um outro lado e não veja o aluno tentando chamar a atenção. Pega mal começar a falar alto até que o outro escute, interrompendo o docente ou mesmo outro estudante.
2. “Aplausos”
Há muitas peculiaridades em relação aos gestos na Alemanha. Por exemplo, quando querem desejar sorte a alguém ou quando querem dizer que uma pessoa é meio louca. Mas uma diferença engraçada e específica do meio universitário é como praticamente toda aula ou palestra termina em “aplausos”, só que uma maneira diferente. Ao invés de aplaudirem com as mãos abertas como conhecemos, o que acontece são batidas na mesa, tipo socos, com o punho fechado – igual como batemos em uma porta. Isso é uma maneira de agradecer e é um costume comum por todas as partes do país.
3. Formalidade
No Brasil, é muito comum chamar todo mundo pelo primeiro nome, sem grandes formalidades. E com os professores universitários não é diferente. Abraços ou até beijos no rosto dependendo da situação também não são raros, além de diversas vezes já ter presenciado estudantes e docentes organizando festas e churrascos juntos ou indo ao bar para tomar uma cerveja depois da aula. Repito que é impossível checar o relacionamento de cada um dos inúmeros estudantes e docentes alemães, mas esse tipo de relacionamento super pessoal é, de maneira geral, algo inimaginável na Alemanha. Aqui os estudantes sempre se dirigem ao professor de maneira formal, tanto na linguagem oral quanto na corporal: falar na terceira pessoa, chamar pelo sobrenome e sem muitos toques além de um aperto de mão.
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4. Importância da nota
Outro ponto importante que percebi aqui é o quanto os estudantes se importam demasiadamente com a nota final. Não que no Brasil seja algo sem importância, mas acredito que tenha um outro valor. Percebo nos estudantes brasileiros que o principal seja adquirir experiência prática, enquanto os alemães valorizam muito a teoria e os trabalhos/provas feitos dentro da academia. Talvez seja um costume adquirido já na escola, uma vez que a nota decide se o aluno vai poder estudar o que deseja posteriormente na universidade. Por exemplo, apenas os melhores alunos do ensino médio alemão podem fazer os cursos mais concorridos (como Medicina ou Direito). Por sua vez, a nota dos brasileiros não conta muito, já que é necessário fazer uma prova extra para o ingresso na graduação.
5. Férias?
Essa é uma das diferenças que menos me agrada. Aqui, muitas vezes é necessário escrever longos trabalhos no fim do semestre, principalmente nos cursos de ciências humanas – os famosos Hausarbeiten. Ou seja, vários alunos (inclusive eu) acabam não tendo férias completas entre um semestre e outro. Apesar de não ter aulas, não há outra saída além de fazer a pesquisa e escrever o trabalho nesse período “livre”. Nessa época também acontecem as provas escritas e orais.
6. Liberdade
Fazer uma graduação na Alemanha é, de fato, muito puxado. Os professores são muito exigentes e não levam o aluno “pela mão” para ajudar ou facilitar a vida – o que também remete ao ponto 3. No entanto, o que noto aqui é como os estudantes são livres para escolher as aulas que querem assistir e quando querem assistir, sem um itinerário pronto para cada semestre. Além disso, muitas universidades não tem uma obrigação de presença na sala de aula, ou seja, assistir a aula pessoalmente é (dependendo da faculdade) opcional.
7. Semestres inverno/verão
Diferente do Brasil, que tem o ano letivo de janeiro a dezembro, aqui os semestres duram de meados de outubro a março (semestre de inverno) e de abril a setembro (semestre de verão). Em algumas escolas superiores técnicas, os semestres começam e terminam um mês antes.
8. Preparação
Na Alemanha também é muito importante a preparação prévia. Se espera que os estudantes vão para a aula já com algum conhecimento do tema abordado, ao invés de aprender apenas na hora em que o professor apresenta. Para isso, muitos materiais são disponibilizados com antecedência online.
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