A minha história com a Alemanha e seu povo não começou apenas em 2014, quando me mudei definitivamente para Berlim. Iniciou ainda antes, em 2012, quando saí do Brasil para estudar em Portugal. Claro que nem eu mesma esperava por isso, mas, por algum motivo, os alemães começaram a fazer parte da minha vida desde o princípio da minha jornada no Velho Continente. Coincidentemente, já nas primeiras semanas em Lisboa, conheci os primeiros germânicos. A partir daí, conhecendo amigos de amigos e visitando o país com certa frequência em virtude disso, o círculo de amizades só foi crescendo – claro que não formado apenas por pessoas da Alemanha, mas maioritariamente.
Olhando pra trás, percebo que foram eles quem fizeram eu me sentir tão bem-vinda nesse lado do oceano. E olha que eu não falava nem 1 palavra do idioma. Com certeza, os laços fortes que formei com essas pessoas foram um grande empurrão na minha decisão de deixar Portugal e viver na Alemanha. Enfim, com essa “introdução” tenho a finalidade de mostrar que tenho convivido com esse povo há quase sete anos – incluindo pessoas de diferentes estados do país, como Hesse, Baviera e Turíngia, e não apenas Berlim, onde moro atualmente.
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Parando para refletir, percebo também que, apesar de qualquer perrengue vivido nessa vida de imigrante, aprendi e muito com as pessoas daqui. Não que seja assim para todos, claro que não. As pessoas e, consequentemente, suas vidas, são muito diferentes umas das outras. Além disso, tudo também depende muito de com quem vamos encontrando pelo caminho. No entanto, essa é minha experiência e história pessoal. Para mim, focar na positividade é essencial nessa (muitas vezes difícil) jornada de expatriada. Gostaria, portanto, de contar um pouco do que aprendi com vocês:
1. Respeito e amor ao silêncio
Por aqui, a questão do silêncio é levada bem a sério. É praticamente algo sagrado – principalmente aos domingos. Normalmente, a regra nos condomínios é de que, das 22h às 7h, não se tem permissão para fazer barulho. Arrumar os móveis pela casa, pular ou escutar música alta? Nem pensar! Do contrário, os alemães reclamam mesmo e, não raro, chamam a polícia. Aos domingos e feriados, a lei do silêncio vale para o dia inteiro. Além disso, de maneira geral, os alemães também falam entre si com voz mais baixa. Nas ruas e nos meios de transporte, por exemplo, é bem notável a diferença em relação ao Brasil. Pessoalmente, acho uma maravilha ter essa garantia de “paz” e valorizo demais o respeito à regra. Por isso, além de aprender a respeitar o silêncio, passei a amá-lo e não me imagino mais sem essa conscientização.
2. Faça você mesmo
Outro ensinamento valioso é a cultura do “faça você mesmo”, tão presente na Alemanha. Montar os próprios móveis, fazer as unhas e/ou cabelo, reformar a casa, consertar o que não mais funciona, jardinagem, limpar a casa e tantas outras tarefas: tudo é feito sem auxílio, independente de gênero ou de classe social. Isso é bem diferente no Brasil, onde geralmente contrata-se pintores, empregadas domésticas, jardineiros etc. Além de economizar, esse estilo de vida alemão poupa recursos e proporciona àquele que executa a oportunidade de criar algo único e pessoal.
3. Praticar idiomas
De maneira geral, os alemães têm bastante interesse em relação a outras culturas e, consequentemente, as línguas não ficam para trás. Observo isso desde o começo da minha interação com eles, lá em Portugal, e admiro a certa facilidade que eles têm. Com eles aprendi, também, a me esforçar mais nesse sentido e a não ter medo de errar. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que os germânicos já começam com a vantagem de que na Europa há mais possibilidades do que no Brasil de entrar em contato com diferentes línguas.
4. Exigir respeito
Essa foi, sem dúvidas, uma das experiências mais marcantes da minha vida. Já na minha primeira vez na Alemanha, ainda em 2012, fui a uma festa com duas amigas e lembro de ter ficado incrivelmente surpresa por ter passado a noite inteira aproveitando tranquilamente: sem ter que ficar constantemente em alerta e me esquivando de homens. A partir desse dia me dei conta de como a mulher brasileira não está acostumada a uma vida sem assédio. Simplesmente sair (principalmente à noite) sem se preocupar, independente da maneira que esteja vestida ou de como esteja se comportando, parece inimaginável em terras tupiniquins. Aqui, aprendi não apenas que isso é possível, mas também que não posso admitir que tirem minha liberdade.
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5. Lutar por direitos
Fazendo um gancho com o ponto anterior, por aqui também aprendi a lutar muito mais fervorosamente pelos meus direitos de maneira geral. Com certeza, há também no Brasil muita gente que milita e luta pelo que acredita. No entanto, pessoalmente, foi na Alemanha onde mais aprendi que não se deve esperar para colocar a “boca no trombone”. A memória histórica desse país é algo muito presente, não só apenas nas escolas e outras instituições de educação, mas até mesmo nas ruas e no cotidiano das pessoas. Isso faz com que o povo não esqueça dos erros do passado e lute para que o país progrida. Sendo assim, política é assunto a todo momento, em qualquer lugar e entre todas as faixas etárias. Mesmo times de futebol, artistas famosos e grandes empresas têm uma opinião política bem clara. Nesse sentido, manifestações e protestos acontecem com muita frequência e até mesmo livros infantis tematizam e incentivam a questão da luta por direitos.
Como essa lista ainda se estende, em breve vem a segunda parte! Enquanto isso, compartilha com a gente: o que você aprendeu no novo país?
3 Comments
Eu tenho uma curiosidade, o pessoal ai na Alemanha não te fala muito que você não se parece brasileira por causa da sua aparência?? Eu não sei pq mas tem alguns gringos que acham que no Brasil td mundo é negro kkk
Olá Bruno! Obrigada pelo comentário e pelo interesse no artigo.
Então, essa pergunta não se encaixa muito pra mim porque os alemães sempre sabem, de antemão mesmo, que sou latina 😀 Não necessariamente brasileira, mas a maioria “adivinha” que sou de algum lugar da América do Sul e, não raro, começam a falar em espanhol comigo hahaha. Não sou negra, mas tenho traços que, para eles , são típicos da região (provavelmente devido à descendência indígena). No entanto, conheço brasileiros que têm traços europeus e eles, sim, passam pela situação que você descreveu! Muito interessante isso 😀
Olá Nathalia. gostei muito do seu artigo.
Gostaria de saber mais sobre a região de Obersuel (Taunus).Para onde irei em breve ,primeiro para visitar depois para morar.
Obrigada.