Você está preparado para dirigir na África do Sul, do “lado errado”? Brincadeiras à parte, eu acho que a mão inglesa é o maior desafio para brasileiros ou qualquer pessoa que venha de um país que não tenha esse sistema. E, como isso na verdade é mais fácil do que parece, eu diria que não é complicado dirigir por aqui!
Documentação
África do Sul e Brasil são signatários da Convenção de Viena (1968), portanto, a CNH brasileira é aceita aqui, até a data de validade do documento (ao contrário da maioria dos países, que a aceita por 180 dias), desde que a pessoa não seja residente. A partir do momento em que um estrangeiro obtenha residência permanente, é exigido converter a habilitação para a sul-africana no prazo de um ano.
Um detalhe muito importante, frequentemente ignorado pelos turistas brasileiros e pelas locadoras de veículos, é que a CNH precisa ser acompanhada de tradução. Ou seja, se um policial te parar, é necessário apresentar adicionalmente a PID (Permissão Internacional para Dirigir) ou a tradução oficial feita pela embaixada ou consulado brasileiros na África do Sul. Muita gente se arrisca e dirige por todo o país sem o documento, há guardas que não se importam, mas eu prefiro seguir a lei, e por isso solicitei o meu no Detran antes de vir para cá.
Trânsito
A “qualidade do trânsito” depende muito da cidade e eu acho que, na média, é tranquilo dirigir por aqui. Eu diria que o estilo em Johannesburg é parecido com o de São Paulo mas sem as motos, e com a adição das lotações com motoristas doidos. Na minha cidade, Potchefstroom, o pessoal dirige muito mal, não prestam atenção por estarem o tempo todo no celular, e usam excesso de velocidade em locais bem desnecessários. Há outras regiões em que se dirige extremamente devagar, o que também é irritante e perigoso (estou falando de 60 km/h em estrada com limite de 120).
Em geral, a grande maioria respeita as leis de trânsito, mas é necessário atenção sempre, principalmente com caminhões. As estradas normalmente são de boa qualidade, há obviamente as exceções bem esburacadas, e a maioria possui pista simples (de mão dupla). Acho que, em torno dos quase 10 mil quilômetros de estrada que peguei por aqui, uns 80% era assim.
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Com relação à parte prática da mão inglesa, meu esposo me ensinou uma dica que funcionou muito bem: curva para a direita é “grande”, e curva para a esquerda é “pequena”. Isso me ajudava a saber para qual lado eu tinha que ir ao entrar em outra rua, dúvida bastante comum no começo.
Uma outra regra importante a qual não estamos acostumados é a “4-way stops”, presente tanto na estrada quanto na cidade. É quando há placa de pare em todas as quatro direções de um cruzamento. Primeiro ponto: quando você vir uma placa de pare, pare! Mesmo que não esteja vindo ninguém. E, após parar, a ordem para seguir viagem é: primeiro que chega, primeiro que sai. Ou seja, o primeiro carro que chega na linha do pare é o primeiro a atravessar o cruzamento, independentemente de qual direção veio. Inicialmente, eu tinha pânico dos cruzamentos, pois é necessário ver todos os carros que chegaram antes de você, para saber qual é a sua ordem na fila. Com o tempo isso fica mais automático, e hoje em dia eu não olho quem chegou primeiro e sim quem está logo atrás dos primeiros, porque tenho mais tempo de me concentrar, e sei que posso ir antes deles pois irão me esperar passar.
A rotatória é outra aventura: a circulação é ao contrário da brasileira, ou seja, no sentido horário. Às vezes eu precisava parar o carro para pensar caso a rotatória estivesse vazia, por não saber para qual lado ir. Mas lembre-se: é para a esquerda, no sentido do relógio!
Carros
Não bastasse o sentido contrário da rua, as posições dentro do carro também são! Eu nunca havia parado para pensar nisso antes. O motorista senta no lado direito, assim como a chave de seta é invertida na maioria dos carros.
Ainda não consegui me acostumar com isso: quando quero dar seta, ligo o limpador de para-brisa, e vice-versa. No início, eu sempre ia até a porta do motorista para entrar no veículo quando pegava carona com alguém, e a pessoa ficava com cara de interrogação. Mas o mais engraçado era olhar os carros no trânsito e achar que tinham motoristas-fantasmas, pois eu olhava o banco do “motorista”, que na verdade é do passageiro, e me assustava quando estava vazio!
Por todas essas características diferentes, muitos turistas preferem alugar carro automático, para não ter mais um detalhe para pensar. Isso porque o câmbio também fica do lado contrário, obviamente! Então é necessário trocar as marchas com a mão esquerda. Acho que essa foi a única adaptação 100% fácil para mim, talvez por eu ser canhota. Mas até hoje só dirigi carro com câmbio manual por aqui sem problemas, desde os compactos até os bakkies! Bakkie é o nome localmente utilizado para caminhonetes, uma das poucas palavras em africâner que adotei em meu vocabulário.
Locadoras
Já que falamos em turistas e locadoras, queria deixar umas dicas para aluguel de carros. Os aeroportos possuem todas as grandes locadoras, mas nós gostamos particularmente da Bidvest, companhia sul-africana. Eles são enormes no país e normalmente seus carros saem mais em conta do que nas concorrentes internacionais. Outras empresas com bons preços são a Avis e a Budget.
Considerando que a África do Sul não tem um bom sistema de transporte público (para não dizer quase inexistente), a locação de carros acaba sendo a forma mais barata de se locomover por aqui, principalmente porque as principais atrações são bem distantes entre si. Entre Johannesburg e o Kruger, por exemplo, são mais de 400 km. Se você for fazer a Garden Route, são 750 km entre Port Elizabeth e Cape Town. O aluguel na categoria mais barata sai menos de R$ 100/dia. De Johannesburg para Cape Town já não compensa, pois estamos falando de 1.300 km, de avião são duas horas.
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Uma dica importante é verificar se você está alugando o carro como motorista internacional. No site da Bidvest há essa opção quando se cota o carro. Já nas locadoras internacionais, é necessário cotar no site brasileiro ou algum outro, também internacional. Mas por quê? Porque os locais (sites com final .co.za) normalmente não oferecem quilometragem livre, e no final a locação sai mais cara se você rodar mais de 100 km por dia (em média)! Muita gente usa o rentalcars.com, já tive problemas com eles quando precisei cancelar uma locação na República Tcheca, mas costuma funcionar bem.
Os carros normalmente estão em ótimas condições. Para a categoria A, em geral o oferecido é o Kia Picanto, categoria B é o Hyundai i10 (parecido com o HB20) ou Ford Fiesta, e categoria C é o Toyota Corolla.
Espero que essas dicas ajudem os que vierem se aventurar nas ruas sul-africanas!