Quando eu decidi me arriscar e adquirir experiência de trabalho e procurar emprego na minha área, no Canadá, veio a pergunta: o quê fazer a partir daí? Qual o primeiro passo? Aqui vai a minha primeira dica: conversar com as pessoas! Não fique tentando reinventar a roda. Falei sobre a minha decisão para o meu orientador no exterior (de quando fiz o doutorando sanduíche no Canadá) e ele me indicou uma ex-aluna sua que trabalha numa organização internacional na área anticorrupção (minha área de pesquisa) e lá fui eu ter a minha primeira conversa por Skype (até hoje já foram várias, tenho inclusive hoje acordei cedinho para mais uma conversa profissional online).
Busque pessoas que trabalham na área que você gostaria de trabalhar, que fazem o que você gostaria de fazer. Busque indicações de amigos, familiares, professores, chefes… A maioria está sempre disposta a ajudar. Aquela primeira conversa foi um divisor de águas pra mim. Entendi como a minha área de pesquisa é difícil e concorrida, como a construção de uma rede de contatos é importantíssima, como fazer um estágio pode ser o primeiro grande passo para uma carreira internacional (e que muitos estágios aqui fora não são remunerados). A dica mais importante que ela me deu foi: aplicar, aplicar aplicar (quando a gente fala “aplicar” quer dizer fazer a inscrição, mandar o currículo): ninguém vai bater na sua porta com a sua oportunidade de trabalho dos sonhos.
Então eu apliquei, apliquei e apliquei… Traduzi o currículo para o inglês, aprendi que aqui muitas vezes colocam-se as habilidades e um pequeno resumo do que você adquiriu com cada experiência profissional. Além de aprender os truques de como fazer uma carta de interesse (cover letter) – e atenção! O currículo é mais importante do que a carta (parece trivial, mas perdi horas fazendo cartas lindas e deixando o CV de lado).
Fui então chamada para um estágio na Áustria, na minha área, que foi sensacional. Descobri que, além de pesquisar, adoro trabalhar vendo as coisas acontecerem de pertinho. E descobri também que se eu conseguisse um treinamento mais formal em coordenação de projetos meu currículo ia ganhar mais força e amplitude. E foi aí que voltei pro Canadá fazer um curso de Gerenciamento de Projetos – e foi ótimo, não só pelas novas habilidades, mas também por ensinar como adentrar o mercado de trabalho canadense.
Estar aqui faz toda a diferença. Ter um endereço e telefone daqui, significa que as pessoas vêem que você está comprometido a se estabelecer no lugar. Ter estudado aqui ou já ter o visto de trabalho ajuda – é muito difícil encontrar uma vaga na qual o empregador esteja disposto a bancar o processo de visto (e a legislação canadense dá preferência para quem é cidadão canadense ou Residente Permanente). Porém, é importante dizer que existe hoje no Canadá um processo de imigração que se chama Express Entry – é como um sistema de pontuação em que o governo avalia quem vai convidar a vir morar e trabalhar no Canadá. Por meio deste processo, fica mais fácil conseguir uma oferta de trabalho, mesmo do Brasil.
Conheça o lugar para qual você está indo. Foi só quando cheguei em Vancouver e comecei a procurar mais seriamente que vi que aqui as pesquisas se concentram muito mais na área da Saúde. E aí você tem que ir no seu currículo e se perguntar, então o que eu tenho a oferecer vinculado a essa área?
Mas a dica mais preciosa, e que eu nunca tinha ouvido falar, é: faça “Informational Interviews”. O que raios é isso? Ao invés de ficar enviando o seu currículo e eles caindo em uma pilha com outros mil, estabeleça um contato pessoal. Esta é a técnica mais eficaz para encontrar futuros empregadores e aprender sobre a organização/empresa de uma forma mais informal. A proposta da entrevista não é sair dali com uma oferta de trabalho, mas sim coletar o máximo de informações possíveis sobre uma certa área de interesse. E ainda em um ambiente não estressante e no qual você domina a conversa, já preparada com as suas perguntas. Acreditem, funciona. Mas exige um certo nível de pró-atividade que muitos dos meus amigos e colegas não se sentem à vontade.
Não tem segredo. Você olha onde gostaria de trabalhar, liga pra lá, fala com alguém da sua área e pede uma entrevista para entender melhor o ambiente de trabalho. As pessoas costumam topar! E se não toparem, e daí? Você continua tentando, vai encontrando pessoas legais, que estão dispostas a partilhar informações que podem te ajudar no futuro a decidir se gostaria ou não de trabalhar ali.
Aqui em Vancouver essas entrevistas são bem comuns e te ajudam a expandir a sua rede de contatos (absolutamente essencial pra uma estrangeira), são bem mais fáceis de arrumar do que entrevistas de emprego, te dão informações em primeira mão sobre como é trabalhar naquela organização, quais as habilidades mais valorizadas pela empresa, te ajudam a ganhar confiança e a planejar o seu próximo passo (talvez você precise de mais treinamento) e a entender quais os planos futuros daquela empresa (se novas vagas irão surgir).
A última dica é fazer trabalhos voluntários ou estágios! Eles abundam por aqui e são extremamente valorizados pelo mercado de trabalho canadense. É uma forma de ajudar a comunidade na qual você vive, conhecer pessoas novas e até mesmo oportunidades de trabalho podem surgir a partir daí. Lembre-se, como você é uma estrangeira, quase ninguém te conhece aqui e sabe das suas qualidades enquanto trabalhadora. Então, ao mostrar do que você é capaz, você atrai os olhares de futuros empregadores. Eu mesma sou voluntária da Cruz Vermelha Canadense e sei que eles estão sempre em busca de novos voluntários.
Ao contrário do ideário imaginário da maioria das pessoas, é bem difícil adentrar o mercado de trabalho canadense, ou mesmo internacional. Questões de visto pesam, de falta de referências locais (daí a importância do trabalho voluntário ou do estágio) e de escolhas pessoais também. Você não sai de uma posição de diretora no Brasil por exemplo e imediatamente se estabelece como diretora por aqui. Conheci pessoas fantásticas, uma mulher das Filipinas que era uma funcionária sênior da área de recursos humanos no seu país e chegou aqui e foi fazer cursos de novo; um professor universitário do Irã que demorou dois anos até se estabelecer e para isso tirou 3 ou 4 certificações internacionais. É preciso se perguntar: eu estou disposta a dar alguns passos atrás na minha carreira, ao menos por algum tempo, até eu me estabelecer? Se a resposta for sim, então mãos à obra!
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7 Comments
Olá Ana! Muito boas suas dicas! Nos próximos meses vou pra Vancouver também como PR! 😀
Vc fez seu curso de Gerenciamento de Projetos na University British Columbia? Te explico: atualmente sou desenvolvedora de software e no futuro (depois de estar bem estabelecida) gostaria de direcionar minha carreira a gestao de projetos com foco em TI 🙂
Olá Sabrina!
Isso mesmo, fiz o curso na UBC – e gostei muito. Tinha, inclusive, vários colegas de TI.
Boa sorte na sua transição e se precisar de alguma coisa pode contar comigo.
Abraços,
Ana
Eu sou residente permanente, embarco em Agosto mas estou muito aflita quanto ao emprego. Todo mundo fala que sem trabalhar você não fica, mas não sei muito bem qual estratégia usar. Se entro em um emprego mais simples pra ter referencias e depois busco algo, se tento fazer algum curso para garantir um cv melhor. Aliás, acredito que preciso de um workshop para poder adequar meu cv.
As dicas foram valiosas, muito obrigada!!!
Olá Rita!
Fico feliz que as dicas te ajudaram. Bom, para quem tem a residência permanente é mais fácil conseguir trabalho – porque legalmente as empresas dão preferência para cidadãos e residentes permantentes – para quem tem só o visto é mais difícil. O mais complicado é achar algo na sua área e uma boa colocação. Não cinheço ninguém que já chega e vira logo Diretor/coordenador ou algo do tipo. São necessárias referências e eles dão muita preferência para referências locais (canadenses) – neste quesito trabalhos voluntários são ótimos porque são valorizados e fornecem referências. Outra coisa muito valorizada são os cursos daqui. Eles não conhecem as universidades brasileiras, então não sabem diferencia-las. Mas se você faz um curso aqui em Vancouver da UBC (University of British Columbia) ou SFU (Simon Fraser University), eles já sabem de cara que são boas universidades.
Espero ter ajudado um pouco mais!
Abraços,
Ana
Prezada Ana,
Boa tarde.
Parabéns pelo trabalho que realiza.
Consulto a possibilidade de conversarmos por e-mail.
Aguardo seus comentários.
Respeitosamente,
JC Pereira
Prezado José, podemos conversar por email sim. Vou te enviar meu contato. Abraços!
Ana você relatou sobre o canada muito bem .só de eu lê as perguntas de alguns amigos, e suas respostas tirei algumas duvidas minha. Mais querida se eu procurar você para mais esclarecimentos você estar disposta a responder- me. ?. Agradeço desde já. Bjs.