Vancouver ou Viena?
Posso dizer que sou sortuda: já morei em duas das cidades eleitas como as melhores para se viver: Vancouver no Canadá e, Viena, na Áustria. Então, não estou aqui para desmerecê-las nem dizer para ninguém que a posição de “melhor cidade” ocupada por elas não tem suas razões. Mas… Primeira lição: tem sempre um mas. Quando você mora em outra cidade, diferente do lugar onde você cresceu, as comparações aparecem nas mínimas coisas. E a gente aprende bem rapidinho que o Brasil pode ser um paraíso na terra e aprende a valorizar coisas boas das quais sentimos muita falta.
No total, já morei 2 anos em Vancouver e morei por alguns meses em Viena, na Áustria. As comparações pululam a minha memória e a minha experiência nem sempre foi bem-sucedida. As melhores cidades para se viver também são caras… Aluguéis em Vancouver, especialmente este ano, estão batendo recordes – não está dando pra dividir um quarto em um apartamento por menos de 800 dólares canadenses (pra dividir!). Comprar uma casa ou apartamento então, fora de questão para a maioria da minha rede de amigos, inclusive os que já tem a cidadania Canadense ou a residência permanente – com menos de 1 milhão de dólares, nada feito. A solução para a maioria é viver nas cidades ao redor de Vancouver: Richmond, Surrey, Burnaby. Em Viena, morei lá quando fazia um estágio voluntário. O aluguel de um quarto num apartamento dividido com mais uma pessoa ficava ao redor de 400 Euros por mês num distrito central.
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Em termos de alimentação, Vancouver, como boa cidade da América do Norte, não dá muita importância para o almoço: um sanduíche, na frente do computador, já basta. Mas vamos reconhecer que o sushi daqui é bão demais. Em Viena, as salsichas e os embutidos em geral são sensacionais. Mas, nas duas, tente achar um restaurante aberto depois das 9 da noite – boa sorte com a procura. Se der fome tarde da noite, não adianta nem sair na rua e, quando às vezes o restaurante diz que fechas as 10, você chega lá as 9 e eles não estão mais aceitando clientes…
Supermercado em Viena: todos fechados aos Domingos (às vezes só abre uma parte do supermercado, dos produtos considerados “essenciais”). E sábado tem que fazer compras até as 6 da tarde, senão passa o resto do final de semana sem acesso. As lojas também fecham super cedo – fui especialmente expulsa do trocador da Forever 21 quando deu exatamente 18 horas. Sobre esse jeito “ríspido” dos austríacos, foi o que mais me chocou – a frase “o cliente tem sempre razão” não me parece muito bem apropriada.
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O divertido e encantador é o quanto as duas cidades são internacionais – Vancouver cheia de gente, principalmente da Ásia, Viena cheia do pessoal da Europa. Mas em termos de vida noturna, a primeira é mais “paradona” e a segunda cheia de clubes e boates. Em Vancouver, marcar de sair com uns amigos para jantar as 20hrs é considerado tardíssimo. Em Viena, dá para sair todos os dias da semana – a cidade é lotada de locais que tocam salsa (eu não tinha ideia de como os ritmos latinos estavam populares, tem aula de salsa, bachata, merengue e tudo o mais). E, claro, as pessoas costumam assumir que, como você vem da América Latina, com certeza sabe dançar salsa. Dentre esses mal-entendidos, tem muita gente, mas muita gente mesmo, que acha que falamos Espanhol no Brasil. Enfim, é muito mais fácil achar companhia para sair em Viena do que em Vancouver.
O importante, nas duas cidades (e imagino que em qualquer outra) é achar a sua rede de amigos, conectar-se com as pessoas e ter aquela rede de suporte/ajuda. Para isto, o meu conselho é: faça aulas, se inscreva em cursos, saia por aí. Pode ser de qualquer coisa, mas não recomendo muito Yoga com essa finalidade, apesar de ser fã e praticar a anos (tem um lugar bacana, com preço bem acessível em Vancouver, que se chama Karmateachers) – o pessoal vai lá para relaxar e não para fazer amigos. Em Vancouver, achei um pessoal nos cursos do centro recreativo da UBC (que também tinha várias outras opções com preço camarada). Em Viena, comecei a fazer Capoeira e foi o pessoal de lá que me colocava pra cima e se tornou quase que como uma família emprestada. Tem sempre também aquele amigo de um amigo que conhece alguém que mora fora e é esse pessoal que segura a sua barra e se torna seus melhores amigos em terras longínquas (tô falando de vocês mesmo, Ana Luisa e Luciana).
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A gente não tem ideia de como morar fora, longe de todos aqueles que conhecemos, pode ser muito desafiador. Ter uma companhia para um passeio num domingo, para reclamar dos hábitos locais juntos (isso é tão terapêutico…) e para te ajudar a resolver os pepinos que vão aparecendo. Por exemplo, te ajudam a entender cartas que chegam para você (em Vancouver uma vez chegou uma cobrança errada, em Viena uma carta sobre impostos de uso da televisão), te acompanham até o hospital quando você fica doente, te ajudam a enfrentar o mundo novo sem tantos temores.
Enfim, nas duas cidades o transporte público é uma maravilha (pelo menos para os meus padrões), a segurança de andar nas ruas sozinha de madrugada é impagável. Cada uma tem seu ritmo, os seus horários, as suas peculiaridades. A escolha entre elas é muito mais uma questão de qual estilo agrada mais: uma vida mais pacata junto a natureza (Vancouver) ou mais agitada (Viena). E você consegue se adequar a esses ritmos diferentes muito em função do tanto que consegue se comunicar – mas esse é um tema para o próximo mês 😉