Um ano atrás eu largava tudo aqui no Brasil para (de novo) ir para o Canadá. Relacionamentos à distância exigem algumas decisões e uma alta dose de coragem. Teve então motivos pessoais, envolvendo um amor intercontinental. Teve incertezas para decidir investir em um novo curso, totalmente fora da minha área acadêmica, mesmo depois de completar um doutorado. Teve surpresa em não saber que não precisaria de um visto (para quem vai estudar por menos de 6 meses não precisa mais de visto de estudante no Canadá). Teve angústia para arrumar um jeito de conseguir um visto de trabalho. Teve dias chuvosos típicos de “Raincouver”. Teve saudades de casa, de novo. Teve medo do desemprego, de ser um peixe fora d água – uma pesquisadora e gestora de projetos. Teve dificuldades, de novo, de fazer amigos (meus amigos de lá já tinham zarpado para outros caminhos). Tudo isso aí me atingiu e eu caí tantas vezes quanto caí na minha primeira aula de Snowboard na Grouse Mountain.
Mas teve um curso de gestão de projetos sensacional. Teve estágio voluntário na Cruz Vermelha Canadense. Teve visto resolvido. Teve oferta de emprego. Teve aprender a correr. Teve gelateria nova, com um gelato de pistache bão demais da conta. Teve vida mais saudável andando de MOBI bike pelo centro de Vancouver. Teve amiga casando e despedida de solteira pelas vinícolas de Victoria. Teve dormir na casa da árvore também na ilha de Victoria. Teve jogos de buraco com amiga brasileira. Teve descobrir brasileira fazendo coxinha e pastel frito. Teve encontrar uma venda de produtos do Leste Europeu que decidiu importar um zilhão de produtos brasileiros (de biscoito de polvilho a suco de maracujá).
Então assim, somando tudo, deu um jogo de soma três: a Ana que eu era, a Ana que cresceu e a Ana que eu sou hoje. Por motivos alheios a minha trajetória pessoal, mas muito bem-vindos, fomos oferecidos a chance de vir para o Brasil. Isso incluiu mudar para uma cidade nova para mim, cheia de vida e de oportunidades de crescer. Mudamos-nos para São Paulo e confesso que estou gostando. Tendo consciência de que moro em uma “bolha”, tem feirinha na rua, tem Ibirapuera, tem metrô, tem bicicleta, tem shows, tem palestras, e tem sol de vez em quando!
Aqui, nos perguntam invariavelmente o que viemos caçar de volta no Brasil. Está todo mundo querendo sair e a gente fazendo o movimento contrário. Ora, ora. Vim caçar minha felicidade. Vim caçar emprego na minha área, já que tenho uma imensa rede de contatos aqui. Se tem uma coisa que eu aprendi, é que contatos é tudo. Vim caçar meu rumo e ajudar meu país. Sabe, o país da gente é bacana. A gente tem muito o que aprender para nos valorizarmos. Achar que tudo lá fora é melhor, é fria. E achar que trabalhar lá fora é sempre uma maravilha, é uma ilusão que dá até dó. Lá fora costuma ter mais segurança sim, principalmente para mulheres. Tem mais liberdade, tem mais direitos, uma burocracia que costuma funcionar. Mas tem preconceito com imigrantes, com quem não fala a língua local. As barreiras são tantas, imigratórias, lingüísticas, culturais, ambientais, climáticas, educacionais, econômicas…
O Brasil não precisa do seu desamor e ódio por tudo que é daqui. Se está ruim, vamos ajudar a melhorar? Ter vivido fora e experimentado outros países, me permite conhecer aonde gostaria que meu país chegasse e reconhecer aonde ele já chegou. Confesso que estudar corrupção não tem sido tarefa fácil. Mas parece que estou agora no lugar certo e com as pessoas certas para tentar melhorar o cenário. Com o coração cheio de esperanças e a cabeça fervilhando de ideias, fecho o meu último texto para o site.
Beijos queridas e até breve (breve sim, pois ninguém sabe onde o próximo capítulo irá nos levar)…
2 Comments
Parabéns Ana! Texto lindo demais! Bom retorno a nossa pátria amada!!!!
Amei seu texto! muito consciente! Expressa exatamente o que sinto quando digo que logo quero voltar ao Brasil e a maioria das pessoas faz essa mesma pergunta”Por que?”