Emprego na Croácia.
Tinha o sonho de fazer um intercâmbio e, quando surgiu a oportunidade de fazê-lo pela minha universidade, achei que seria a chance ideal. Também pensava que ter uma bolsa de estudos nesse processo, seria essencial já que eu não tinha dinheiro guardado e também não queria abusar da boa vontade dos meus pais. Depois de várias fases do processo seletivo, recebi a notícia de que eu receberia uma bolsa, mas essa informação foi desmentida em menos de uma semana – pelo fato da minha universidade ser pública, fui informada sobre a ausência de verba para programas de mobilidade acadêmica. Fui da mesma forma contando com a ajuda dos meus pais sim, mas não planejava viver dependendo tanto deles. Já fui pensando em arrumar um emprego na Croácia.
“Posao” significa “trabalho” em croata e a Croácia é um dos países com maior índice de desemprego da União Europeia. É como se o país vivesse em uma constante e eterna crise, contudo, isso foi ficando mais explícito a medida em que eu conversava com os croatas sobre o assunto. Apesar do forte sentimento nacionalista, há uma enorme descrença na melhora política e econômica do país por parte dos croatas.
Apesar da taxa de desemprego ser alta, vivendo lá percebi que o maior problema não é esse, e sim que as pessoas ganham muito pouco pelo trabalho que fazem. No primeiro semestre do meu intercâmbio, por exemplo, trabalhei principalmente na limpeza de uma arena multiuso. Geralmente, tinha de limpar toda a arena após um jogo de tênis, um show, ou algo do tipo. Isso durava a noite toda, então eu chegava por volta das 22 horas e saía às 5, 6 horas da manhã. Recebia o total de 20 kunas por hora o equivalente a R$10 (dez reais por hora).
Esse tipo de trabalho (limpeza de arenas) é considerado um emprego para estudantes, o que nos leva a um assunto que já comentei sobre aqui no último texto: os trabalhos estudantis. Em Zagreb, na universidade, havia o chamado centro estudantil, onde os alunos iam para resolver alguns problemas, mais especificamente para achar empregos estudantis. Há uma página na internet com a lista de todos os empregos estudantis, descrição de cada um deles, quantia paga por hora, etc. Você pode escolher um, ir até o centro estudantil, se candidatar e assinar o contrato com a empresa. A ideia, é que por você ser estudante, o centro estudantil seja o “meio-campo” entre você e a empresa empregadora.
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Falado isso, vamos à outra situação na qual eu acredito ser a mais comum e a que melhor resume o número de vagas de empregos na Croácia: os trabalhos de verão. Zagreb, apesar de ser a capital do país, não é a cidade que mais recebe turistas na Croácia, sendo então, a região da costa marítima croata a mais turística. As paisagens, ambientes, a água, o clima mediterrâneo, tudo na costa croata parece propício para um verão dos sonhos e, diferentemente de nós que moramos em um país onde o inverno não é tão rigoroso, na Europa, quando chega o verão, há uma grande febre para aproveitar cada segundo de sol e calor. E é aí que a economia croata ganha novos ares.
Quando chega junho e principalmente julho, os croatas começam a se deslocar da parte mais continental do país para a costa. Preparam-se desta forma, para no mínimo três longos meses de trabalho intenso, sem dias de folga e com cargas horárias diárias que podem chegar até 13 horas, porque é nesse período, que possivelmente conseguirão os salários mais altos do ano.
No meu caso, fiz uma grande amiga croata na geografia que me chamou para esse trabalho de limpeza da arena multiuso e, sobretudo me indicou para um emprego na cidade mais turística da Croácia: Dubrovnik. Lá foram gravadas cenas de alguns filmes famosos como, por exemplo, Star Wars, mas a cidade é mundialmente conhecida por ser, na série Game of Thrones, o reino de King’s Landing.
O emprego foi relativamente fácil de conseguir. Peguei o contato do dono do restaurante onde trabalharia, liguei para ele, falei que estava interessada no emprego, enviei meu currículo por e-mail e ele me retornou dizendo que o emprego era meu. Eu tinha um mês de férias (julho) antes de uma grande viagem em agosto.
Pois bem, mal sabia eu que o maior problema seria conseguir um local para morar durante esse período. Todas as casas estavam cheias e, as que ainda tinham vagas, eram muito, muito caras. Aos 45 do segundo tempo, ou seja, dois dias antes da data de começar a trabalhar, consegui achar uma casa em uma cidade vizinha por um preço relativamente justo.
Foi um mês de muito trabalho, estresse, solidão, mas também fiz muitos amigos novos, desenvolvi meu croata já que eu era a única estrangeira que trabalhava no restaurante onde estava empregada, além de ter vivido um mês numa cidade tão linda onde a maioria das pessoas não fica mais do que 3 dias quando fazem turismo.
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Trabalhava à tarde na recepção desse restaurante/bar que era na beira da praia e no final do dia, ia para a cidade distribuir bilhetes de entrada para a balada que o local organizava todas as noites. Trabalhava cerca de 11 horas por dia e assim foi durante todo o mês, sem um dia de folga.
Foi um mês de estresse, porque é basicamente assim que são esses meses de trabalho para os croatas. Fazer o que se não há muitas outras opções por lá?
Recebi ao todo 10.000 kunas, o equivalente a R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por um mês de trabalho que para uma estudante de 22 anos, é muito. Com esse dinheiro é que grande parte dos croatas se sustentam durante o restante do ano.
Portanto, aqui vai mais uma mensagem de alguém que tinha uma opinião formada e errada sobre a maneira como os croatas encaram o trabalho. Achava que eles trabalhavam somente por três ou quatro meses, porque não queriam trabalhar durante todos os meses do ano. Por esse verão que vivi como uma croata e principalmente por ouvir histórias de vida das pessoas que conheci naquele mês, posso assegurar que esse não é o motivo. As imagens parecem muito belas e os rostos muito felizes – em alguns momentos são realmente verdadeiros, mas experimente trabalhar no verão, quando parece que todas as pessoas do mundo inteiro estão aproveitando suas vidas e relaxando. “Nije tako ugodan” significa “não é tão agradável”. Mas tudo é experiência, já dizia o outro.
Obrigada pela leitura.
Até mais!