Quais são os prós e contra de estudar fora?
Todos nós, se não já estudamos fora do Brasil, certamente conhecemos alguém que o fez e, normalmente exaltamos a importância de ter uma experiência como esta. Ter a oportunidade de estudar em outro país ou em outro estado e experimentá-la é algo inegavelmente enriquecedor para as pessoas que passam por isso, porém, nem tudo é um “mar de rosas”.
Primeiramente, podemos considerar que cada pessoa escolhe seu local de destino nesse intercâmbio e que, mesmo em situações onde duas pessoas escolhem o mesmo país, a mesma cidade e até o mesmo bairro para viver durante esse período de estudo diferenciado, a visão e vivência individual é sempre única. Por isso, os relatos por mais que tenham características geográficas semelhantes, têm essencial relação como a identidade de cada pessoa.
Um exemplo do que estou tentando suscitar seria meu período de estudos no curso de Geografia em uma universidade da Croácia. Você pode conversar comigo sobre como foi estudar em Zagreb, viver no dormitório da universidade, conhecer a cultura croata e você pode conversar com outra brasileira que também estudou em Zagreb, morou no dormitório de lá e que conheceu mais aspectos sobre a Croácia, mas certamente nos expressaríamos de formas totalmente diferentes, já que essas últimas citadas não são as únicas variáveis de um intercâmbio.
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Particularmente, quando me perguntam sobre como foi minha experiência, tento balancear histórias de momentos bons e com histórias de momentos não tão bons porque tenho a intenção de valorizar o que vivi, mas sem perder o pé no chão de como tudo realmente acontece.
Quando uma pessoa se dispõe a estudar em outro país ou em outro estado, alguns dos pontos mais positivos (se assim podemos dizer) são: a chance de viver o dia-a-dia de outra cultura com características diferentes das de origem; utilizar referências bibliográficas de professores com formações variadas; conhecer muitas pessoas que fazem parte daquela cultura e também pessoas que se encontram lá por motivos semelhantes ao seu; possibilidade de conhecer países próximos pelo custo menor de deslocamento; reforço de uma língua estrangeira ou aprendizagem de novas; morar longe da família e tentar tornar-se mais independente; entre outros.
Falando da minha experiência de um ano morando fora, esses aspectos positivos que acabei de listar realmente aconteceram, mas para ser mais sincera, quando converso com outras pessoas que tiveram alguma experiência semelhante à minha, chegamos sempre à conclusão de que ao estudarmos fora, a universidade/escola não é o local onde mais aprendemos, mas sim nas situações cotidianas, nas aventuras que nos permitimos viver, com as pessoas que conhecemos ao longo desse trajeto, pois é aí que capturamos a essência de uma cultura vivida.
E como é a vida, também estamos sujeitos a passar pelos momentos classificados como “contra”, alguns dos quais nos marcam fortemente por serem sentidos de forma tão intensa.
A meu ver, é importante colocar a grande diferença entre os que eu considero como sendo os dois tipos de programas de intercâmbio. Um deles, é quando se recebe uma bolsa de estudos e o outro, é quando não se recebe nenhum auxílio para o financiamento das contas durante esse processo. No primeiro caso, há uma gama de possibilidades muito maior do que a segunda, tendo em vista a ausência da maior preocupação que se tem quando se mora sozinho: manter-se financeiramente estável garantindo o básico para sua sobrevivência.
Tal contexto influenciará grande parte nas decisões que um estudante tomará quando estiver no seu período como imigrante, até porque o uso do seu tempo e a sua percepção dos espaços frequentados serão distintos.
Em publicações anteriores aqui no BPM, escrevi sobre a minha experiência de trabalho na Croácia. Esse é um exemplo de situação a qual me recordo de viver apenas com outros estudantes croatas ou com intercambistas que não recebiam bolsa de estudos. Convivia com muitos outros estudantes estrangeiros, mas nenhum deles precisou trabalhar já que todos recebiam auxílio financeiro de suas respectivas universidades.
Esse período de trabalho de maneira geral afetou muito o meu psicológico negativamente, mas também foi o que me impulsionou no aprendizado da língua croata e graças a isso, concluí o meu intercâmbio me comunicando em croata em todas as situações que vivia em Zagreb. Uma conclusão que tirei dessa experiência, foi a respeito do quão fundo se vai ao reconhecimento de uma cultura quando se aprende a língua usada pelas pessoas desse grupo.
Algumas outras dificuldades, geralmente aparecem com a universidade que está nos recebendo, ou com o setor/departamento. Isso porque nem sempre há a estrutura necessária para que estudemos de forma tranquila, acompanhando às aulas regularmente e estudando em casa de forma a concluir um processo de ensino-aprendizagem efetivo para estudantes estrangeiros. Contei um pouco sobre a minha experiência na Universidade de Zagreb em outra postagem aqui.
Devo admitir que enquanto escrevo este texto que você lê só agora, tenho que dar uma pausa nesse momento.
Quem classifica e como são classificados tais aspectos como sendo pró ou contra? Precisamos fazer essa distinção ou podemos enxergar os dois lados em todas as experiências?
Se eu tivesse tido bolsa de estudos, provavelmente não trabalharia durante o intercâmbio, e assim, não teria tido tantos problemas de estresse, mas também não desenvolveria meu conhecimento na língua. Sem esse conhecimento, certamente eu não mergulharia tanto na cultura croata como aconteceu, como vi acontecendo com tantos estrangeiros os quais não tiveram essa imersão.
Teve dor, mas teve aprendizado e, isso tudo, se deu pela minha identidade individual nesse processo. Acredito que o mais importante é a compreensão de que não houve apenas bons momentos, assim como não houve apenas momentos ruins, mas tudo fez parte de uma experiência viva a qual não estava apenas dentro das paredes da sala de aula, mas no mundo.
Obrigada pela leitura e até uma próxima!