Ensinando idiomas on-line.
Sou internacionalista por formação superior, mas quando me perguntam minha profissão não tenho dúvidas em responder: Sou professora!
Comecei a dar aulas de inglês aos 18 anos, por necessidade. Eu estudei na mesma escola de idiomas dos 12 aos 18, fiz o curso de inglês completo deles, fiz intercâmbio, pulei nível na volta, fiz aulas com adultos quando tinha só 15 anos e me sentia deslocada na turma, mas segui, firme e forte. Tive muito apoio dos professores, que adaptavam temas de redação sobre entrevistas de emprego e mercado profissional para temas mais próximos da minha realidade no momento, como prestar exames e busca por orientação profissional. Aos 16 estava formada, com inglês fluente, e comecei o francês, na mesma escola.
Mas aos 18 tudo mudou, brinco que a maioridade chegou na minha vida com os dois pés na porta. Logo após meu aniversário descobrimos que tanto meu avô materno quanto meu pai estavam com câncer, e eles eram a fonte de renda da família. Além disse meu avô era a estabilidade psicológica e emocional da família, era meu avô-pai-modelo de vida-super herói! Em um ano os dois faleceram, e tanto minha avó quanto minha mãe tiveram fortes processos de depressão.
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Nesse meio tempo, enquanto estudava para o vestibular, fui um dia na escola de idiomas cancelar o curso e a secretária me pediu para preencher o motivo. Expliquei de forma sucinta as doenças e perdas na família e que o meu orçamento estava inviabilizado. Saí e já estava no estacionamento quando ouvi alguém me chamando. Era o dono e diretor da escola. Ele veio correndo, me chamou para voltar e tomar um café. Me abraçou, disse que eu sempre tinha sido uma aluna muito participativa na escola, conhecia todos os professores e alunos, todos do administrativo e que ele queria me ajudar. Me ofereceu um emprego de professora de inglês, acompanhado de uma bolsa 100% para continuar quantos idiomas eu quisesse.
Fiquei sem base, disse que não sabia dar aulas e ele me garantiu participação no curso de formação da escola. Voltei para casa e minha mãe perguntou com visível mágoa se eu tinha cancelado o francês e eu disse que não, mas que eu tinha um emprego. Ela se assustou mas ficou imensamente grata ao dono da escola, que ela também conhecia depois de todos esses anos. Fiz os cursos e todos na escola me ajudaram muito nessa formação inicial. Tudo o que eu podia ler a respeito de didática de ensino de idiomas eu lia, devorava tudo o que meu então chefe me passava e assim comecei minha carreira de professora, no susto!
Entrei na faculdade um ano depois, e me formei em Relações Internacionais pensando em um emprego na diplomacia, que me garantiria um salário alto para poder cuidar da minha avó e mãe, mas ambas se foram alguns poucos anos depois, uma logo antes da formatura e a outra um ano e meio depois. Trabalhei em uma multinacional e odiei o ambiente e o tipo de trabalho. Me vi sem chão de novo, com um diploma tão suado em mãos, sem saber o que fazer, voltei para as aulas.
Entrei em outra escola, uma das mais prestigiadas do Brasil, e lá fiz uma formação mais completa em ensino de inglês, incluindo as certificações internacionais que eu recomendo para qualquer um que queira trabalhar na área, os exames do Main Suit de Cambridge, CAE e CPE e o curso de formação básica de professores que vale mais que uma universidade e ainda te dá a possibilidade de trabalhar em qualquer lugar que reconheça os diplomas de Cambridge, o CELTA.
Trabalhei nessa escola por três anos e ganhei amigos, experiência e formações que valeram uma vida. Foram alguns dos anos mais felizes e encantados da minha vida! Depois resolvi me mudar para São Paulo, para fazer um mestrado em RI na tentativa de conciliar meu amor pela sala de aula com outras opções profissionais e salariais. Nessa época trabalhei em uma escola de idiomas, mas estava sobrecarregada e acabei me focando apenas no mestrado e em alguns alunos particulares para manter a renda. No final, acabei me decepcionando muito com a vida acadêmica e percebi que não é o que quero profissionalmente. Nesse meio tempo, me casei e meu marido, que tem cidadania portuguesa teve a oportunidade de vir para a Espanha.
Vim com ele, e alguns dos meus alunos no Brasil não queria deixar de fazer aulas comigo, então comecei a pesquisar sobre aulas virtuais, e adorei! Ainda em São Paulo comecei a trabalhar assim, o que ajudou muito tanto meus alunos como eu, porque se deslocar lá é um transtorno, e todos se adaptaram muito bem às aulas virtuais. Já aqui na Espanha resolvi continuar me especializando e fiz vários webnars (jogo de palavras com web e seminar: ou seja seminários via internet) sobre ensino à distância, e aprendi sobre plataformas e ferramentas para incrementar a possibilidade de aulas on-line. E olha, posso afirmar que as possibilidades são infinitas e que é uma excelente alternativa.
Nos pontos positivos destaco trabalhar de casa, montar meu próprio horário, conciliar mais alunos em menos tempo por não precisar de tempo de deslocamento. Utilizar o mesmo recurso com diferentes alunos por já ter o material em versão digital, poder deixar a aula mais dinâmica incluindo vídeos e músicas que não estavam previamente no planejamento na hora ao perceber a necessidade de movimentar mais em um dia de cansaço maior dos alunos e muitos outros usos das ferramentas.
Nos pontos negativos, a integração em outro país fica mais difícil, pois não tenho um ambiente de trabalho compartilhado, meus colegas são os fóruns nas mídias sociais de outros professores que compartilham seus desafios e sucessos, e meus amigos antigos das escolas. Alunos que desmarcam aulas é também um problema mais frequente na versão digital. A necessidade de uma boa conexão e bom equipamento, incluindo bom fone de ouvido e microfone. Ter que coordenar com os horários de alunos ao redor do mundo e muitas vezes trabalhar de madrugada é também uma realidade dura.
No total acho os pontos positivos maiores que os negativos e a experiência do trabalho on-line tem sido muito gratificante. Recomendo. Às vezes nos sentimos presos, mas só precisamos nos reinventar. Hoje em dia viajo muito, consigo dias inteiros só para mim, em troca tenho que planejar reposições e adiantamentos para poder viajar, administrar bem as mensalidades para conseguir conciliar tudo, mas é parte do trabalho poder estar em casa atualizando minhas planilhas enquanto tomo um chá!
Hoje trabalho com aulas de inglês, aulas de português para estrangeiros, depois de uma oportunidade maravilhosa em parceria com o ACNUR de criar uma apostila para ensino da língua para refugiados, preparatórios para exames como Cambridge Main Suit, IELTS e TOEFL. Todos on-line!
E vocês, já trabalharam com educação à distância? Já enfrentaram os desafios de trabalhar em outro país? Aqui no BPM todas passamos por isso e você pode ler sobre Validação de Diploma, Organizadora de eventos nos EUA, dentista em Londres, ser médica em Dubai, condições de trabalho na Dinamarca, Au Pair na China, como praticar direito nos EUA, e mais dicas para conseguir seu emprego dos sonhos no exterior! O meu já estou realizando, com minha vida de professora on-line nômade!