Difícil acreditar que uma pessoa como eu, apaixonada por uma metrópole e que não abria mão de uma festa, fosse um dia mudar para uma pacata cidade no deserto acinzentado. OUCH! (Como diria um tucsonan – pessoa que nasce na cidade de Tucson/Arizona). Quem te viu e quem te vê! Talvez eu deva dizer: quem me viu e quem me vê!
Tucson tem seus flaws como outra cidade qualquer. Que equívoco! Tucson não é uma cidade qualquer, apesar dos seus quase 1 (um) milhão de habitantes tem todas as características de cidade do interior. Imaginem aqueles filmes de faroeste americano que viram na TV, caso não tenham assistido sugiro que assistam, assim vão entender melhor a cidade que me adotou. Sim, digo adotada porque ainda outro dia estava, euzinha na corte, fazendo o juramento e ‘virando’ cidadã americana. Vou deixar de blá, blá, blá e voltar ao que interessa…
Tucson, como a maioria das cidades americanas, é conhecida por suas ruas largas, cactos saguaros e cowboys com seus bigodes gigantes. Também por aqui é muito comum encontrar pessoas com sua pistola na cintura, pois a constituição assegura o direito a todo cidadão de andar armado, mas quem optar por ter uma arma consigo, deve deixá-la à mostra.
E a roupa? Bem, esse é um assunto fora de moda por aqui. Quase ninguém dá importância a aparência. Muitas vezes achei que estivesse na festa do pijama. É muito comum ver americanos em seus pijamas e pantufas em locais públicos. Até eu me senti tentada a aderir a essa moda. Haha… Brincadeirinha!!!
Apesar dos pesares eles são muito educados, só que o fato de sempre perguntarem se você está bem não significa que queiram saber detalhes da sua vida ou ouvir seus problemas. Lembro vocês que é de bom tom chegar antes do horário marcado e inadmissível se atrasar. Caso isso aconteça, pode apostar que entrará para a lista negra, independemente da desculpa, ou seja, justificativa dada. É imperdoável chegar na casa de alguém sem avisar, devemos sempre ligar para marcarmos um horário se planejamos visitar um amigo.
Ah! E todo evento social, na casa de alguém ou mesmo em local público tem horário para começar e o mais importante, tem horário para acabar, sendo este seguido à risca. Quando algum ‘desavisado’ decide esticar um pouco mais a confraternização, é (educadamente) convidado a se retirar. Inclusive, isso aconteceu com uma amiga com poucos meses na cidade. Haha… Tadinha, não consigo nem sequer imaginar a cena. Ainda mais porque ela é uma pessoa muito
certinha.
Em um outro país somos forçados a mudar nossos hábitos. Querendo ou não, temos que nos adptar a cultura local, claro que sem deixarmos a nossa de lado. Nem devemos, pois estamos mudando de país e não a nossa identidade. Posso dizer que independentemente da razão pela qual partimos (o casamento, a graduação, a especialização, a carreira profissional ou simplesmente uma nova experiência), deixando para trás nossa casa, nossa vida, a família, etc. e vamos em buca do Sonho Americano. Portanto, a carência, a solidão e a saudade de casa são inevitáveis.
Eu mesma me senti muito sozinha, perdida… e muitas vezes não sabia por onde começar. Não tinha mais os amigos disponíveis para um sushi, jogar conversa fora ou uma cervejinha no boteco. Nem sequer tinha o boteco. Sem falar da família… Me dei conta que sempre que ouvia uma música brasileira em um lugar qualquer me sentia próxima de casa. A cada dia que passava a saudade só aumentava e, mais e mais vinha aquela vontade de ouvir o português e a nossa música, de comer uma comidinha brasileira, dos hábitos que só nós temos, sentia falta até das piadas sem graça dos amigos. Pois bem…
Criei playlists de músicas brasileiras (de todos os estilos) e hoje busco a poesia na letra de cada uma delas. Passei a aproveitar cada segundo com a família e amigos que ficaram para trás nas viagens ao Brasil e a dar valor a tudo que é da terrinha. Fui a procura dos brasileiros e após quase quatro anos na terra do Tio Sam posso afirmar que muitos desses conterrâneos são meu amigos, ou melhor, eles fazem parte da minha família. E no contato com os brasileiros percebi que muitos deles precisam de apoio de pessoas como eu e por isso estou dedicando parte do meu tempo livre à comunidade brasileira de Tucson.
Hoje, não vejo o deserto como a parte cinzenta da minha vida. Me esforço para ver sempre o positivo em tudo e em todos, pois não acredito que o negativo com negativo vira positivo. Pode até funcionar muito bem na Física, porém não cabe no nosso cotidiano.
Aprendi a dar valor a beleza daqui. Aprecio a mudança da paisagem em cada estação do ano. Curto os dias frios como ninguém porque o inverno dura pouco, Sempre reservo um tempinho para observar as montanhas, as quais podem ser vistas de diferentes pontos da cidade e que no inverno ficam cobertas de neve. E a primavera então! Uma mais linda que a outra. Até naqueles dias mais quentes temos o lado bom. Nosso céu é lindo, e mais, quase todos os fins de tarde somos presenteados com um pôr-do-sol mais único que o outro.
Apesar de ser uma cidadã americana, me tornei ainda mais brasileira.
Cléo é Tradutora e Intérprete (Unibero), e mora em Tucson, Arizona, nos EUA. É administradora do blog Mochileiras de Batom no Facebook.
37 Comments
Oi Cléo! Parabéns pelo texto. Deve ser surreal essa coisa de cowboys com bigodões e pistolas pela rua… eu confesso que sou super fã de filmes de faroeste e acho que gostaria de ver isso tudo pessoalmente, um dia! Você estudou no Unibero em SP? Eu estudei lá. Beijos!
Obrigada Cristiane.
É surreal morar aqui. Sempre vejo coisas inimagináveis…rs…Quando quiser vir a Tucson para checar isso tudo de perto é minha convidada 🙂
Mundo pequeno, hein! Veja a coincidência, conheço duas pessoas que também se formaram na Unibero em Tradução e Interpretação e moram aqui. Não vai me dizer que vc tbm se formou na mesma área?
Beijos
Cleo, Pelo jeito Tucson tem mais cowboys do que em Houston (que não tem nenhum, mas todo mundo pensa que tem!). Parabéns pelo texto!
Oi Monica,
Prometo tirar uma fotchenhas com uns cowboys a caráter…rs…
Muah!
Cléo , muito bacana seu texto. Eu morei na Flórida que é completamente diferente. Mas, gostaria de conhecer o deserto deve ser uma paisagem linda. Bom, eu também me graduei na Unibero em São Paulo…mundo pequeno…Bjs.
Oi Cintia,
Posso garantir que a Florida é bem diferente do Arizona. Apesar de quente, não temos a umidade daí e nem a praia… sniff!
Menina, que interessante encontrar uniberianos pelo mundo. Realmente, que mundo pequeno!
Muah!
Cleo,
AMEI o texto e, como já te falei alguma vez ao vivo, admiro sua coragem de fazer essa troca!
Faz tempo que a gente não se fala, mas sempre acompanho seus posts e acredito que esteja cada dia mais feliz por sua escolha. Deve ser surreal mudar assim, de um país tão metereologicamente confuso para uma cidade muito menor, com estações bem mais definidas e pessoas tão diferentes.
Fui aos EUA em 2012 mas não tive o prazer de conhecer o deserto, estava nos meus planos uma viagem no ano que vem, e quem sabe eu consigo experimentar isso de perto, né?
Adorei o texto e é muito legal saber que há uma comunicade brasileira organizada tão longe daqui (sim, existem lugares muito mais distantes).
É a primeira vez que eu vejo uma pessoa que mudou de país/cultura e alimenta e valoriza tão bem a sua própria cultura. Normalmente vejo pessoas eternamente cegas pelo novo lugar e que acabam esquecendo das coisas boas que temos por aqui, ai acabam sempre ficando naquele mesmo papo de “Só sinto falta da família e da comida”.
Acho muito legal essa importância que você dá ao que ficou do lado de cá do hemisfério e te desejo tudo de bom sempre e muitas viagens ainda, porque eu acompanho a página das Mochileiras, viu?
Um beijo e um alo para a terra do Tio Sam (que eu amei, diga-se de passagem).
Oi Catarina,
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Realmente é muito diferente a vida aqui, mas nem por isso vou frizar as coisas ruins. Afinal, acredito que todo lugar nos quarto cantos do mundo tem os dois lados.
Hey, quando vier aos EUA, arrange um tempinho para passar por Tucson, lembre-se que já tem onde ficar.
Muah!
Eu sei exatamente do que vc está falando Cléo. A gente sai do país de onde nasceu, mas carregamos no coração nossas raízes. Considero isto muito positivo, porque esta identidade nos fortalece. Não confio em pessoas que desprezam suas origens. No deserto As cores das árvores e flores são tão intensas como o por do sol do inverno. E tem uma particularidade nesta cidade, vc raramente não tem a vista das montanhas porque não existe arranha céus , as casas , todas, são pintadas de cores pasteis, como cinza, ocre, para não interferir na natureza, isto sem contar que as ruas dos bairros não tem postes com luz, não existe iluminação, e vc entende porque muitas vezes na madrugada vc recebe a visita de uma família de porco do mato e coelhos no seu quintal, morando praticamente no centro da cidade.
Oi Nina, dificilmente descrever essa cidade em apenas um post. Apesar de não ter ficado apaixonada por Tucson, tenho que admitir que estou aprendendo a gostar e respeitar cada coisinha daqui.
Beijocas
Cleo adore seu texto con sus experiencia, bus magia espanha
Obrigada Magia da Penha,
Imagino que você também tenha histórias interessantes para contar sobre a Espanha, não é?
Beijos
Meninas, prometo escrever sobre os cowboys, mas só depois que aprender dançar country…rs… brincadeirinha!
Me avisem se vierem a Tucson, será um prazer mostrar a cidade. E que mundo pequeno mesmo, quanta uniberiana por aí 🙂
Beijos, Cleo
Cleo, adorei o seu texto, deu para sentir a intensidade e veracidade dos seus mais sinceros e profundos sentimentos em cada palavra!! simplesmente adorável! espero poder compartilhar mais de suas histórias, ou melhor, da sua vivencia pelos 4 cantos do mundo!
Parabéns!! acho que por ter sido também “adotada” por Berlim, lhe entendo perfeitamente!
Um grande beijo e novamente parabéns pelo belo texto.
Oi Cindy, que bom que gostou 😉
Verdade, me sinto mesmo adotada por essa terra e pelos gringos…risos…
Espero que esteja curtindo Berlim de montão.
Beijocas
Ckeo amei seu texto eu tive a oportunidade de re-visitar as fotos que fizemos da nossa viagem ha mais de uma década atras de San Francisco a Las vegas (highway one trip) de carro e dormimos em Williams, me lembro como fiquei impressionada com as paisagens! Ficamos presos com o carro devido a neve, foi muito divertido como sempre as situações inesperadas, Era quase que uma prece, ficamos calados so viajando nas paisagens! rsrsr Aqui na Suica trabalho com a comunidade brasileira e com certeza vamos poder trocar figurinhas sobre as experiências!
Adorei o texto e vamos nos falando, seja super bem vinda ao BPM! Namasté 🙂
Oi Ana Cristina,
Que situação inusitável ficar preso na neve numa viagem de San Francisco a Las Vegas…rs… acho engraçado porque não é a região mais fria dos EUA, nem onde neva mais.
Hey, adoraria trocar figurinhas sobre sua experiência aí.
Muah!
Oi Cleo! Adorei o texto, mas, mais importante, gostei do seu tom. Cara, chorei com a parte do “cactus e cowboys”. Só ficou faltando a trilha sonora (o assobio) e a bola de feno rolando pelas ruas. Haha!
Sim, mudar requer muita adaptação e, de repente, do nada, a saudades batem. E nem estamos preparados para ela…
Assim é a vida! =)
Um beijo
Oi Tati,
Estou rindo aqui com seu comentário….rs… e imaginando o assobio. Como não pensei nisso?
Muah!
OLA CLEO, ESTOU PLANEJANDO IR AO ESTADOS UNIDO EM AGOSTO COM MINHA ESPOSA, FICAR UM TEMPO E ESTUDAR INGLES, VOCE SABE DIZER SE TEM ESCOLA DE LINGUAS LEGAIS, PREÇO DE CURSO,MEDIA DE PREÇOS DE APARTAMENTOS, E A ESTRUTURA DA CIDADE, TEM O ESSENCIAL ?
Cleo, morei em Tucson por 6 anos.- muito bem morados por sinal. Nunca nem eu, nem meu marido, nem amigos vimos nenhum bigodudo andando pela cidade mostrando a arma. Meu marido e outros amigos que tem direito ao porte de armas e entendem muito bem das leis sobre isso, nunca nem ouviram falar sobre isso e não confirmam esse “detalhe”. Ja’ no filme Tombstone ai’ sim… isso pode ser visto. Just saying…
Valerio, há muitas escolas de inglês – ESL (English as Second Language) – espalhadas pelos EUA. Algumas delas, inclusive, não exigem visto de estudante para cursos de menos de 3 (três) meses e o preço também varia de uma para outra. Sugiro que faça uma pesquisa antes de vir para cá. Boa sorte!
Meninas, acompanhem meus posts, prometo, muito breve, escrever sobre os cowboys (bigodudos ou sem bigodes), o uso/porte de armas com referência a Segunda Emenda da Constituição Americana (‘Second Amendment – protects the right of individuals to keep and bear arms).
Beijos
Me apaixonei pela ultima frase!Amei demais!! Äpesar de ser cidada americana,me tornei ainda mais brasileira!Que lindo!Tambem sinto o mesmo ,Parabens!
Andreia,
É bem assim que me sinto. Sou muito bairrista para deixar de ser brasileira….rs… amo o Brasil e os brasileiros e vou sempre mostrar as coisas boas aos estrangeiros. Fico feliz em saber que não sou a única que pensa assim.
Beijos
Oi, Cleo! Estou morando em Tucson há pouco tempo (3 meses) vim com mais uma leva do pessoal do Ciência sem Fronteiras. Lembro de ter lido seu blog antes de vir pra cá e fiquei imaginando como seria… e é exatamente assim! hahaha No começo morria de medo de não gostar, mas confesso que acabamos gostando muito da cidade =) Bom saber que existem mais brasileiros por aqui!
Beijos
Oi Larissa, bem-vinda a Tucson.
Olha, no começo foi difícil me acostumar, mas já faz quatro anos que moro aqui e já me acostumei. Até porque tem coisas legais, além de estarmos próximos de Vegas e Califórnia. Não podia deixar de falar que o Arizona tem muita coisa pra ser vista.
P.S.: O blog não é meu, sou apenas uma colabora 😉
XOXO
Olá! esto uindo em março para ficar com o meu marido enquanto ele faz 1 ano de doutorado em tucson. Sou de Curitiba, quem sabe a gente não se cruza por aí? beijos!
Oi Clarissa, Temos que nos encontrar aqui, ok?
Procure no FB o perfil Brasileiros em Tucson, assim ficará atualizada sobre os eventos da comunidade brasileira daqui.
P.S.: Também sou do Paraná 😉
Beijos
Otimo Cleo ja estou por aqui. Moro no University Arms, pertinho da broadway! Vou ver se t acho no face para trocarmos ideias!!
Oi Clarissa,
Bem-vinda ao deserto. Espero conhecê-la em breve.
Beijos
Que legal, parabéns pelo blog já deu pra ter uma grande idéia como funciona a vida por ai. Em dezembro estarei indo pra visitar a família da minha esposa.
Eu gostaria de saber se há música ao vivo por ai nos restaurantes ou bares?
Muito obrigado!!
Olá Cléo, boa noite.
Gostei de ler o seu texto. Estou me relacionando com um americano de Tucson e estamos fazendo planos de casar e viver em sua casa, nessa cidade. Gostaria de fazer contato com a comunidade de brasileiros residentes aí. Vai ser bom manter contato com nossos conterrâneos . . .
Jacy, lamentamos informar que a Cleo deixou a colaboração do blog. Nossa sugestão é que você procure grupos de brasileiros em Tucson em redes sociais como o Facebook.
Edição BPM
Muito obrigada pela informação Cristiane Leme. Vou aceitar a sua sugestão. Desejo, desde já, um Feliz Natal e um Ano Novo ainda melhor para você e sua família. Beijos 1000.
Pingback: CIDADE DE TUCSON NOS EUA | TucsonBrasil
Oi Cleo, tudo bem? Voce mora em Tucson ainda? Gostaria de informações da cidade.. Obrigada
Olá Gisele,
A Cleo Vassiliou, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM