E mais um ano (cristão) se inicia!!! Que 2014 seja um ano mais tranquilo, com menos TPM e muitas viagens! Que seja um ano sem as loucuras (internas) que foi 2013 e com muito mais bençãos! Que o Ano do Cavalo (que se inicia em 31 de janeiro) seja um ano que possamos pastar
em campos verdes e trotar livres, leves e soltos! Que seja um ano fluído!
Bom, como mencionei no post anterior, aqui, nas Filipinas, se celebra não somente o Natal e Ano Novo cristão, mas também o Ramadan e o Ano Novo Chinês, embora a religião oficial do país seja a católica. Isso acontece pela quantidade de raças, religiões e culturas que é formado o país.
Halo quer dizer mistura em tagalog. Não vejo a cultura filipina como um melting pot, como se tudo tivesse sido batido no liquidificador (na Bahia, por exemplo, os orixás têm seus correspondentes santos católicos e não se sabe onde termina o catolicismo e se inicia a umbanda), mas como uma mistura de pedaços e formas. Comparando-a com o Brasil, se lá vejo uma vitamina de frutas batida no liquidificador, acho que aqui está mais para uma salada de frutas onde se vê claramente a influência cristã, a influência chinesa e a estados-unidense (já disse que prefiro esse termo a americanos!), separadamente.
Aqui, os povos foram chegando e deixavam um pouco de suas culturas, modos e tradições. E, aos poucos, o povo filipino, tão doce e tão servil, os adotou.
Talvez, a docilidade e a facilidade que esse povo tenha de seguir ordens, sem questionar, venham de suas origens mercantes. As Filipinas são um grupo de ilhas (o segundo maior arquipélago do mundo) e, como muitas ilhas ao redor do mundo, têm suas origens no comércio mercante com outros países; no caso, com países do sudeste asiático. E, com esses negócios, entraram em contato com outras culturas muito cedo, assimilando-as de forma passiva como se fossem suas.
Dessa forma, eles sobreviveram ao contato com os chineses, cujas origens datam do século IX, à influência islâmica nos séculos XIV, XV e XVI, à dominação espanhola, que durou mais de 300 anos (de 1521 a 1898, quando a coroa espanhola perdeu as Filipinas para os Estados Unidos, durante a guerra Hispano-Americana), à invasão japonesa e ao controle americano. E, anos mais tarde, celebramos a chegada de 2014, segundo o calendário cristão, à espera de 4712, segundo o calendário chinês e se observa o Ramadan ao mesmo tempo em que tomamos nossos cafés em Starbucks ou comemos nossos hambúrgueres no McDonalds (embora o Jolibees, uma fast food chain local cuja mascote é uma abelha, seja mais popular que a rede do palhaço – que me dá medo. Olha a cara de “It, a Obra Prima do Medo”, que tem o Ronald!). É uma loucura.
Essa característica também é refletida no tagalog, um dos idiomas oficiais (o país tem dois idiomas oficiais e outros oito reconhecidos) que contém mais de três mil palavras de origem espanhola. Isso porque foram adotadas do espanhol todas as palavras para coisas que não existiam antes da chegada dos mesmos. A escrita não é a mesma (kutchara, unibersidad e pasahero vs. cuchara, universidad e pasajero) porque elas foram adaptadas à escrita local, mas soam exatamente como em espanhol.
Atualmente, se adicionou o inglês a essa mistura e, o novo idioma (taglish) é falado pela maioria dos filipinos de classe mais privilegiada. Então frases como “missus, may kutchara ba?” (senhorita, tem colher?) fazem desse um idioma quase compreensível. Só que não.
Ainda assim, com todas essas influências, tudo parece muito bem separado, como se estivessem em gavetas. Muitos locais que aqui nasceram não se consideram 100% filipinos. Parece estranho isso, não? Para mim que, embora tenha sangue japonês, sempre me considerei 100% brasileira, ver alguém que nasceu nas Filipinas dizer que é parte filipino, mas também é parte chinês e parte espanhol porque seu avô materno era chinês e sua avó paterna era de família espanhola sempre me soou muito estranho.
Se isso acontecesse no Brasil, uma pessoa passaria metade da noite descrevendo de onde era, com tantas influências e ascendências. Para mim, seria fácil (meus avós eram japoneses, os quatro), mas tenho amigos que são parte portugueses, parte índios, parte espanhóis, parte italianos e parte holandeses, no mínimo. A raça pura quase não existe. E, essa mistura toda, forma uma nova raça, a raça brasileira.
Entendo, portanto, que seus pais ou avós possam vir de outros lugares, mas, para mim, nacionalidade tem a ver com como nos sentimos, não é? Uma vez li uma reportagem da jornalista Sara Santiago que questionava justamente isso: como um povo pode ser uno quando se divide em tantas outras nacionalidades?
Talvez o Halo-Halo, uma das sobremesas mais tradicionais filipinas, seja realmente a tradução culinária dessa raça composta de partes. O Halo-Halo é uma mistura de raspadinha de gelo e um tipo de creme de leite mais ralo (evaporated milk) que contém feijão (kidney beans), grão de bico, um doce de cana (kaong), tapioca, nata de coco, batata doce, queijo e outros ingredientes, cobertos por pudim de leite (leche flan), um doce de cor roxa chamado purple yam ou sorvete. Tudo separado, servido em uma única taça ou tigela.
Mesmo vivendo há praticamente três anos nesse país, entre idas e vindas, ainda me é um pouco difícil entender a cultura e a mentalidade do povo e sei que corro o risco, muitas vezes, de parecer má e incompreensiva. Mas o fato é que algumas vezes não sei se consigo traduzir em palavras o que eu vejo e sinto e, entre tantas contradições, não consigo simplesmente aceitar.
Aqui, não é costume questionar nada, mas se aceitar tudo que é imposto e, para a questionadora que existe em mim, simplesmente aceitar é algo quase inaceitável. Mas, talvez, ao entender um pouco o passado desse povo feito por partes, eu consiga dar um passo para entender o que acontece no presente.
12 Comments
Oi, Tati! Essa imagem é muito boa: vitamina e salada de fruta. Aliás, outra metáfora gastronômica utilizada para explicar o “jetinho” brasileiro seria a goiabada com queijo. Só mesmo no Brasil para misturar doce com queijo! . BEijos !!
Oi Ju!!! Imagina!!! Aqui, nas Filipinas, eles fazem salada de frutas COM queijo! E o Pichi-Pichi (que eh uma sobremesa a base de mandioca), eh coberto de queijo! Haha! Uma loucura! Beijos!
Embora vivi quase metade da minha vida fora do meu país ..tenho sempre orgulho de ser 100% Filipina.
Tem aspetos da cultura filipina que não concordo..ser subserviente nunca fui e nunca serei … gostei da tua observação .. era bom se você começasse a aprender Tagalog! Ninguem poderia adivinhar de onde vieste rsrsrsrs
Lo, minha linda. I don’t want to blend in! Haha! I was born to stand out! 😉
Eu sei que voce tem orgulho de ser 100% Filipina e acho isso o maximo. Mas eu conheci muita gente que nao tem, que diz que eh parte filipino e parte qualquer outra coisa. Eu, que nasci no Brasil e cresci na cultura brasileira, acredito que nacionalidade tem a ver com como sentimos, com aquilo que nos identificamos. Sempre vou ser brasileira e, acredito, ninguem que me conheca consegue me ver como asiatica. Eu acho que todos deveriam ter orgulho de ser 100% o que sao.
Acredito que nenhum pais seja perfeito. Isso nao quer dizer que tenhamos que nos envergonhar de nossas origens, nossas culturas!
Beijos e obrigada por ler o texto!
Tati amada, seu post como sempre um arraso! toca em tantas questões importantes, questões relativas a identidade ou a falta dela, e como a cultura ( “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade” Edward B. Tylor) tem papel importante no desenvolvimento desta identidade. A língua com certeza é um fator importante de identidade e eu vejo muito aqui na Suica, como pode ser um fator divisor também. Na Suica, mesmo sendo um pais, a mentalidade foi muito influenciada pela cultura que foi impregnada pela língua, temos a parte Alema, Italiana, francesa e ainda a parte Rumantsch, língua morta falada por ca. 3000 pessoas . Naturalmente estamos falando de países e culturas influenciadoras muito diferentes. Nas Filipinas são culturas muito mais hererogeneas que aqui na Suica, o pais é um pais em desenvolvimento, enquanto a Suica um pais desenvolvido e isto tem uma influencia grande no nível de educação, saúde, etc…. Sempre achei interessante ver tambem este desenvolvimento da comunidade japonesa no Brasil, pois todos que conheço que são descendentes mesmo tendo aparência asiática, se sentem brasileiros, e nas outras comunidades também, eu vejo assim mesmo, passamos todas as misturas no liqüidificador! kkkkkkkkk nos tornamos brasileiros com diferentes flavours, colors, texturas….kkkkkk Muito lindo o seu texto, e viva seu espirito inquieto e questionador! Adoro! Namasté linda e que 2014 seja repleta de menos TPM e muitas muitas “Viagens”sejam elas internas ou externas!!!!! Bjus no coração linda!!!!!
Oi Ana!!! Adooooooro você! Haha! De vez em quando, acho que questiono demais as coisas!
As Filipinas são um país bem novo – e eu vivo esquecendo-me disso. Quero dizer, é como o Brasil, um país recente. E acho que não podemos comparar países como as Filipinas e Brasil com países europeus que tiveram tempo para amadurecer e se tornarem o que são. Acho que todos os lugares têm seus defeitos, mas alguns defeitos são mais fáceis de se conviver que outros… Ou, de uma forma bizarra, sempre encontramos os mesmos defeitos nos lugares onde vivemos porque é um problema nosso e não do lugar… #ParaPensar
Mas muito interessante o seu ponto de que a Suíça, país mega-desenvolvido, também tem várias linguas – eu havia me esquecido! E como funciona isso aí? Sei que existe uma divisão, a Suíça francesa, a Suíça alemã e assim vai… Aqui, nas Filipinas, é tudo ao mesmo tempo agora… Muitos têm vergonha de falar em inglês e, uma coisa que esqueci de dizer, é que muitos tem um inglês apelidado de “inglês karabau”. Acho esse termo super denigrante e o odeio… Karabau é o búfalo de água, típico daqui. Então dizer que alguém tem inglês karabau seria o equivalente se disséssemos que alguém tem o inglês tupi, no Brasil… Só que o inglês, aqui, é um dos idiomas oficiais.
Algumas vezes, acho que os filipinos são preconceituosos em relação a eles mesmos… E descontam isso nos foreigners. Sabe quando não aceitamos aquilo em nós mesmos e, ao invés de darmos risada dos nossos defeitos, ficamos revoltados quando alguém os aponta? Exatamente o que acontece por aqui…
Acho, no entanto, interessante essa mistura de culturas que forma as Filipinas… Ela não é homogênea, como a nossa cultura, mas heterogênea. Acho isso bem louco e fascinante ao mesmo tempo!
Um beijo e obrigada por ler o texto!
Muito bom seu texto, concordo plenamente que muitos filipinos negam sua origem. Uma vez uma filipina que conheci, nasceu aqui, e me disse que era descendente de espanhol. Perguntei se ela falava espanhol, ela respondeu exatamente assim: – Falo sim, o inglês que é minha primeira língua e espanhol a minha segunda língua.
Então eu perguntei: – E Tagalo?
A resposta dela: – É, também falo, mas é a minha terceira língua. E só uso para me comunicar com meus empregados.
Outros comentários farei pessoalmente quando nos encontrarmos!!
Beijos:-)
Re, o café esfriou (ou seja, temos que tomar frappuccino porque demorou muito para marcarmos um encontro! Hehe!)!
Eu nunca entendi o conceito metade-metade porque eu me considero 100% brasileira. Nem ligo quando dizem que sou mistura, de brasileiro e japonês, porque não tenho mais paciência para explicar que, embora tenha sangue 100% japonês, sou 100% brasileira: isso é algo que não se entende. Um dia, um colega começou a questionar minha nacionalidade, com base no meu sangue e eu disse: nasci no Brasil; portanto, sou brasileira. Ele, ainda assim, não entendeu.
Acho que somente quem conhece brasileiros entende esse conceito. Ou o aceita. =)
Um beijo, linda!!!
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Eu nunca consequi entender as filipinas, eles são orientais mais são católicos diferente do que se espera até porque em muitos dos paises do extremo oriente o budismo predomina fortemente, além disso eles tem sobrenome espanhol (será que eles mudaram o seu para um equivalete espanhol especifico ou isso foi do gosto de cada núcleo famíliar). Enfim eu acho as filipinas um pais muito lindo em termos naturais, mas em termos culturais, com o perdão da palavra, eu acho muito triste o fato de eles terem toda essa mistura envés de terem uma cultura única. Isso pode ir contra a sua opnião mas é o que eu acho, porque pra mim a Ásia sempre foi especial por ter fugido fortemente da invação da cultura ocidental, pra mim eles sempre foram unicos e totalmente diferentes de qualquer outro lugar no vulgo os paises orientais tem em algum lugar dentro dele a frase ” eu so mais eu” apesar da sua (menor) ocidetalização e as filipinas corta esse padrão.
Oi Gabriel! Obrigada pelo seu comentário!
Eu tenho inúmeras críticas aos filipinos, mas a mistura de culturas não é uma delas. Para mim, a presença de diversas culturas é uma característica de países colonizados, como há também no Brasil: temos raízes índias, negras, portuguesas, italianas, espanholas e tantas outras que seria hipócrita dizer que há uma cultura brasileira! Sobre os sobrenomes, eu não pesquisei sobre isso, mas me disseram que cada família teve que escolheu seu sobrenome, por causa dos colonizadores. Acho que antes eles não tinham sobrenome…
Acho interessante esse conceito de que a Ásia tenha “fugido fortemente da invasão da cultura ocidental”. Acho que a Ásia é um grande mistério, mas é bastante inocente essa presunção. Hoje em dia, os asiáticos estão cada vez mais viciados em chocolate que é uma fruta das Américas. O Vietnam, que é um país bastante fechado, tem, por exemplo, os melhores pães e café de todo o continente, em minha opinião, e isso é influência dos seus colonizadores, os franceses. A decoração de Natal em Singapura rivaliza com a decoração de NYC. Acho que, embora tenham conservado muitas de suas raízes culturais, todos os países sofreram sim influência de outros, em maior ou menos grau.
Sobre a religião, embora o budismo esteja bastante presente no continente, há outras religiões. O maior país muçulmano do mundo, por exemplo, é a Indonésia que está no sudeste asiático. Acho que temos a tendência de considerar o todo por uma parte (não é uma crítica; eu também sou assim), mas, no fundo, acho que o importante é aceitar as coisas como elas são; também já quis entender muito, mas isso, talvez, seja o menos importante!
Obrigada outra vez! Um beijo!