Não imaginei que falar sobre filmes renderia 3 textos, mas, além de existirem mais filmes do que eu me lembrava, vale a pena mencioná-los. Na parte 1, falamos dos filmes que dão impressões ruins de Istambul e na parte 2, sobre os documentários que merecem ser vistos por você, que pretende conhecer de perto essa cidade encantadora e cheia de mistérios. Agora, na parte 3, e última (ufa, né?), vamos falar de filmes que mostram uma Istambul bem turística e cosmopolita, mais perto da forma como eu a vejo.
Inferno (2016): Depois de O código Da Vinci e Anjos e demônios, Inferno é o terceiro filme de ação, suspense e mistério da sequência do diretor Ron Howard, baseado nos livros de Dan Brown. Por curiosidade, este é o quarto na coleção dos livros, e não o terceiro. Istambul não é muito citada no site sobre o filme. Na sinopse, fala-se da Itália e até de ter sido filmado em Budapeste, que nem é mencionada no filme, mas Istambul aparece da metade em diante. É possível ver o Bósforo, estreito que separa o continente europeu do asiático; a Hagia Sophia, cartão postal de Istambul; e, ali pertinho, está a Basílica Cistern, aonde acontece grande parte da trama. Atenção para um leve spoiler, mas é bem leve: o legal desse filme é que, quando eles estão tentando desvendar o mistério e salvar o planeta (bem do jeito que Hollywood adora), um dos personagens conta um pouco sobre a história da Basílica Cistern, a maior cisterna da cidade durante o Império Bizantino. Além da parte turística, também aparece uma das maiores universidades do país, a Istanbul Universitesi, assim como atores locais, falando inglês com sotaque tipicamente turco, então dá pra me sentir bem em casa mesmo.
Busca Implacável 2 (2012): O filme segue a mesma fórmula, a busca pela filha, e está relacionado com fatos do primeiro filme, mas como o foco dele é ação, mesmo sem ter visto o primeiro, não é nada difícil entender. A filha do ex-agente da CIA, desta vez, corre perigo não em Paris, mas em Istambul, nas ruas estreitas de paralelepípedos, típicas de cidades mais antigas e super inclinadas, mostrando que Istambul é realmente uma “cidade de sete morros”, como é famosa na Turquia. As cenas nas ruas me lembram como não é uma boa ideia dirigir aqui (mais detalhes sobre isso, conto num futuro texto). O filme vale a pena porque é possível ver a “Velha Cidade”, parte turística de Istambul, mas, se for para escolher pelo roteiro, Ron Roward e Tom Hanks vencem disparadamente.
O tempero da vida (2003): Meu favorito de todos desta lista, por vários motivos além do roteiro. Para começar, foi escrito, dirigido e co-produzido pelo diretor e físico grego Tassos Boulmetis. Definido por ele mesmo como seu “xodó”, por ter sido inspirado em sua própria vida, o filme se tornou número 1 na Grécia. Ao perguntar para uma amiga grega sua opinião sobre o filme, eu tive uma resposta bem significativa: “Ele mostra o quão gregos e turcos são próximos em cultura, tradições, comida, e não importa o que os políticos façam, nós podemos nos amar.” Isso porque o filme conta a história de um menino grego que mora em Istambul e, ao ser deportado, se distancia de seu avô, parceiro de histórias e ensinos culinários, e de sua melhor amiga. Ele faz uma mistura de história, política e poesia ao narrar sua vida. Como o filme se passa na década de 1960, a Istambul que vemos não é tão nítida, nem atual, mas é possível ver outros aspectos, como comida, e como eles são orgulhosos dela, costumes familiares etc. Você pode ver o filme completo e dublado em português aqui ou, se você entende grego e turco, aqui.
Trama internacional (2009): O filme é inspirado no caso real do BCCI (Bank of Credit and Commerce International), escândalo financeiro que ocorreu no final dos anos 1980. Seu nome faz jus à história que se passa nos EUA, Alemanha, Itália, França e Turquia. Para quem gosta de ação, mistério e investigação criminal, a história é interessante. E, para quem quer ver um pouco de Istambul, ela aparece nas últimas cenas, a partir de 1h20min de filme, mas é possível ver bem a Ponte de Gálata; uma parte da Hagia Sophia nunca mostrada, onde tem vários pilares e pedaços de mármore da época Bizantina; e a Basilica Cistern, que, ao contrário do filme Inferno, nesse ela está completamente vazia.
Moscou contra 007 (1963): Você pensava que o único James Bond a ir para Istambul era o Daniel Craig, né? Eu também, contudo, Sean Connery foi primeiro! Esse é o filme do James Bond que eu, particularmente, mais gostei, por ser mais realista e misterioso do que cheio de morte; pelo fato da mocinha não ser mostrada como indefesa e frágil, isso em 1963; e também, claro, por mostrar Istambul com o charme e encanto que ela merece, podendo ser vista de vários ângulos: a Mesquita Azul; a Hagia Sophia por dentro; a Basilica Cistern (de novo!); além do antigo aeroporto (que é tão menor que o atual); a balsa que atravessa o Bósforo (lindo); e o trem saindo da Estação Sirkeci (totalmente diferente hoje, onde é o Marmaray, metrô que atravessa do lado asiático para o europeu, e vice-versa).
007 – O mundo não é o bastante (1999): A trama gira em torno de milhões de dólares e petróleo na região do Mar Cáspio (parece até a realidade…). Como existe um interesse em construir um oleoduto que transporte o petróleo para o Ocidente, é bem lógico que Istambul apareceria em algum momento, já que ela é a cidade que faz divisão entre Ásia e Europa. As cenas em Istambul mostram a Kiz Kulesi (Torre da Menina) e uma ilhazinha com uma torre (hoje é apenas um restaurante) que fica no meio do Bósforo, mais especificamente perto de Üsküdar. Curiosamente, as cenas que mostram o lado de fora de um palácio em Baku, Azerbaijan, foram, na verdade, filmadas em Beykoz, Istambul.
007 Operaçao Skyfall (2012): Eleito por críticos como o melhor de todos os filmes da série James Bond, Skyfall traz mais equilíbrio entre ação e drama, com um pouco de humor, claro. Depois de tanto tempo, ele se aproxima mais do estilo original do que os últimos antes deste. Além disso, ele se aproveita de uma situação e quase desiste (olha só, que humano isso!), o que deixa a história mais realista. Istambul aparece bem no início e conseguimos ver as lotadas ruas de Eminönü; o Grand Bazaar (um dos primeiros centros comerciais fechados do mundo); e, também, outras localidades turcas além da capital, como a cidade de Adana (o viaduto) e a praia de Fethiye (quando ele decide descansar).
Uma curiosidade sobre localização de filmes é a do filme Tróia, que apesar da antiga cidade de Tróia ser localizada onde hoje é Çanakklale, na Turquia, ele não foi filmado lá, mas em Malta, e no México.
Claro que existem outros filmes, ou novelas e séries que mostram Istambul e os turcos, mas precisaria de outras partes deste texto para falar deles, são muitos! Além de que, eu não gosto do estilo turco de televisão, tem pouco enredo e é um drama sem fim, mas, mesmo assim, os turcos acham as novelas mexicanas (que eles acham que são brasileiras) dramáticas, vai entender! Bom, falo disso num próximo texto.