Desde o 11 de setembro de 2001, o mundo não foi mais o mesmo. Palavras e conceitos como ataques terroristas, atentados, guerra ao terror, Primavera Árabe, islamofobia, entre tantos outros, passaram a fazer parte de nosso vocabulário com a virada do século XX para o XXI. Lembro-me de ter ouvido falar em ataques terroristas antes, pela TV, em notícias sobre atentados provocados pelo IRA na Inglaterra, pelo ETA na Espanha, pelo Hezbollah na região do Oriente Médio, ou mesmo ações das FARC, na Colômbia, mas era isso, somente pela TV. Por isso podemos nos perguntar: há possibilidade de um ataque terrorista na Polônia?
Em uma outra categoria, distinta do conceito de terrorismo, mas não menos horrível, via também falar sobre ataques perpetrados por grupos xenófobos, racistas, ou por sociopatas, isoladamente. Neste caso, geralmente, as notícias vinham dos EUA, mas também houve casos no Brasil.
Terrorismo na Europa
Então, como podemos ver, na verdade, este conceito não é novo, mas mudou-se apenas seus autores e suas motivações. E vivendo hoje na Europa, vejo essa realidade de perto, não mais pela TV. Madri, Copenhague, Paris, Bruxelas, Londres, Nice, Istambul, Berlim, Barcelona, e até mesmo a pacífica Finlândia sofreram atentados terroristas desde 2001 até hoje. Como a Daniela falou aqui, estamos, cada dia mais, tentando não apenas nos adequar a esta realidade, sobre como nos proteger e evitar possíveis situações de risco. Fazendo uma comparação, ainda que não seja tão precisa, pois são coisas e realidades diferentes, são precauções similares as que tomava quando vivia no Brasil, com relação a crimes e violência em geral.
A Polônia, até então também tida como pacífica, já não pode ser mais considerada tão neutra e segura assim. Tem ocorrido com mais frequência – como por toda Europa – ordens de evacuação de áreas públicas, como em estações de trem (a última vez foi no dia 21 de agosto, na Dworzec Centralny, a Estação de Trem Central de Varsóvia) e de metrô (no dia seguinte, 22, na Dworzec Wileński), devido o aparecimento de algo suspeito, como sacolas deixadas/esquecidas nestes locais.
Procedimentos padrão de segurança
Por aqui sempre houve este procedimento de evacuação, por qualquer coisa suspeita, por menor que fosse. Quero frisar que esta é uma ação de segurança comum, uma vez que mesmo bombas ainda da II GM são encontradas não apenas em Varsóvia, mas por vários lugares da Polônia (a última foi na cidade de Łódź), ou seja, há um protocolo preventivo a ser seguido que funciona muito bem, desde o chamado ao rápido isolamento e evacuação das áreas em questão.
O último fato que ocorreu em Varsóvia e acendeu a luz de alerta – pelo menos para mim, pois para ser bem sincera, não considerava que a Polônia em si fosse um alvo – foi o que ocorreu no último dia 24 de agosto, quando um israelense de 24 anos foi preso por atacar um policial, ao ser abordado por estar portando uma faca e em atitude suspeita na região da rua Nowy Świat, uma das ruas mais movimentadas e turísticas de Varsóvia. Nesta mesma rua ocorreria, no dia seguinte, o show da banda de rock americana Allah Las. A conexão veio pelo fato da banda ter tido seu show em Roterdã cancelado, após o governo holandês ter recebido um alerta do governo espanhol (o atentado em Barcelona ocorreu no último dia 25 de agosto) e ter encontrado um furgão com botijões de gás, nas proximidades de onde ocorreria o show.
Ataque terrorista na Polônia, é possível?
A Polônia, como faz parte da Convenção de Schengen, não possui fronteiras (no sentido de livre circulação) com os outros 25 países também pertencentes à Área Schengen. Ou seja, apenas por isso, a vulnerabilidade de países que já sofreram ataques como França, Alemanha ou Espanha – por exemplo – é a mesma, embora a probabilidade de um ataque ocorrer na Polônia, diante das circunstâncias, seja bem menor, porém, não nula.
Alguns poderiam apontar que o fato do governo polonês ainda não ter aceitado a começar a receber refugiados que buscam asilo, como outros países da UE fizeram, a torna relativamente segura, mas o que pode ocorrer, é justamente o contrário: seja num caso isolado de “justiça com as próprias mãos” ou algo maior, deliberadamente planejado por grupos terroristas, mais notadamente, o ISIS, a Polônia poderia sofrer uma retaliação por conta do posicionamento do atual governo com relação à questão dos refugiados. Então se pensarmos por este viés, sim, a Polônia poderia ser alvo também e não estando 100% segura e isolada.
E afinal, há motivo para pânico?
Além da questão levantada acima, também há riscos de algo acontecer por parte de grupos nacionalistas, de forma isolada ou organizada. Não há indícios reais – diria mesmo que é uma probabilidade remota – mas o fato é que estranhamentos não só a estrangeiros, mas a minorias aqui, como muçulmanos, em geral, sobretudo pelos costumes bem distintos e – na concepção destes grupos nacionalistas – pela possibilidade de descaracterizarem a cultura polonesa, existe, e tem crescido, principalmente após ascensão do PiS (partido do atual governo) no poder, permitindo que tais grupos ganhem mais voz, pelo seu discurso nacionalista, em prol de sua agenda política, de “resgatar os valores e a soberania polonesa”.
Enfim, o que quero dizer com este texto não é algo para amedrontá-los e desencorajá-los a vir à Polônia, seja a turismo ou para morar. Pelo contrário. A Polônia, assim como a Europa em si, é sim segura, vivemos aqui normalmente e mesmo nos lugares onde houve ataques/atentados, a vida continua – e deve continuar! – normalmente, pois a atual situação que vemos em todo mundo não é fácil, seja por fome, miséria, exploração, guerras, violência, terrorismo, catástrofes, etc. Na verdade nunca foi, desde que o mundo é mundo, como dizem.
Mas diante deste novo e complicado século – e agora não mais recebendo notícias da TV, mas estando tão perto do que acontece – o que devemos fazer, na medida do possível é, sim, tomarmos mais cuidado e sermos mais precavidos e atentos, caso haja algo suspeito a nossa volta, ainda que não tenhamos como saber onde e como será o próximo ataque.