Quarentei na quarentena: um resumo de 2020.
Bem, estamos chegando ao final de 2020. Confesso verdadeiramente que não imaginava que fosse completar 40 anos neste cenário.
Este não é um texto informartivo, opinativo ou qualquer coisa semelhante. Talvez uma pretenciosa crônica sobre estes tempos de pandemia. Mas o que eu gostaria mesmo é de compartilhar com vocês algumas divagações sobre como eu imaginava este ano e como ele realmente foi. Vamos lá?
Depressão, divórcio e a decisão de ficar
Aos 20 anos, imaginava que, à minha chegada aos 40 anos estaria: casada, com filhos, bem-sucedida (seja lá o que isso queira dizer), feliz, vivendo numa casinha de sapê. Ok, não vivendo numa casinha de sapê, mas provavelmente em São Paulo -ou no Recife -, pois morar no exterior, embora fosse um sonho, era algo bem longínquo.
Bem, 2020 aqui estou: divorciada, sem filhos, contente com meu trabalho (ainda bem, sobretudo em tempos de pandemia) e vivendo na Polônia. Sim, decidi ficar neste país, após quase ter voltado (de mala e cuia, na correria) para o Brasil.
Um pouco antes do meu divórcio, eu passei por um processo de depressão, entre 2017-2018. De fato, não é nada fácil enfrentar isso estando longe da família e do país de origem. Estava me sentindo sozinha, infeliz e longe da minha família. Mesmo assim, continuava sorrindo, como se nada tivesse acontecendo.
Enfim, meus amigos me deram o suporte que eu precisava e me fez acender uma luz também: aqui também é sua casa, como ficaríamos sem você?
Leia também: Saudades em tempos de pandemia
Mas com ajuda de minha nova família (leia-se, meus maravilhosos amigos) eu consegui superar isso. Eles me deram o suporte que eu precisava.
Isso me ajudou a encarar o divórcio de uma forma não tão extenuante. Comecei a encarar minha experiência de vida sob um outro ponto de vista.
Me fez entender também que eu já tinha uma vida construída aqui. E que também estava tudo bem em recomeçar.
Bem, é verdade que ainda luto para falar o polonês linda e fluentemente, mas me sinto muito mais à vontade para fazer coisas de forma independente, como no Brasil. Mas o que seria a vida sem desafios, não é mesmo?
Aproveite cada momento. Sonhe, mas realize.
Esqueci de mencionar que, outro fator que contribuiu para mudar a vida que não ia bem, foi a morte de um ente – mais que querido – no Brasil.
Para fazer um breve resumo: eu perdi um de meus tios mais próximos em novembro de 2018. Apenas um ano antes, em 2017, estavámos planejando sua tão sonhada visita à Polônia e Europa (Portugal e Itália, seu sonho).
Na minha última ida ao Brasil, 2017, sentamos num restaurante japonês na Liberdade e anotamos tudo o que era necessário para a viagem. Ele sempre fazia questão de tirar alguns dias para passear comigo, quando estava em São Paulo.
Quando soube de sua morte repentinamente, pensei: o que estou fazendo aqui? Porque tenho que estar aqui? Fiquei muito triste por não ter me despedido dele. Pensei em meus pais. Pode acontecer a qualquer hora, a qualquer momento, quando estamos tão longe.
Enfim, isso tudo foi antes da pandemia. Ainda bem. Não sei como teria encarado tudo isso durante a pandemia.
O ano da virada
2019 foi o ano do renascimento. Literalmente. Eu me senti como a Mari descreveu aqui: me senti plena na virada do ano. A sensação que tinha era: voltei a ser quem eu era. Aí ninguém me segurou mais.
Posso dizer que o último ano da era dos 30 foi sensacional. Eu percebi que poderia fazer o que quisesse, ser quem eu realmente era. Eu renasci, verdadeiramente.
Passei a dar importância para o que realmente importava, a não me cobrar tanto (por exemplo, ter ou não ter filhos, já tinha 39), e simplesmente viver. Parece bobo o que digo, mas quem já superou um quadro depressivo sabe do que estou falando. É realmente libertador.
Não guardo mágoas ou rancores de nada ou de ninguém. Simplesmente deixei boa parte do peso no passado. Bem, tive que mudar de casa também, e posso dizer que, sim, com menos peso – e pesar – é bem mais fácil.
2020, quarentando em plena pandemia
Mesmo sem poder (economicamente falando), há exatamente um ano, decidi ir para o Brasil em dezembro pelo Natal, aniversários, e família. Foi a melhor coisa que fiz. Também tive que encarar, pela primeira vez, que meu tio querido não mais estava lá para passear e viajar comigo. Mas isso foi muito bom, inclusive, para entender a questão do luto.
Abracei como nunca (ou como se tivesse sido a última vez), meus pais, meu irmão não muito dado a abraços, minha amada – e forte – avó, aos 95 anos. Minha amada afilhada – que tinha completado 9 anos, enquanto eu, felizemente, estava lá. Abracei e curti muito toda minha querida família e amigos.
Aí veio a pandemia. Passei pela Itália em janeiro, talvez o vírus já estivesse circulando por lá. Lembro-me que tive uma gripe/resfriado bem forte em fevereiro deste ano.
Não sei se já era o Covid. Só sei que, no meu aniversário de 40 anos, em março, meus amigos fizeram uma comemoração surpresa e enfim, foi o último encontro presencial antes do lockdown na Polônia. Sim, quarentei na quarentena.
O que aconteceu depois é o que vocês já sabem. Aqui mesmo no BPM podemos ver vários relatos sobre a pandemia pelo mundo.
Como estamos hoje e o que virá
Hoje, me sinto bem comigo mesma, embora o mundo não esteja tão bem. Porém me sinto imensamente grata por todas as coisas positivas – e também aos aprendizados – na minha vida.
Vejo a vida de uma forma infinitamente diferente. Comecei a dar valor para o que realmente importa, embora já seguisse essa filosofia – vamos colocar assim – há algum tempo.
Não comprei roupas este ano. Quase não me maquiei. Não fui a festas. Praticamente não usei transporte público. Comecei a trabalhar em homeoffice (o que odiava antes, e hoje, confesso que gosto muito). Viajei uma vez durante a pandemia, sem cruzar as fronteiras. Mas viajei muito nas ideias… Após muitas reflexões e divagações, vejo que é possível sim, recomeçar aos 40.
Estou muito mais leve, menos agitada. Estou aprendendo outra língua, agora o francês. E planjando – nem tanto – coisas para o futuro. Pois, afinal, tudo pode não acontecer.
Eu espero, verdadeiramente, que vocês consigam entrar em 2021 com bastante leveza e sem muita cobrança. Mas se, por acaso, vocês se cobrarem muito por sonhar demais e não conseguir realizar metade dos seus planos, não se preocupem, isso é humano, demasiadamente humano. Apenas desacelere, escute mais e olhe para o que está à sua volta.
E como humanos sonhadores que somos, continuemeos a planejar, a sonhar e a nos frustrar e recomeçar, até que um dia não estajamos mais aqui. Isso tudo é absolutamente normal.
Feliz 2021 a todos nós!