Este texto fala sobre a hora de dizer adeus e despedida dos amigos brasileiros.
Amigos de todas as tribos
Adaptação é um tema constante quando falamos da mudança para o exterior. Acredito que a melhor estratégia para se readaptar é fazer amigos, principalmente, um amigo brasileiro. Amigos americanos, indianos, chineses, suecos, franceses, italianos, senegaleses… todos eles ajudarão na adaptação. Os amigos americanos, nos ensinam onde fazer compras, indicam os bons restaurantes e ainda aprimoram o nosso inglês. Os amigos “internacionais”, melhoram a nossa visão de mundo, quebram paradigmas, preconceitos e melhoram nosso paladar por coisas novas. Também nos ajudam a entender que no fundo somos todos iguais. E todos queremos as mesmas coisas da vida: saúde, segurança, conforto, prosperidade e amor. Porém, ter um amigo brasileiro é fundamental.
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Amigos brasileiros
Amigos brasileiros são a cereja no topo deste bolo multicultural da vida no exterior. Com o brasileiro, nossa conexão é diferente, pois nossa “base” é a mesma. Desde que cheguei aqui em Buffalo, fiz amigos brasileiros de todos os cantos. São Paulo, Rio, Paraná, Brasília, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Amazonas e Paraíba! Hoje em dia, começo as frases com oxente e termino com bah! Falo mano com sotaque carioca. Coloco diminutivo em tudo como um bom mineiro. Com os amigos brasileiros, aprendi onde comprar Guaraná Antártica e fazer pão de queijo. A brasilidade nos aproxima, apesar das nossas diferenças. Por exemplo, um americano te dá boas vindas e deseja boa sorte. O brasileiro, te dá um abraço, troca telefone, adiciona no Facebook e te chama para comer na casa dele.
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Quando o temporário vira permanente
Conheci uma dezena de brasileiros ao chegar em Buffalo. A maioria estava aqui através do programa Ciências Sem Fronteiras e ficaria por apenas um ano e meio. Além deles, conheci outros estudantes de mestrado e doutorado. Estes chegam para uma permanência de 2 a 5 anos. No primeiro ano, nosso almoço de domingo era sagrado. Eu saía da missa direto para encontrá-los, testar um restaurante novo e jogar conversa fora. Era meu dia da saúde mental. Nada como rir e desabafar em português!
A amizade deles foi minha força na adaptação e até hoje é essencial para jornada. Enfrentamos momentos bons e ruins juntos. Cuidamos um do outro quando alguém adoece ou está triste. Nos apoiamos quando a saudade de casa aperta. Entre caronas, remédios, ligações no meio da noite, colchão emprestado, comida feita juntos, viagens, tempestades de neve, ajuda na mudança, choro na Copa do Mundo, horas extras na pesquisa e correria do dia a dia, a amizade temporária se tornou permanente. Estes amigos viraram irmãos, padrinhos de casamento, confidentes… e estamos na vida um do outro para sempre.
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Hora do adeus
Como muitos de nós chegam com bolsa de estudos, a despedida é certa. Então, já em 2014, alguns amigos começaram a ir embora. Adoraria escrever algo para ajudar quem está passando por essa despedida, mas a verdade é que não aprendi a dizer adeus, mesmo quando este adeus é apenas um até logo. Escrevo uma carta, compro uma lembrancinha, planejo o que vou dizer, mas na hora da despedida só sei chorar.
É difícil ver seu amigo brasileiro ir embora, por mais que a gente saiba que essa hora chega mais cedo ou mais tarde. Cada amigo brasileiro que se mudou, levou uma parte de mim com ele. As memórias, as histórias, o apoio nas horas difíceis foram e ainda são muito importantes. A vida de expatriada ficou mais leve com eles. A gente torce pela felicidade deles e torce também para nos encontrarmos de novo em breve.
Reencontros pela vida
Uma das melhores sensações é receber a visita de um amigo brasileiro. Seja de alguém que está no Brasil, seja de alguém que estava com você no exterior anteriormente. É como se trouxessem todas as coisas boas do Brasil na mala. O reencontro, as conversas sobre o que aconteceu nos últimos meses (mesmo que vocês tenham se falado por FaceTime e nas redes sociais o tempo todo), trazem um aconchego sem igual. Existem amigos que vejo todo ano, desde que se mudaram. Nos encontramos no Brasil ou em algum lugar dos EUA. Recentemente, fizemos uma festa para comemorar o aniversário do meu marido e o meu, e tivemos a casa lotada de amigos. Daí vem a alegria do reencontro e também uma nova onda de saudade.
Somos brasileiros de regiões diferentes e com histórias diferentes. Nossas vidas talvez nunca se cruzariam no Brasil, mas nos encontramos aqui e nos identificamos. Viramos uma família. Encerro este texto com um recado especial para você que está se despedindo de um amigo brasileiro. A saudade será grande, mas a alegria de ver um amigo feliz fará tudo valer a pena! Acredite, vai dar certo!
4 Comments
Texto lindo Carle! Para mim,que sou filha única, é impossível pensar em família sem incluir nela os amigos! E um amigo faz toda diferença mesmo! Se faz diferença aqui no nosso País, no dia-dia, imagino como possa ser o suspiro de alívio aí em outro país, em outra língua, outros costumes!
Obrigada, Mari! Amigos fazem toda diferença mesmo , os de perto e dos de longe 😉 São uma família pra nós, filhos únicos!
Carleana, seu texto descreve com exatidão a questão da amizade quando somos expatriados. Gostei muito como você abordou esse tema, que pode ser muito nostálgico.
Um abração.
Muito obrigada, Alessandra! O vínculo da amizade toma uma dimensão especial para nós expatriados! Que bom termos esse vínculo para amenizar a saudade!
Grande abraço,
Carleara