Eu pensei em começar com um texto cheio de listas de documentos para quem quer casar na Alemanha, mas decidi que é mais importante desvendar o terreno antes de deixar alguém adentrá-lo. Afinal, qual é a importância do casamento na Alemanha? Praticamente nenhum, se falamos de questões amorosas. Alguns fatores fizeram o casamento, ou melhor, a oficialização de uma união através de documentos perder a importância.
As alemãs, dentro do contexto atual de sociedade, são consideradas independentes em todos os sentidos. Possuem vontades, objetivos e motivações próprias sem que precisem consultar família, religião e muito menos marido. É claro que o mesmo pode-se dizer dos homens e, talvez por ambos quererem aproveitar todos os benefícios dessa liberdade, é comum que as pessoas se casem mais tarde e tenham filhos após 30 anos. A carreira também é muito importante para ambos os sexos e mais um motivo que atrasa cada vez mais uma união oficializada.
Religião:
O sul da Alemanha é oficialmente católico e o norte, protestante. Na prática, a maioria dos alemães são ateus e não vêem tanta importância no casamento como nas famílias religiosas. Mas nem por isso, os alemães deixam de ser relacionarem e viverem juntos. Aquele famoso “se juntar” é muito comum por aqui. Assim como no Brasil, uma relação estável ganha alguns direitos sem que seja necessário casar. Então, porque ainda existem alemães que decidem assinar os papéis e colocar a aliança no dedo? (Só para constar… No dedo direito!)
Além de uma minoria que vive o sonho de casar com véu e grinalda, existem aqueles que decidem pelos benefícios econômicos. Quem casa, paga menos impostos logo, muitos preferem oficializarem a união para engordar o bolso.
Veja bem, não é uma questão de interesse financeiro na hora de escolher o parceiro, como vimos no texto da Christine sobre “Casamento na China” mas um interesse mútuo em ver um salário com menos descontos. O final feliz para o a história de amor alemã definitivamente não está na assinatura da certidão de casamento; tem a ver com a relação amorosa e o desejo (ou não) de viverem sob o mesmo teto.
E aqui descrevendo o casamento, voltei aos tempos de curso de integração e procurei meu livro que fala sobre os modelos oficiais de famílias no país:
Família tradicional, Família em que ambos têm salário, Família moderna, Família patchwork, Família arco-íris, etc.. Se você achava que já é suficiente, eles ainda classificam os casais sem filhos.
Agora que você conhece o terreno, é hora de sentar com a cereja do seu sunday e decidir se casam ou não; na Alemanha ou no Brasil; viver no Brasil ou na Alemanha? Todas as opções têm pontos positivos e negativos.
Caso tenha escolhido casar aqui, o primeiro passo é entrar em contato com o cartório de registro civil da cidade onde se pretende casar e perguntar qual documentação é necessária. O número de documentos muda de cartório para cartório e depende também do estado. Porém, existem alguns documentos que com certeza entrarão na sua lista e estão bem explicados aqui. Não tem como fugir da montanha de papéis e se você não tem um passaporte da EU e pretende morar aqui após o casamento, não se esqueça de dar entrada no visto com antecedência de 6 à 8 semanas antes da viagem. Se, ao apresentar todos os documentos que você tirou, traduziu e legalizou no consulado ninguém ao menos passar o olho por ele, não chore. Você não está sozinha nessa causa!
Um tradutor simultâneo também é necessário para quem não fala alemão. Agora o melhor conselho que posso dar mesmo é: anote o nome de todas as pessoas com quem você falou, juntamente com horário e data; peça protocolos se possível. Imprima as informações da embaixada e deixe sempre com você em qualquer requisito tanto do cartório quanto da embaixada.
Se tem uma coisa que eu aprendi nesses três anos de Berlim é que tudo pode correr inacreditavelmente bem e com uma eficiência surpreendente. Mas você pode ter o grande azar de necessitar lutar por cada detalhe da sua documentação e, sem argumentos, não dá! Existem funcionários públicos que não sabem nada sobre os direitos e leis para estrangeiros e, caso você não esteja bem informada/o, eles levarão tudo para o caminho mais complicado.
Agora uma dica especialmente para quem quer casar no religioso: católicos precisam comprovar que fizeram comunhão e ainda participar de um curso para noivos. No Brasil, sei que muitos padres “modernos” não pedem o curso, mas até hoje nunca ouvi alguém falar sobre um padre moderno assim por aqui… No máximo você conseguirá convencê- lo de fazer o curso no Brasil!
Ah! Católicos e evangélicos (leia-se protestantes) pagam imposto. Só quem contribui, tem direito de usar os serviços da igreja como casamento e batizado. O imposto é uma forma de manter os programas sociais e culturais da igreja. Cheguei já casada, fui me inscrever como residente na Casa Civil (Bürgeramt). Veio a pergunta “católica ou protestante?” e a minha resposta “nenhum dos dois!”. Tudo indo muito bem até eu começar a trabalhar e ver na minha folha de pagamento um singelo desconto da igreja católica!
Após explicar para um funcionário do Finanzamt (órgão que fiscaliza os impostos) toda a via sacra de não ser católica, recebi a notícia de que sou casada com um católico e automaticamente fui considerada católica. Afinal, católico só casa com católico… Oi? E ai veio a surpresa! Para se inscrever na igreja é um processo rápido e gratuito, mas sair, ah meu bem… Você precisa preencher um formulário e pagar uma taxa.
Continuei “católica” pelo simples prazer de evitar, mais uma vez, perder meu tempo me explicando e, porque, no fim das contas, vovó católica ficará feliz em saber que meu lugar no céu está guardado já que ajudo financeiramente projetos sociais e culturais da igreja.
O blog tem outra materia sobre casamento, dessa vez na Dinamarca!
14 Comments
Adorei a matéria! Quem quer juntar os trapinhos na gringa precisa pensar em tantas coisas mais. Como o lugar onde vivemos influencia na nossa vida! Bem legal, parabéns Bárbara!!!
Valeu Pinga! hehehe
Realmente influência mto, até mais do que podemos imaginar em alguns casos 😉
Grande beijo
Bá
Muito bom, Barbara! Vc me fez lembrar quando me casei, no Brasil, numa igrejinha na praia, em Juquehy (SP). Igreja catolica. Meu marido, anglicano. Fomos falar com o padre, que falou falou falou e meu marido nao entendeu nada. Ai o padre disse, bem, entendo que vc eh catolica e seu marido anglicano. Mas voces dois precisam assinar aqui este documento dizendo que irao criar os filhos na fe catolica!!!!!!!!!!!!!! Ate hoje meu marido diz que ele acha que, ao terminar, o Padre ligou para o arcebisco de Canterbury e falou (I’ve got another sheep from you!). Hehe…..
hahahaha adorei!
Olha, eu tbm faria piadas desse tipo se passasse por isso hehehehe
Bjobjo
Ótimo texto! Super interessante esse lance sobre os impostos divididos por religião haha! Impensavel aqui na Noruega, onde a religião não tem muito espaco. Você sabe o que acontece com as outras religiões, como o islamismo, por exemplo? Tambem fiquei curiosa, as pessoas acabam não conseguindo se autodeclarar ateus?
Adoro abrir uma pagina e deixá-la tendo adquirido conhecimento! Texto muito bom! Bjs
Oi Denise que bom que gostou.
Na verdade, esse imposto é por uma questão histórica. Durante o tempo do comunismo, tanto a igreja católica como a protestante ajudaram e muito a população na luta por liberdade e também pela unificação da Alemanha. Eles ajudavam as pessoas que tentavam fugir do lado comunista, além de protestarem ao lado do povo, etc.
Esse imposto é uma forma de retribuição à tudo que eles fizeram pelo povo alemão.
Para a reconstrução de igrejas destruídas, além de ser uma forma de ajuda aos trabalhos sociais que continuam a fazer.
Pela história da Alemanha, essas duas religiões são as oficiais do país e por isso, o imposto também só vai para elas.
O Ateu ou de qualquer outra religião, preenche um papel apenas dizendo que não é de nenhuma das duas religiões e segue sua vida tranqüila hehehe.
Quem tem uma outra religião e quer contribuir para a igreja, mesquita, centro, etc, etc… Faz isso diretamente na instituição religiosa do jeito que estamos acostumados: doações, ser voluntário, entre outros.
Uma boa semana 😉
Bjs
Bá
Muito bacana a maneira como voce colocou a situacao para aquelas que se interessam pelo assunto, Barbara. O texto esta super light mas ao mesmo tempo com informacoes valisosas! Parabens! Beijo grande F
Obrigada Fernanda 🙂
Esse assunto já dá tanta dor de cabeça para as noivinhas que se tornam “bridezillas” (risos) que eu pensei exatamente em abordar de um jeito mais descontraído.
Uma ótima semana,
bjobjo
Bá
Adorei o texo Bah, muito bem escrito e bem informativo.
Bjs
Valeu Angela 😀
Bjo bjo
Texto excelente! So tenho uma duvida…apos o casamento vc passa a ter direito de residencia e passaporte europeu? Como funciona?
Oi Mariana,
se o cônjuge já mora na Alemanha, você tem direito a um visto de residência por união familiar, logo após o casamento. Não é a cidadania é só um visto de residência. Ele dura 4 anos e caso você queira renovar, aí pode pedir um novo com tempo indeterminado.
A naturalização por casamento você só consegue após 3 anos casada e precisa se inscrever, fazer uma provinha sobre leis, cultura e a língua e jurar a bandeira. A taxa é por volta de 300 euros.
Olá Barbara tudo bem? Parabéns pelo Blog!
Sou casada com um alemão na Alemanha e transcrevemos no Brasil também. Moramos em SP e não temos planos de morar na Alemanha, mas talvez na Espanha talvez em 10 anos…rsrs. Tenho direito ao passaporte alemão? Como posso fazer?
Agradeço sua atenção! Abraços,
Carla.
Pingback: Espanha – Espanhóis e o Amor