Meu primeiro ano dirigindo nos Estados Unidos
Comprei meu primeiro carro no Brasil quando tinha 23 anos. Um Ford KA, aquele primeiro modelo, que apelidei carinhosamente de azeitona preta por causa da cor e do formato redondo e pequeno. Ele era usado, tinha a direção mecânica e o câmbio manual. Eu estava aprendendo a dirigir e esse carrinho passou comigo vários apertos entre batidas e raladas. Depois de um ano me aventurando pelas ruas de São Paulo com o azeitona preta, embarquei para os Estados Unidos para ser au pair e o deixei no Brasil.
Assim que cheguei, a minha host family me apresentou ao carro que eu usaria tanto para meu próprio uso, quanto para levar as crianças para compromissos. Um Chrysler branco sedan, ano 1997, direção automática que pertenceu à avó que havia falecido. Quando olhei para aquele carro eu travei: parecia uma banheira. Pensei “não vou saber dirigir esse carro, como vou entrar nas vagas com um carro desse tamanho?”, bateu uma saudade desesperadora do azeitona preta. Mal eu sabia que dirigir uma banheira com direção hidráulica e automático seria mais fácil do que dirigir um pequeno KA com a direção dura e câmbio manual.
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Meu host dad me levou para dar umas voltas pelo bairro, aprendi a dirigir aquele carro bem rápido e logo depois que tirei a minha carta de motorista do estado da Virgínia (onde eu morava com a família americana) eu já sai desbravando as ruas com a banheira velha. Foi então que me deparei como o trânsito e suas leis realmente funcionavam e foi aí que os perrengues começaram.
Tem muitas leis de trânsito parecidas com do Brasil, coisas básicas como limite de velocidade, algumas placas iguais, o significado das faixas no asfalto etc.
Mas, nos Estados Unidos, as leis podem variar de estado para estado e a fiscalização também é bem mais rigorosa, portanto, o motorista precisa estar bem atento para não levar multa, perder a habilitação ou até ser preso.
Cheguei pela primeira vez na América no início de 2009 e no Brasil a Lei Seca tinha acabado de ser aprovada, então, eu sou da época que dirigir embriagado no Brasil era bem comum e não tinha uma punição muito severa para quem o fazia.
E isso foi uma das coisas que me marcou bastante porque nos Estados Unidos não tem “boiada” para quem bebe e dirige. Se você for parada e estiver com o nível de álcool no sangue maior que o permitido, minha amiga, com certeza você vai visitar a cadeia. Eu confesso que já dirigi depois de umas cervejinhas, bem no início das minhas aventuras pela América, tive sorte de não ter sido parada pela polícia e de não ter sofrido nenhum acidente, mas depois que escutei histórias de au pairs brasileiras indo para a cadeia por causa de beber e dirigir não demorei a tomar consciência de que isso é extremamente perigoso e nunca mais o fiz.
Outra coisa que aprendi foi que a placa de PARE significa que você tem que literalmente parar o carro antes de continuar. No Brasil, eu nunca parei numa placa de PARE, aprendi que você diminui a velocidade e vai se aproximando, dá uma olhadinha e continua avançando, então fui fazer isso nos Estados Unidos e fui parada por uma policial e levei uma multa!
Estacionar também é algo bem diferente nos Estados Unidos. Você não pode sair parando em qualquer lugar. Não que no Brasil você possa fazer isso, mas por aqui é preciso prestar muita atenção no que dizem as placas. Muitas vezes são tantas placas no mesmo lugar que você fica confusa. Tem placas que dizem que pode parar, porém, se for a primeira quarta-feira do mês, não pode, ou se você não for morador daquela região também não pode estacionar ali, ou então, você até pode estacionar, mas com exceção de um determinado horário do dia ou da noite.
E se por acaso você não entender as placas e pensar que está tudo bem deixar seu carro ali, pode acontecer o que aconteceu comigo. Uma vez deixaram uma multa pregada no meu parabrisa e uma outra vez eu saí de uma balada louca pra chegar em casa e cair na cama, mas quando cheguei onde havia parado o carro, ele não estava mais lá. Guincharam meu carro e, além de passar a noite em claro esperando que o devolvessem , eu tive que pagar mais de USD$100 para retirá-lo.
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É óbvio que respeitar o limite de velocidade das ruas em qualquer lugar do mundo que você esteja dirigindo é importante. Mas quem aprendeu a dirigir no Brasil vai entender o que estou falando: a gente não tem muita disciplina nessa questão e muita gente acaba desrespeitando e passando do limite de velocidade imposto. Sei que hoje temos algumas leis mais rígidas e a punição com multas está sendo mais rigorosa ultimamente, o que acho ótimo. Mas como eu aprendi a dirigir no azeitona preta lá nos anos 2000 eu aprendi do modo errado e até a minha mãe me chamava de “pezinho nervoso” porque ela dizia que eu acelerava muito. Isso mudou quando cheguei nos Estados Unidos, fui querer ser a rapidinha e acabei sendo parada por uma policial e levei uma multa de nada menos que US$200. Aprendi a lição e nunca mais fui pezinho nervoso.
Para desafogar o trânsito nas horas de pico das rodovias, conhecidas como highways ou freeways existe um sistema chamado HOV (high-occupancy vehicle), que foi implantado em alguns estados pelo país, o que significa que, em determinados horários, você não pode dirigir onde tem a regra HOV se estiver sozinha no carro. Eu já levei 2 multas por conta desse tal de HOV, peguei uma rodovia que todas as faixas eram reservadas e eu estava sozinha no carro, quando saí da rodovia havia uma policial já esperando para me multar. Se eu fosse juntar todo dinheiro que paguei de multas no meu primeiro ano dirigindo nos Estados Unidos, eu conseguiria pelo menos comprar uma passagem para visitar a minha família no Brasil.
Demora um pouco para a gente se acostumar com todas as regras mas, aos poucos, a gente aprende. Hoje, depois de 4 anos de América, nunca mais tive que gastar meu suado dinheirinho com multas e depois de ler esse artigo, se você for dirigir na terrinha do Tio Sam, já sabe, não tem “boiada”.
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3 Comments
Ainda bem que eu nem dirigia no Brasil e so fui aprender aqui na FL mesmo hehehe… depois de um ano ainda nao tive nenhum problema!! 😀
Hahahah Que bom Ariane, assim vc já aprendeu do jeito certo!!! bjs
Tive o privilégio de viver quase tres anos em Atlanta e realmente é muito diferente da pretensa “democracia” que vivemos por aqui. temos muuuuiiinnntttooooo a aprender com eles. Abraços