Assim como muitas mulheres aqui do blog Brasileiras Pelo Mundo, eu também já havia pensando em morar fora do país mas… não no México. Acontece que, em agosto do ano passado, meu marido foi aprovado para uma vaga na Cidade do México e, considerando a experiência, o momento político-econômico do Brasil, e nosso momento pessoal, em menos de 3 meses deixamos a capital paulista e já estávamos aqui naquela fase de buscar apartamento e esperar a mudança chegar. Felizmente eu também consegui me recolocar no mercado de trabalho, e fazer desta uma experiência pessoal e profissional.
O México realmente não estava nos planos, mas impressiona! Facilmente os mexicanos nos fazem sentir em casa, explicam a cultura e nos acolhem muito bem. E, para quem morava em São Paulo, o impacto não é tão grande pois as cidades se parecem muito, com o detalhe de que aqui a sensação de segurança é maior e as classes sociais estão menos divididas e convivem muito mais. Neste meu primeiro texto, gostaria de falar de alguns temas que ainda não me adaptei, e eu restringiria estes a três grandes diferenças com relação à terra que deixei: a comida, ao clima, e a cultura da “propina” (que, por aqui, nada mais é que a famosa gorjeta).
Definitivamente não tenho frescura para comer, mas que há pratos mexicanos não encaráveis… isso há. Até grilo já provei (e gostei!), são os famosos “chapulines” (sim, por isso as anteninhas do nosso personagem da TV Chapolin), mas o tal do “mole”, que é uma pasta de chocolate com cerca de 50 ervas e sei lá mais o que, este não deu. O lado bom é que o leque de opções é muito amplo e dá pra se virar e encontrar muita comida boa e próxima no nosso paladar, sim! Além disso, a cidade oferece uma gastronomia para todos os gostos, e no supermercado facilmente encontramos produtos para cozinhar o que estávamos acostumados a comer no Brasil. E também já estamos naquela fase de fazer guacamole em casa frequentemente, e introduzir o “frijoles refritos”, que é uma pasta de feijão, no nosso café da manhã. É interessante a mistura cultural e gastronômica que naturalmente se cria.
O clima nos pesa um pouco, pois é muito seco, e isso contribui para a poluição da capital – em seis meses que estamos aqui, já passamos por três programas de contingência ambiental por conta do alto nível de contaminação. É claro que São Paulo também é poluída, mas é mais úmido lá. Este clima seco me fez sofrer um pouco na respiração (somado aos 2.300m de altitude), pele, etc., e apesar de sempre ter usado cremes hidratantes, acho que nunca usei tantos como agora. Mas o corpo humano é inteligente, e é claro que está se adaptando.
O último ponto a comentar é a cultura da “propina” (gorjeta) por aqui. Para tudo (TUDO!) há que dar um “refresco” como eles dizem, ou seja, a tal da propina. Você está no estacionamento de um shopping ou supermercado enorme, com muitas vagas, e lá vem uma pessoa para querer te “ajudar” a estacionar, e no final pedir o refresco. Gente, eu não dou! Demorei horrores para aprender a fazer uma baliza bem feita, e não é agora que precisarei de ajuda (risos).
No caixa do supermercado também é outro caso, pois a pessoa que embala suas compras, que normalmente são idosos, não têm salário e dependem da sua propina no final. Comprou algo que vão te entregar em casa? Refresco. Ahhh, mas você mora no 9°. andar? Sim, será mais caro para subir os andares, mesmo que suba pelo elevador. É horrível! Confesso que aproveito minha condição de estrangeira por aqui e às vezes me faço de desentendida. Eu só pago quando efetivamente alguém me ajudou em algo que eu precisava, e também sempre considero os 10% do serviço em restaurantes (aliás, 10% é o mínimo que eles esperam).
Estou longe de querer desrespeitar a cultura de outro país, de verdade. Mas, com todo o respeito que já tenho pelo México, esta cultura da propina é uma falta de respeito dos governantes com a população local, que não criam mais vagas de emprego regulamentadas e com os devidos direitos, fazendo com que as pessoas trabalhem em uma condição nada favorável, sem salário, sem garantias, e o que recebem da propina acabe sendo um grande diferencial na vida deles.
Estes três pontos comentados estão longe de pesar para o lado negativo a experiência que estamos vivenciando por aqui. Certamente fomos melhor recebidos que em muitos outros países, e nos adaptamos rapidamente. Se eu pudesse descrever o mexicano em uma só palavra, seria acolhedor!
Agora vou preparar uma lista muito maior das coisas legais que encontramos e vivemos por aqui, e quem sabe ajudar as brasileiras que buscam outro país a incluir o México nas suas considerações (se já não estava!).
10 Comments
Estimada e saudosa amiga. Parabéns pelo texto. Nos desperta a curiosidade em conhecer o México. Fique bem sempre. Grande abraço.
Obrigada Relli! Fico feliz que tenha gostado :). Em breve virão textos novos! Beijos
Jose, fico muito feliz em saber que estão se adaptando bem, afinal de contas tem um dedinho nosso (o Denis também opinou) nessa sua mudança. Sinceramente, os pontos que vc mencionou, eu nunca me acostumei com eles, mesmo depois de 3 anos morando aí!!! Mas a experiência é sempre maravilhosa pra vida. Se o próximo. país de vcs for a Alemanha ou a Suíça é só avisar rs. Grande beijo e espero que sejam muito felizes por aí.
Oi Cecília! Você e o Denis foram MUITO importantes na nossa decisão! Obrigada por tudo, sempre!
Acho que o mais importante é estar de coração aberto né, como vocês devem bem estar acostumados :). Estes pontos nem de longe deixam de enriquecer a experiência que estamos vivendo por aqui, e também nos faz lembrar que não é justo com nosso país dizer que tudo fora “é melhor”, sem antes de fato conhecer. Beijo grande pra vocês!
Morei no México por um ano, no estado de Morelos, e os únicos momentos que por uma situação onde viviam pedindo propinas foi quando fiz a ruta maya, mas ali eram as crianças mayas que pediam, Eu não podiam entrar em nenhuma oxxo e logo que saia tinha umas tres crianças puxando a barra da minha camisa e pedindo comida. Eu dava (nunca dinheiro, sempre dava comida).
Mole é realmente a pior comida que experimentei por aí, mas no mais amava os tacos dorados, pozoles verdes, enchiladas, quesadillas, pico del gallo, frijoles refritos, la crema, chamangos, helotes…. Hoje amop a culinária mexicana, mas demorei três meses para me acostumar com ela.
Oi Larissa,
obrigada pelo comentário! Aqui na Cidade do México a propina é muito comum, em todos os lugares e situações (e eles normalmente não escondem a insatisfação se você não der). Todas as comidas que você citou eu sou fã! Causa um estranhamento no início por ser bem diferente, mas com o tempo a gente sente até falta né?
Abs, Joseane.
Joseane, muito bom seu post, parabéns! Tenho um namorado mexicano e ele é tão disponível para tudo que me deixa confusa. Ele disse que mora onde eu quiser morar. Sinceramente amo o Brasil e só de pensar em deixar tudo e ir p outro lugar me dói um pouco, mas também quero ter uma família em um lugar melhor e estou buscando constantemente informações sobre segurança em outros países. Claro que se o México for mais seguro que o Brasil será minha escolha, mas não tenho certeza dessa segurança. Vi você meio que explanando um pouco sobre isso e quero sua opinião. O México é mais seguro que o Brasil?
Obrigada!!! :*
Olá Lorena, tudo bem?
Obrigada pelo comentário! Eu posso falar da Cidade do México, comparando principalmente com São Paulo, e sim, é mais seguro aqui. É claro que como em qualquer cidade grande, é preciso não criar oportunidades para quem tem má intenção, mas eu não vejo a loucura de roubo em semáforo, congestionamento, como está São Paulo – aliás, nunca vi isso por aqui. Acho que a grande diferença é que a Polícia aqui em DF deixa claro que não terá dó se tiver que tomar alguma ação – ver patrulhas diárias com metralhadoras fazendo ronda nas ruas é bastante comum. Conheci o Caribe e algumas cidades aqui perto da capital e posso dizer que me senti tão segura quanto. Nunca fui para o norte do país, mas já ouvi muitas recomendações de que lá, por conta do narcotráfico, a realidade é outra. Boa sorte na sua escolha! Acho que sempre vale a pena tentar, e se não der certo, sabemos que temos para onde voltar, não é? 🙂
Abs, Josi.
Olá! Estou de mudança Para a Cidade do México em jan/18.
Levo 2 crianças e estou bem apreensiva. Gostaria de manter contato e, se possível, indicações de escolas primárias para eles.
Obrigada
Olá Andrea, tudo bem? Infelizmente como não tenho filhos, não sei muito da parte das escolas, mas no Facebook há um grupo chamado “Mulheres brasileiras no México” e vejo as participantes trocarem muita experiência sobre o tema. Acho que vale a pena você entrar! Abs e boa vinda ao México, Josi.