Como em muitos lugares do mundo, o machismo no México também está bem presente. E aqui, infelizmente, sinto que esse comportamento tão antiquado é ainda mais intenso.
O México é um país com uma cultura patriarcal. A criação machista das crianças começa em casa e com suas mães, que ensinam que o homem deve ser sempre o provedor da família e que a mulher que não é uma boa dona de casa está falhando como tal. Pior, a criação das crianças no México ensina que uma mulher exitosa e independente deve se sentir culpada, porque o êxito da mulher, de alguma forma, está ligado à falha do homem como provedor da família.
Aqui, as mães dizem com orgulho as suas filhas que “por trás de um grande homem sempre há uma boa mulher”, “veja, esse homem será um bom marido pois tem a capacidade de prover as coisas para você” e “em casa quem lava as calças são as mulheres”. Aqui as mulheres crescem em uma sociedade onde os estereótipos, “brincadeiras” e frases feitas vão minando sua autoestima e capacidade de se impor e assumir as tomadas de decisão.
Enquanto movimentos como o #MeToo continuam colocando em evidência a normalização da violência e a discriminação contra as mulheres, quase a metade das mexicanas diz que crê que no país se tem pouco ou quase nenhum respeito aos seus direitos. Elas também reportam que seus direitos têm sido restringidos por causa do seu gênero em posições no trabalho, na sociedade e na família.
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Aqui não é incomum sair na rua e ser acompanhada por olhares efusivos dos homens, cantadas, assovios. Eu sempre achei que dificilmente veria situações mais horríveis nesse sentido do que no Brasil, mas o México realmente me surpreendeu. Conto por experiência própria.
Na primeira semana que eu cheguei aqui, às 8h da manhã, na avenida mais movimentada da cidade, um homem tentou me agarrar pela cintura. E pior que sua atitude foi o fato de ninguém ao redor tentar ajudar, me dar razão ou fazer alguma coisa para espantá-lo. Porém, eu sempre fui ensinada a me defender e, no momento em que ele me agarrou, eu o empurrei e comecei a gritar que ele estava louco se achava que podia encostar em mim daquela maneira e pensar que eu não iria fazer nada.
Nesse caso, voltamos ao ponto da sociedade patriarcal e da maneira como as mulheres são criadas aqui. Elas são ensinadas a não reagir, a abaixar a cabeça pois o homem sempre tem razão.
A Cidade do México tomou algumas medidas para evitar o assédio sexual e ajudar as mulheres a se defenderem e a não terem vergonha de falar sobre o assunto, denunciando condutas abusivas. Por exemplo, aqui todos os transportes públicos têm um vagão exclusivo para mulheres. Você pode pensar “mas estamos no século XXI, como assim isso ainda é necessário?”.
Conto-lhes outro caso que aconteceu comigo. Um certo dia ao voltar do trabalho, não quis perder o metrô pois precisava chegar em casa. Os vagões para mulheres geralmente são os primeiros em cada transporte, sendo metrô ou metrobus. Então eu corri e entrei no vagão do meio mesmo. Eu percebi que as únicas mulheres nesse vagão estavam acompanhadas por seus namorados, maridos ou algum homem. Passado um minuto eu entendi o porquê. Os homens lhe olham como se você fosse um pedaço de carne, sentam do seu lado e tentam encostar as pernas ou a mão em você.
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Esse tipo de comportamento nas ruas da cidade levam a mulher a mudar seu comportamento. Muitas não saem na rua se não estiverem vestindo calça, mesmo que esteja no auge do verão, por exemplo.
Outro ponto é que no México os casos de infidelidade são altíssimos, e pior, na maioria das vezes a mulher sabe e não toma medidas, pois cultiva a ideia de que uma mulher divorciada não pode encontrar outro bom marido. Assédio no local de trabalho também é muito comum, e por medo de perder seus empregos, elas se mantêm caladas.
Para finalizar esse texto, gostaria de compartilhar com vocês algumas estatísticas de uma pesquisa feita com mulheres mexicanas em 2017:
– 24% das mulheres creem que a violência contra elas é o pior problema que enfrentam.
– 52% das mulheres que não trabalham, dizem que não têm um emprego porque têm que se dedicar aos afazeres domésticos.
– 30% das mulheres que reportaram algum tipo de discriminação, disseram que foi por seu peso ou altura, e 27% delas disseram que já sofreram algum tipo de discriminação por alguém da própria família.
– 79% das participantes se colocaram em desacordo com a crença de que mulheres sejam mais responsáveis pelos afazeres domésticos do que os homens.