Minha primeira maratona em Québec.
O artigo deste mês é dedicado às brasileiras corredoras espalhadas pelo mundo. É cada vez maior o número de mulheres que se dedicam às corridas. Em alguns casos, há quem viaje apenas para participar de uma prova em outro país. Em outros, a corrida acaba ajudando a nos adaptar a uma nova vida no exterior. Para as duas situações, fica aqui o meu registro sobre como foi a preparação para minha primeira maratona em Québec, em agosto: 42,2 km que significaram muito mais do que completar a distância.
Correr faz parte do meu DNA, pois já se vão 10 anos rodando por aí. Quando cheguei em Québec, ainda no auge do verão em julho de 2015, decidi que retomaria meus treinos como forma de conhecer melhor a cidade e aproveitar os vários parques que existem por aqui. Nessa época, além do calor que bate a casa dos 40°C, a umidade do ar é bastante elevada. A sensação de cansaço parece ser bem maior, pois o ar fica realmente mais pesado. Assim, me contentava em fazer uns 5 ou 6 km, apenas para retomar o ritmo.
Só que em novembro eu decidi que não seria refém do inverno. Justo o mês do meu aniversário é conhecido como o mês da depressão. Os dias já ficam mais curtos (anoitece em torno das 16h30), o frio começa a dar as caras e o sol vira um visitante ocasional. Nessas condições, nada melhor do que definir um objetivo de médio prazo, afinal correr por correr nunca fez muito sentido para mim. Voltei a receber orientação da minha treinadora de Curitiba e planejamos todo o treinamento de base para a maratona de 2016, justamente durante a estação mais gelada de todas. Como ainda não podia trabalhar nem estudar, só assim para sair de casa!
Em fevereiro de 2016, auge do subzero polar, participei de um Pentathlon de inverno em equipe. Corri apenas 3,5km mas já foi uma superação. Fazia em torno de -20°C no dia e nada como uma boa corridinha para esquentar! Quando você mora num lugar frio, o jeito é arranjar alguma atividade de lazer que lhe permita se mexer um pouco e literalmente sair da toca. Vou dizer que o mais difícil no inverno é começar o treino, pois o vento é de matar. No entanto, estando agasalhada conforme manda a regra, ou seja, com 3 camadas relativamente leves (ao contrário do que se poderia imaginar), ninguém vai congelar. A única coisa que pega um pouco é o valor das roupas de corrida para o inverno. Um casaco razoável não sai por menos de CAD$150, fora o resto dos acessórios indispensáveis: gorro, luvas, óculos de sol, tênis específico para o inverno, etc. Fui me virando como deu e não morri de frio!
Lá por abril, os treinos passaram a acontecer 4 vezes por semana, sendo que pelo menos um deles eu tentava fazer ao ar livre. Ainda havia neve e gelo pela rua, tornando a atividade física uma mistura de corrida com patinação e desvio de obstáculos, em alguns casos. Nos outros dias, lá estava eu na esteira da academia que até poderia receber uma placa com meu nome de tanto que corri nela. Com a neve indo embora, a cidade voltou a ficar mais acessível para os corredores. Antes, a gente se vê obrigada a dar meia volta quando se depara com um pequeno morro de neve, principalmente nas ciclovias, que deixam se ser utilizadas em sua plenitude nessas condições.
Em maio, participei da Meia Maratona de Lévis, para fazer um reconhecimento de terreno, pois é onde a Maratona começa. Ali já deu para ver que o pessoal aqui comparece, tanto para correr quanto para torcer. O percurso relativamente plano e à beira do Rio São Lourenço tornam a prova muito bacana, com um visual maravilhoso de Vieux Québec. Completei a prova em 1h57′ e fiquei bastante satisfeita.
Quando a primavera começou e eu voltei a correr de bermuda e camiseta, foi um momento mágico! O mais bacana da experiência é começar a dar mais valor às pequenas coisas como essas. Nessa etapa da preparação os longos de fim de semana começaram a ultrapassar os 15km, ou seja, hora de fazer a cabeça trabalhar junto com as pernas. A partir de meados de junho, o calor aumentou significativamente, e ai o desafio era desenvolver resistência física com temperaturas altas e umidade. Como vocês podem ver, não existe monotonia para quem corre em Québec: vamos dos -40°C aos 40°C! Mas o que não faltou foram lugares lindos para fazer cenário de fundo a tanto suor com alguma dor muscular… sofrer faz parte!
Após 9 meses de muitos quilômetros percorridos, o grande dia chegou! Acordei 4 da manhã, tomei café tranquila e caminhei até o ponto de embarque naqueles ônibus escolares amarelinhos que nos levaram até o outro lado do rio. Meu marido foi junto para desejar boa sorte, porque depois só voltaríamos a nos encontrar na chegada. Larguei às 7h00 e levei 4h14′ para terminar. Pode parecer besteira, mas realmente me diverti ao longo dos 42,2km. O apoio dos moradores de Lévis e depois aqui de Québec fez toda a diferença! No último quilômetro, atravessamos praticamente um corredor de pessoas mega empolgadas com nossa conquista, aplaudindo, gritando como se fôssemos celebridades. E vou dizer que, mesmo sendo apenas uma corredora amadora empenhada, me senti verdadeiramente especial!
2 Comments
Oi Ana! Que experiência incrível! Minha irmã mora em Quebec e somos de Curitiba tb, mas atualmente moro em SP! Estou me programando pra fazer uma prova de corrida aí ano q vem qdo for visita-la! Hoje ela é artista do Flip Fabrique e está com espetaculo de verão! Se vc tiver a oportunidade de assistir! O nome dela é Camila!
Olá Katia! Espero você em Québec para quem sabe corrermos juntas então. Recomendo que vc verifique o site jecoursqc.com para conhecer o calendário de provas da temporada primavera-verão. Neste domingo rola a maratona, mas dessa vez eu vou apenas para encorajar uma amiga que correrá pela primeira vez. Em setembro vou correr a meia-maratona de Montreal. Vou pesquisar sobre o espectáculo da Camila. Ela é ídola do esporte! Fico feliz que ela represente o Brasil no circo tb! Bjs