Logo que chegamos à Suíça, da estrada, notamos algo que “destoava” naquela paisagem impecável ao nosso redor. Alguns aglomerados de casinhas de madeira, que de longe, vistos rapidamente, poderiam lembrar mini favelas… Construções que pareciam improvisadas demais – no estilo “puxadinho” – para um país tão desenvolvido e perfeitinho.
Como tínhamos notado a presença de bandeiras de outros países, já começamos a nos indagar se não se tratava de algum tipo de assentamento de imigrantes. Conforme já vimos na Itália com os acampamentos de roms (ciganos).
Mas como possuíam bandeiras suíças também, ficamos intrigados. Ainda mais depois de vermos que elas existiam não só próximas às estradas, mas também no meio de algumas cidades, e que não eram simplesmente construções rústicas, todas possuíam um jardinzinho com flores ou plantações. E assim, lá fui eu investigar mais de perto quando vi algumas bem próximas à nossa casa.
Conversando aqui e ali, e depois pesquisando um pouco mais, descobri que chamam-se Schrebergarten (com ä no plural) – jardim Schreber, em homenagem ao seu idealizador alemão, o médico Daniel Schreber –, mas também são conhecidas como Familiengarten (jardim da família), Kleingarten (pequeno jardim), e ainda Parzelle (parcela).
Os Schrebergärten são pequenos lotes destinados à horta urbana, que foram idealizados há mais de 200 anos na Alemanha, com o intuito de satisfazer as necessidades alimentares dos mais pobres, dando qualidade de vida através do cultivo de legumes, verduras e frutas para a próprio consumo, como também um passatempo para a família, principalmente às crianças que poderiam brincar em contato com a natureza.
Esta ideia alastrou-se por outros 14 países europeus: Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Holanda, Luxemburgo, Noruega, Polônia, República Tcheca, Suécia e Suíça. Hoje em dia, na Europa, são aproximadamente três milhões de famílias – os jardineiros de domingo –, que cultivam e produzem vegetais para consumo próprio, na maioria das vezes, sem a adição de fertilizantes químicos e respeitando o meio ambiente.
Na Suíça, são cerca de 6,4 milhões de metros quadrados ocupados por hortas de, aproximadamente, 26.800 famílias. Estes pequenos espaços, que inicialmente tinham como objetivo a saúde, hoje em dia visam também o prazer, pois além da horticultura, servem para reunir a família e os amigos no final de semana, até mesmo para fazer um churrasco.
Segundo a associação Office International du Coin de Terre et des Jardins Familiaux, os Schrebergärten melhoram a qualidade de vida dos cidadãos, pois as funções socioculturais e econômicas atribuídas a eles são várias: passatempo agradável e rentável, produtos frescos a baixo custo, relaxamento através de atividade saudável e em contato com a natureza, aprendizado para as crianças, propicia o sentimento de ser e pertencer e evita o ócio aos desempregados, socialização e ocupação para os idosos e deficientes, oportunidade aos imigrantes de interagir e integrar no país de acolhimento, reunir pessoas com interesses semelhantes, promover a proteção ambiental, efeitos climáticos, entre outros.
Mas engana-se quem pensa que basta encontrar um terreninho para comprar e pronto! Estas pequenas parcelas de terra, geralmente, são em terrenos de propriedade municipal, e geridas por associações que as alugam aos seus membros, no sistema de arrendamento. Uma ótima ideia para diminuir os gastos municipais com a manutenção dos terrenos (na Suíça os terrenos não podem ficar abandonados, devem ser sempre limpos, sejam públicos ou privados), e ao mesmo tempo dar a oportunidade, aos que vivem em centros urbanos ou apartamentos, de alugar um pedaço de terra a baixo custo.
A Federação Suíça de Jardim Familiar foi fundada, em 1925, pelas associações cantonais da Basiléia, Berna, Genebra, Lausanne e Zurique. A maior associação cantonal é a de Zurique, com mais de 8.300 membros, divididos em dezesseis seções. Os arrendatários têm que pagar uma pequena taxa de adesão às associações e devem respeitar a constituição e leis correspondentes. Aqueles que desejam possuir uma construção em seu lote, também devem seguir o padrão exigido nos estatutos de cada associação, caso contrário, deverão modificá-la ou até mesmo demoli-la.
As parcelas de hortas familiares normalmente medem de 90 a 220 m². O valor do aluguel fica entre 140 e 250 francos por ano, mais o valor da construção, se o lote possuir alguma – entre 2 e 10 mil francos. A maioria inclui um pequeno galpão ou casebre para abrigar ferramentas e produtos. É permitido o uso apenas para jardinagem e horticultura, ou seja, jamais para fins residenciais permanentes. Sendo assim, esqueça a ideia de construir uma bela casa!
Aos interessados, a busca por um local adequado pode ser feita on-line, através de anúncios classificados ou nos sites das associações. Mas alugar um Familiengarten não é simples, há uma grande demanda e as listas de espera são longas. Além de, uma vez alugado, ser necessário seguir todos os regulamentos ditados pela respectiva associação, pois aqueles que não respeitam os estatutos podem ser expulsos. Então, nada de deixar crescer ervas-daninhas, pois lotes malconservados dão aspecto de abandono!
Muitas das associações, além de assembleias, oferecem cursos e palestras voltados aos cuidados com o Familiengarten, como por exemplo, sobre utilizar a água da chuva para a irrigação, compostagem orgânica para o cultivo sem fertilizantes artificiais, além do cultivo sem pesticidas químicos, sempre promovendo a consciência ambiental de seus membros, visando a proteção do meio-ambiente.
Segundo um senhor aposentado que conheci, o seu espaço, além de cultivar lindas flores e legumes orgânicos, é também um agradável ponto de encontro dos amigos vizinhos, que jogam conversa fora e bebem um vinho no final da tarde. Ali, apesar de existirem bandeiras de diversos países hasteadas em frente às parcelas, as diferenças culturais e de classes socais não importam. Vizinhos suíços, italianos, sérvios, portugueses e alemães, vestem roupas simples e colocam as mãos na terra, trocando ideias sobre cultivo, limpando, semeando e suando bastante para colher seus frutos.
Mas, mesmo com todo o trabalho, os que possuem um Schrebergarten garantem: ver seus próprios legumes, frutas e flores crescerem, fazem valer a pena!
2 Comments
Moça
É possível um brasileiro (eu) se tornar um oficial do exercito suíço ?
Agradeço desde ja
Luiz Eduardo,
Desculpe, mas eu não faço a mínima ideia! Você pode obter maiores informações entrando em contato diretamente com o exército: http://www.vtg.admin.ch/de/mein-militaerdienst/dienstleistende.html