Após vários meses com temperaturas baixas, os tão esperados dias de sol com agradáveis temperaturas voltaram por aqui. A paisagem já mudou completamente, os 50 tons de cinza deram lugar ao colorido, os campos e árvores estão verdinhos, os jardins bem floridos e os passarinhos cantando, além de ter mais gente pelas ruas e crianças brincando… É incrível como a Suíça ganha vida quando chega a primavera e as temperaturas aumentam! Mas, como diz o ditado, nem tudo são flores… e dá-se o alerta para um problema que retorna junto com o aumento da temperatura, o perigo de picadas de carrapatos e suas consequentes doenças.
Os carrapatos (Zecken em alemão), pequenos ácaros que se alimentam de sangue, tornam-se ativos na Suíça principalmente entre março (primavera) e outubro (outono), quando a umidade é superior a 80% e a temperatura varia entre 7 e 25°C, sendo que o pico de atividade desses parasitas corresponde aos meses de maio e junho.
Segundo a Bundesamt für Gesundheit (BAG) – Secretaria Federal de Saúde Pública – anualmente, cerca de 10 mil pessoas na Suíça adoecem com a picada de carrapato. Os carrapatos podem transmitir diferentes patógenos e as duas doenças mais importantes na Suíça são:
- Borreliose de Lyme (ou Doença de Lyme): causada pela bactéria Borrelia burgdorferi, pode provocar, além de vários problemas dermatológicos, inflamação das articulações, do coração e do sistema nervoso. Na Suíça, de 5 a 50% dos carrapatos são portadores de borrelias e, apesar de nem todos os carrapatos infectados transmitirem a doença, a Borreliose é a infecção mais comum transmitida por carrapatos. Não há vacina contra esta doença, porém ela é tratável com antibióticos.
- Encefalite transmitida por carrapatos (MEVE ou TBE, do inglês Tick-Borne Encephalitis): infecção viral que pode causar inflamação do cérebro e das meninges (meningoencefalite) e, muitas vezes, envolver consequências graves. Além disso, em alguns casos, pode levar à morte. Na Suíça, cerca de 1% dos carrapatos são portadores do vírus e esta doença é menos comum que a Borreliose – segundo a BAG, o número de casos varia entre 100 e 250. Existe uma vacina contra a meningoencefalite.
Áreas de risco
Na Suíça, a espécie mais difundida é a do carrapato de bosque (Ixodes ricinus) e o seu habitat preferido – geralmente até 1.500 metros de altitude – é representado por florestas e bosques com bastante folhas e uma densa vegetação rasteira, bem como em suas imediações, trilhas e prados.
Vale informar que os carrapatos não voam e não saltam, mas ficam em plantas baixas e esperam pela passagem de um hospedeiro temporário, humano ou animal e, então, deixam-se cair sobre ele.
No site da Confederação Suíça, é possível visualizar um mapa interativo, sempre atualizado, que mostra tanto as áreas de risco de Borreliose, como aquelas em que é recomendada a vacinação contra a MEVE.
Além disso, em 2015, a Escola Secundária de Ciências Aplicadas de Zurique – Zürcher Hochschule für Angewandte Wissenschaften (ZHAW) – lançou aplicativo multilíngue anti-carrapatos (disponível para iOS e Android), para ajudar a população a prevenir e tratar picadas de carrapatos corretamente, assim como verificar as áreas de maior risco.
Como se proteger de carrapatos
Medidas preventivas
- Evite frequentar áreas de bosque arborizadas e ricas em vegetação rasteira;
- Em caso de passeios em áreas endêmicas, é aconselhável usar roupas longas e fechadas, que não deixem áreas do corpo descobertas, assim como roupas de cores claras para facilitar a identificação de carrapatos;
- Proteja-se usando repelentes sobre a pele e roupas (solicite a um especialista o produto mais adequado, pois nem todos os repelentes têm eficácia comprovada sobre carrapatos);
- Após estar ao ar livre, verifique todo o corpo e as roupas usadas para detectar a presença de carrapatos;
- Informe-se sobre o status da região em relação aos carrapatos. Se você vive ou costuma ir a uma área de risco, consulte seu médico para tomar a vacina contra a MEVE.
Vacinação
O ciclo de vacinação contra a MEVE envolve a administração de três doses. As duas primeiras vacinas são administradas dentro de um mês e após a segunda já se tem proteção por um período limitado de tempo. A terceira vacinação, cerca de 5 a 12 meses após a segunda, garante proteção (95%) a longo prazo – cerca de 10 anos. Depois, a cada 10 anos uma nova vacinação deve ser feita.
Desde 2006, todos os adultos e crianças com mais de 6 anos de idade que vivem em áreas com uma alta porcentagem de carrapatos ou que as frequentam periodicamente, devem ser vacinados. Porém, a vacinação não é recomendada à mulheres grávidas e lactantes, além de pessoas alérgicas à proteína do ovo, uma vez que o vírus da vacina é cultivado em embriões de galinhas.
Os custos das vacinações são assumidos pelo seguro de saúde obrigatório, após o pagamento da franquia. Vale ressaltar que na Suíça, o seguro básico cobre as principais vacinas preventivas recomendadas na infância como, por exemplo, difteria, tétano, sarampo, caxumba, rubéola, catapora, etc. E quando a pessoa precisa ser vacinada por razões profissionais, os custos são assumidos pelo empregador.
Leia também: Como funciona o sistema de saúde na Suíça
O que fazer em caso de picada de carrapato?
Embora os carrapatos infectados não transmitam a doença imediatamente (provavelmente após 17 horas), uma vez identificado, o carrapato deve ser removido o mais rápido possível. Para isso, ele deve ser segurado com uma pinça fina ou especial para remover carrapatos (vendida em farmácias) o mais próximo da superfície da pele, e removido puxando-se com um movimento suave e contínuo (se não puder fazer isso sozinho, peça ajuda a um médico ou farmacêutico). Em seguida, desinfete a área da punção e anote a data e localização da picada para observar a sua evolução. Se após alguns dias ou semanas aparecerem sintomas como uma auréola avermelhada que tende a aumentar, febre, dores de cabeça e nas articulações, sensibilidade à luz ou tontura, procure atendimento médico imediatamente.
Sintomas e tratamento em caso de infecção
O ataque, na maioria das vezes, é silencioso e indolor, pois o carrapato transmite substâncias anestesiantes que “escondem” a dor da punção.
Borreliose: Geralmente começa com uma erupção avermelhada ao redor do ponto de punção, que pode vir acompanhada de sintomas gripais (febre, dores de cabeça e no corpo, fadiga e calafrios). Semanas ou meses depois, esta doença pode causar problemas dermatológicos (a erupção se espalha pelo corpo) e articulares. O tratamento é feito com antibióticos para combater a causa (bactéria). Caso não aconteça a cicatrização da erupção após o tratamento e os sintomas persistam, a doença é considerada crônica e passa-se a tratar apenas os sintomas.
MEVE: os sintomas iniciais, que normalmente aparecem uma ou duas semanas após a punção, são semelhantes aos da influenza (febre, dor de cabeça e nos membros). Mais tarde, cerca de 2 a 4 semanas após a punção, é possível que cerca de 5 a 15% dos doentes desenvolvam sintomas mais graves, como febre alta, vômitos, dores de cabeça muito fortes, problemas mentais, rigidez de nuca e até mesmo paralisia. Aproximadamente 1 a 2% dos pacientes que desenvolvem sintomas graves vêm a falecer. Portanto, é importante procurar atendimento médico imediato diante de qualquer sintoma suspeito. Infelizmente não há tratamento para a causa da doença, o tratamento geralmente limita-se a uma terapia sintomática.
Este texto é apenas um resumo informativo. Consulte sempre um médico ou profissional de saúde qualificado!
4 Comments
Super interessante Mel, so fiquei a saber da existencia deste carrapato em terras Suicas ontem no meu medico de familia.
Achei super informativo e elucidativo o seu post.
Abracos.
Magela
Oi, Magela!
Que bom que agora você está ciente do perigo dos carrapatos e assim pode prevenir-se.
Muito obrigada pelo comentário, fico contente em saber que o meu post tem informado e esclarecido dúvidas.
Abraços,
Mel
Hej Mel,
Muito interessante e em tempo sua informação sobre o carrapato (fästing) na Suécia. Nota dez.
Olá, Maria Lígia!
Muito obrigada pela leitura e pelo comentário.