No universo das quatro estações é possível identificar somente duas delas no decorrer do ano aqui em Austin. São as seguintes: inverno ameno e verão infernal. Pois é, a neve passa longe daqui e se cair um pouco, não é neve; é gelo. E quando isso ocorre é motivo suficiente para que escolas suspendam aulas ou empresas dispensem seu pessoal. Motivo: o gelo nas ruas causa muitos acidentes.
Na região central do Texas, o clima é imprevisível e pode mudar bruscamente. Em um mesmo dia é possível passar frio e muito calor. No verão há dias lindos de sol e céu azul, mas isso nem sempre nos motiva a passar o dia na piscina, porque o calor pode ser escaldante e os desavisados podem terminar o dia desidratados.
Este ano, meu noivo e eu estávamos ansiosos para a chegada do inverno, ou seja, por temperaturas mais amenas e agradáveis. Assim, com a chegada do outono, decidimos fazer um passeio pelas vinícolas texanas. Sim, vinícolas texanas! Algumas delas estão localizadas entre a cidadezinha alemã de Fredericksburg e Austin, falarei mais sobre isso adiante. Afinal nada melhor que um vinho e queijo para aquecer esta temporada. Porém, esta combinação fantástica não parece atribuir uma imagem muito romântica ao cenário texano.
Num estado tão grande como o Texas, o segundo maior dos Estados Unidos perdendo somente para o Alasca, os contrastes podem ser gigantescos. Embora o Texas seja enorme, a sua população não passa de 26 milhões de habitantes perdendo apenas para a Califórnia. Os extremos estão sempre presentes por aqui. Da região central ao sul texano, a temperatura é sempre mais alta e o inverno custa a chegar, enquanto em cidades portuárias como Houston, a temperatura no inverno pode chegar até a 29°C. Mas, no norte do estado, o inverno chega com força e pode até nevar em regiões como Dallas e Lubbock.
Enquanto eu revisava este texto, tive que ligar o ar-condicionado, pois a temperatura subiu muito em meados de dezembro! No entanto, nem só de diversidade climática vive o Texas. A série de televisão Dallas e filmes como Assim Caminha a Humanidade projetaram o Texas para o mundo. Porém, isto contribuiu para consolidar a imagem do lugar de cowboys – bem sucedidos ou não – donos de petroleiros que administram os negócios de suas tradicionais famílias, uma ideia mais limitada da realidade. O Texas faz fronteira com o México, e no sul, muitas pessoas falam somente espanhol, até pelo território texano já ter sido parte do México. Mas engana-se pensar que a população texana é composta somente de mexico-americanos (descendentes de mexicanos). Na verdade, o Texas tem uma das maiores populações de descendentes de alemães no território nacional. Por isso, há muitas cervejarias bem sucedidas por aqui.
Como eu disse no início deste artigo, este ano decidimos conhecer algumas vinícolas texanas. Saímos num fim de semana, sem planejar como seria o passeio a Fredericksburg; deixamos a espontaneidade tomar conta.
Fredericksburg fica no coração do Texas numa região denominada Hill Country, que é caracterizada por colinas altas e escarpadas. Fica aproximadamente a 115 km de Austin. Nossa jornada se iniciou num sábado nublado. No caminho passamos por Johnson City, a cidade do presidente Lyndon Jonhson. A paisagem pitoresca do caminho agrada aos olhos e sentidos. Muitos trechos são cobertos de flores selvagens, fruto do projeto de embelezamento ambiental da primeira-dama Claudia “Lady Bird” Johnson. Graças a sua obsessão renascentista, vê-se áreas floridas alternando-se com pequenas vinícolas. Não visitamos o museu de Johnson City, pois este projeto ficará para uma próxima viagem. Mesmo curtindo o caminho lindo, como boa brasileira que sou, há um momento que preciso parar para tomar aquele “cafezinho”. Então, estacionamos num Café chamado Thyme & Dough. Iríamos comprar o café e sair rapidamente para continuar a viagem. O Café não prometia muito, mas ao entrar no local, a decoração rústica oferecia um ambiente aconchegante para sentar e relaxar.
As janelas eram enormes e a luz natural tomava conta do ambiente. Adentrando outros cômodos da casa/cafeteria, encontramos muitas aquarelas, cartões postais pintados a mão, um cabideiro de roupas hippies. Acabamos nos demorando mais do que o planejado. Voltamos para nossa viagem, dessa vez a parada seguinte foi num lugar que aparentemente vendia somente flores e plantas, mas tinha também um pequeno restaurante. Encontramos lá conservas caseiras de pêssegos cultivados na região e outras delícias. Neste ambiente rústico, vi um quadro da Monalisa. Sim, parece que ela veio ao Texas! No quadro ela usa um chapéu texano.
Chegamos a Fredericksburg. Imediatamente sente-se a temperatura mais baixa e agradável. Esta cidadezinha histórica de colonização alemã foi fundada em 1846. Tem uma avenida principal com lojinhas graciosas de artesanato, geleias caseiras e muitos restaurantes alemães.
Ao norte de Fredericksburg também encontra-se a famosa Enchanted Rock (se traduz Rocha Encantada) que fica no Enchanted Rock State Park. Esta rocha é a segunda maior formação de granito na América do Norte. O parque é ideal para fazer trilhas, piquenique ou acampar. Não fomos até lá desta vez, pois já estava muito tarde e tínhamos que seguir viagem.
No caminho de volta passamos, finalmente, por duas vinícolas e encontramos alguns amigos degustando vinho. Ambas são relativamente pequenas, mas agradáveis e com enormes áreas verdes para um piquenique. Estava anoitecendo quando começamos o regresso para nosso lar. Seguimos nossos amigos e passamos por uma cidadezinha totalmente iluminada a espera do Natal, trazendo um sentimento de gratidão por viver em lugar tão lindo, rico e interessante.
2 Comments
Como vim parar aqui? Pesquisando sobre Texas( Dallas).
Estou escrevendo um romance que se passar em Dallas. Por que em Dallas, não sei, não planejo muito, vem na cabeça e eu escrevo. É a história de um casal de médicos bem sucedidos que resolvem ingressar no MSF( Médicos Sem Fronteiras) e adotam uma menina africana. Votam pra Dallas e acontece de tudo.
o meu segundo livro. O primeiro foi na Inglaterra.
Minha filha me perguntou porque gosto de escrever sobre lugares que não conheço e sempre longe do Brasil.
Não sei responder, mas acho que povo que só curte carnaval, futebol e praia não me inspira muito.
Gostei da sua narração. Voce poderia escrever um livro, narrando com mais detalhes e com lustrações sobre as suas andanças pela América do Norte.
Att,
Jorge Burlamaque.
Olá Jorge,
Obrigada pelo seu comentário. Já pensei mesmo em escrever um livro para contar um pouquinho das coisas curiosas, estranhas ou misteriosas dessas bandas. O seu livro soa muito bom e criativo. Quero ler. É muito bom escrever né!
Um abraço,
Alessandra Ferreira