Mitos e verdades sobre a Russia.
Para quem perdeu, leia a Parte 1 e a Parte 2!
(6) As mulheres Russas são lindas e vaidosas – Verdade!
Maria Sharapova, Anna Kournikova e Irina Shayk são nomes que você provavelmente já ouviu falar. De esportistas a modelos, as mulheres russas são conhecidas pelo mundo afora como mulheres lindas e vaidosas. Por aqui a beleza é sinal de poder e respeito. Por ser uma cultura onde os papéis da sociedade ainda são bem definidos (falarei um pouco disso abaixo), as mulheres se orgulham em estar lindas, femininas e elegantes a todo momento, independentemente da ocasião.
Desça qualquer rua em qualquer cidade russa e você verá que isso é absolutamente verdadeiro. Não se assuste se você esbarrar em grupos de mulheres tirando fotos com poses engraçadas e super arrumadas, é absolutamente normal. Russas têm mania de fazer book de fotos pessoais altamente produzidas. Claro que pra toda regra há uma exceção, nem todas são assim maravilhosas.
Os padrões de beleza russos mudaram significativamente ao longo do tempo. Na era soviética, era considerada uma mulher bonita aquela que tinha uma forma maior, que refletisse o país, com a aparência forte de uma mulher capaz. Os ideais de beleza feminina variaram muito de década em década. Mudanças na situação política tiveram um forte estímulo à formação de novos padrões e ideais. Hoje em dia é preferível que você seja magra, saudável e delicada.
De qualquer forma, na correria do dia a dia, nas ruas mais movimentadas e no metrô você vai encontrar russas que não estão brilhando ou agradem a seu gosto, absolutamente normal. Mas repare bem que você verá, de uma forma ou de outra, seja pela atitude, estilo ou roupa, que estão quase todas impecáveis.
(7) Os Russos são machistas – Verdade!
Como falei acima, os papéis em função do gênero na sociedade são bem definidos por aqui. Os homens são brutos e fazem suas coisas “de homens”, e mulheres são delicadas e fazem coisas “de mulheres” em todos os aspectos da vida diária. É esperado que homens sejam tradicionalmente cavalheiros, abrindo portas, puxando cadeiras, pagando jantares e comprando flores. Das mulheres se espera que saibam cuidar da casa, cozinhar, limpar e, obviamente, que ela esteja sempre linda para o marido.
Essa cultura acaba ficando bem clara no mercado de trabalho. Os homens têm salários mais altos e posições de mais prestígio, mas ao contrário do que se possa pensar, as mulheres entram no mercado de trabalho bem cedo; é muito importante que elas tenham uma educação formada e que isso se reflita com um bom emprego.
Por conta desse costume de ter de ser dona de casa, elas geralmente largam os empregos e estudos cedo para o casamento. Por isso os homens se sentem e demonstram, sem vergonha, estar em uma posição avantajada na sociedade. São machistas em vários momentos, não respeitam as mulheres no ambiente de trabalho, e claramente se assustam com mulheres muito independentes.
Apesar desse movimento cultural, o país tem visto uma progressão nessa questão. Desde a União Soviética, o papel da mulher na política tem sido mais inclusivo e os índices de participação de mulheres no mercado de trabalho têm aumentado cada vez mais.
Hábitos e culturas assim não mudam de um dia pro outro, se é que mudarão, principalmente quando as mulheres pouco se importam sobre isso e até apóiam esse estilo de vida.
Uma passagem interessante sobre o assunto que eu vivi aqui, foi conversando com uma colega de trabalho. Ela dizia orgulhosa: “nós somos mulheres independentes, estudadas, viajadas e corremos atrás de nossos sonhos, mas uma hora isso ia ter que parar” porque caso contrário não encontraríamos marido; respirei fundo, ouvi o que ela tinha pra me dizer e não opinei.
Eu entendi que o objetivo principal da mulher na sociedade russa é crescer, se educar, trabalhar e assim se preparar para o casamento. É o que eles acreditam, até os mais modernos, quem sou eu para contra-argumentar?
(8) Russos odeiam americanos – Mito (ou quase)!
Há, é claro, muita história por trás de tal mito. Prometo não entrar em assuntos políticos, mas houve, obviamente, uma feroz rivalidade com os Estados Unidos nos tempos soviéticos. Desde então houve muitos altos e baixos com o ocidente, além de divergências políticas, muitas vezes relacionadas a ações militares americanas no mundo.
Em uma pesquisa divulgada em outubro do ano passado, 71% dos entrevistados em Moscou disseram que os EUA têm “um papel negativo no mundo”. De acordo com a mesma pesquisa, a aderência que o país tem com os russos caiu para seu nível mais baixo desde o colapso da União Soviética, há quase 24 anos atrás. Ironicamente, o número de russos tentando imigrar para os EUA nunca foi maior.
Menos de 20% dos russos sabem falar inglês e a maioria deles vive nas grandes cidades – Moscou, São Petersburgo e Novosibirsk. Não é algo mandatório que eles sejam bilíngues, como é comum se ver em diversos países do mundo. Mesmo que filmes americanos e programas de TV sejam mostrados por aqui (dublados), eles não têm grande influência como em alguns outros países – russos assistem ao cinema e TV nacionais que são muito fortes, bem como os vindos da França e Alemanha, e adoram uma novela brasileira!
O que acontece é que os russos são ferozmente patriotas. Existe, sim, uma propaganda contra o ocidente, que é mostrada na TV e nas mídias, mas o objetivo não é tanto fazer russos odiarem ativamente americanos ou o ocidente, porém mantê-los convencidos de que a Rússia é bem melhor, forte e mais especial.
Eles fazem questão de afirmar que a Rússia não é nem a Europa, nem a América nem Ásia. O tal “jeitinho russo” é um mantra que foi repetido por muitas gerações por líderes russos para justificar todas as decisões políticas que eles tomaram. Russos falam de seu país, na maioria das vezes, com orgulho e intensidade. Eles dão um valor imenso a tudo que é produzido nacionalmente, são a favor das sanções, e apóiam a ideia de a Rússia competir com a cultura americana por influência política e econômica. De certa forma, muitas vezes a Rússia faz isso de uma maneira tão pesada, encontrando-se repetidamente envolvida em guerras, esquemas de corrupção, manipulação da opinião pública e de crise económica, que os russos acabam se questionando se essa é a melhor forma de viver. Não que essas coisas não aconteçam nos EUA, também! Mas de alguma forma, os americanos conseguem ter um padrão de vida melhor, o que um monte de russos invejam. Eles respeitam e admiram os valores dos Estados Unidos – liberdade, igualdade, os direitos de propriedade, etc., porém você jamais verá um russo admitir isso em voz alta.
A verdade é que os russos rejeitam a política e as escolhas militares dos EUA, porém adoram o estilo de vida. Imagino que por isso (e tantos outros motivos) o número de russos tentando imigrar para o país está aumentando. Marcas ocidentais e americanas são extremamente populares por aqui e o é país muito mais ocidentalizado do que eu imaginava quando cheguei pela primeira vez.
Na Arbat St, a rua mais turística de Moscou, frequentada tanto por locais como por turistas, você encontrará inúmeras lojas ocidentais. Lá você pode escolher entre restaurantes e cafés como Starbucks, Shake-Shack, Hard Rock Cafe, Dunkin’ Donuts e dois tipos dos típicos diners americanos, e depois fazer comprinhas na Nike a preços baixos por causa da moeda russa.
Fato curioso: em 1990, o primeiro Mc Donalds foi aberto na Rússia, ainda durante a União Soviética. Dizem que as negociações para a abertura duraram por mais de 20 anos – desde 1976. No dia da inauguração, eles estavam esperando mil pessoas. Para entender um pouco como funciona essa mentalidade curiosa russa, imagine que para saborear a comida norte-americana 30 mil pessoas chegaram no primeiro dia, tornando-se o maior lançamento da história do restaurante em todo o mundo.
Não é estranho e complicado esse mundo? Vai entender.
Mês que vem tem o último Mitos e Verdades, e para mim, o mais especial – aguarde!
4 Comments
Gente! 30 mil pra comer mc? Chocada! É tipo o outback hj em dia, risos!
Boa!
muita gente para comer hamburguer mas lembro que minha família comeu do lado de fora de casa nos anos 70 para comer miojo . quando é a novidade é assim mesmo.
Gostei muito dos seus artigos. Mas acho que agora é mais comum ser menos patriota, devido à situação política e a crença que “lá fora” todo é muito melhor:)