Moradia para os funcionários nas Ilhas Maldivas.
Quem vem às Ilhas Maldivas e fica hospedado em um dos muitos resorts, não tem dúvidas de que está no paraíso; mas sempre fica a curiosidade de saber como é o dia a dia de quem mora em uma ilha resort. Perguntas como onde moramos e o que fazemos nos dias de folga são frequentes. Aqueles que só conhecem o país através de fotos, como a maioria de meus familiares e amigos, têm ainda mais dificuldade em compreender como é a rotina de quem mora em uma ilha tão pequena. Pois bem, nesse texto eu vou abrir as cortinas e revelar o que há por trás dos bastidores.
Vou começar dizendo que é uma vida de mordomias e privações, e já vou explicar o porquê.
A grande maioria dos funcionários mora na ilha, em acomodação que pode ser individual, dupla, tripla ou até quadrupla, dependendo do cargo exercido. Os quartos são simples, mas confortáveis, com ar condicionado, TV e banheiro. Não dispomos de cozinha, portanto todas as refeições, café da manhã, almoço e jantar, são providenciadas pelo hotel; o que significa que não precisamos fazer compras, cozinhar e nem lavar louça. Agora, você deve estar pensando, isso sim que é mordomia! Sem dúvida, mas também é uma privação. Acredite ou não, às vezes me dá uma vontade louca de comer alguma coisa especial ou diferente, ou até só de cozinhar por cozinhar (ok, essa última acontece raramente) e tenho que ficar só na vontade. E vale lembrar que não existe a opção de ir comer fora, pois cada ilha abriga um resort e nada mais.
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Outra mordomia que temos é o serviço de lavanderia; uniformes, roupa de cama e banho e, dependendo do resort, até roupas pessoais, são lavadas e passadas. É só deixar a roupa suja pela manhã e ir buscar no final do dia, tudo cheiroso e passadinho. E nesse caso, não vou dizer que às vezes me dá vontade de lavar e passar roupas, não isso nunca acontece!
Então basicamente, o meu único compromisso aqui é com o trabalho; não perco tempo no trânsito, no supermercado, cozinhando, lavando ou passando. O meu tempo livre é realmente livre, é meu! Mas o que fazer com tanto tempo livre numa ilha tão pequena, com opções tão limitadas? Chega a ser irônico, não é verdade? A resposta a essa pergunta varia de pessoa para pessoa; mas para mim tem sido uma oportunidade de cuidar mais de mim, do meu corpo, da minha mente e da minha alma. Aprender um novo idioma, ler livros, escrever para o Brasileiras pelo Mundo, praticar yôga, SUP (stand up paddle), mergulhar, fotografar e às vezes, até me dar o direito de fazer absolutamente nada.
Das privações, a pior, sem sombra de dúvidas é o confinamento. É quase um Big Brother, só que em maiores proporções e sem as câmeras; o seu vizinho, é também o seu colega de trabalho, muitas vezes é a pessoa que senta ao seu lado durante as refeições e também aquele com quem você celebra quando vai ao bar. Se você tem afinidade com determinada pessoa, ótimo, você tem a oportunidade de desenvolver uma amizade profunda e duradoura; agora, quando o contrário acontece, meu amigo, você tem que engolir, não há escapatória.
Aqui tudo é longe. Uma simples ida ao cabeleireiro vira uma aventura; para os que moram nos resorts acerca de Malé, é possível completar a missão depois de uma curta jornada de barco, para os que estão mais longe, como é o meu caso, são dois barcos mais um voo doméstico, o que se torna impraticável. E aí você pode estar se perguntando: mas não tem cabeleireiro no hotel? Depende. No meu caso não, quer dizer, para ser justa, temos um segurança nepalês e um engenheiro local que cortam os cabelos dos rapazes, mas prefiro não me arriscar; então posso dizer que desenvolvi mais uma habilidade: a de cortar o meu próprio cabelo quando necessário.
É engraçado perceber que tudo muda de valor quando vivemos em um mundo tão pequeno. Outro dia mesmo, a nossa lojinha (única da ilha) que vende produtos básicos de higiene pessoal e guloseimas, ficou fechada por um dia, pois houve troca de gerência e estavam mudando o estoque. Quando finalmente abriram as portas no dia seguinte, todos queriam ver os novos produtos, quais as marcas de pasta de dente disponíveis, quais sabores de batatas fritas; um verdadeiro alvoroço. Eu mesma fiquei uns vinte minutos na pequenina loja, examinando produto por produto.
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E falando em mudanças, eu, que sempre adorei sapatos, hoje acho que a falta deles é a minha maior mordomia. Adoro o conforto, a sensação de contato com a natureza, e não tem nada melhor do que dançar sem ter que sofrer com salto alto. E deixo aqui minha confissão: amo andar descalça, mas ainda gosto de comprar sapatos, mais uma ironia; por isso, toda vez que me deparo com uma loja de sapatos, tenho que me controlar e me convencer de que não preciso deles. Meu namorado sempre me ajuda nessas horas!
E mesmo com todas essas vantagens, às vezes bate uma vontade de simplesmente sair por aí, seja de carro, de bicicleta ou até mesmo a pé. Vontade de explorar; de respirar novos ares; de ver gente diferente. E aí, é hora de parar para pensar; focar nas mordomias; aproveitar o paraíso que a maioria das pessoas só tem a chance de aproveitar uma vez na vida, e deixar para sanar as nossas privações nas próximas férias.
9 Comments
Oi Marcela!
Td bem? Tb sou colunista do BPM. Moro no Camboja mas sempre penso nas ilhas maldivas!
Vc poderia me enviar seu email? Queria tirar umas duvidas com vc 😉
Bjos
Interessante o texto, sempre tive curiosidade de saber 😉
Obrigada Mariana! Eu sabia que tinha muita gente com essa curiosidade 😉
Ola, boa tarde!
Muito legal seu artigo.
Nao sabia dessas peculiaridades das Maldivas.
Acho que a adaptacao nao deve ter sido facil, mas tambem penso que somos maleaveis e quando queremos podemos.
Talvez um dia possa conhecer esse paraiso e tirar minhas proprias impressoes.
Quanto a voce, aproveite bem! 😉
Olá Nilcilene,
Muito obrigada! Espero que vc tenha a oportunidade de conhecer esse paraíso, vale muito a pena.
Abraços 🙂
Olá Marcela, Tô encantada com a sua história. Vivo em Portugal a 12 anos, mas tenho sentido uma enorme necessidade de novos ares, novos desafios. Tenho trabalhado na área de estética (depilação com linha, extensão de cílios, e outros) mas tenho formação daqui em técnico de controle alimentar. Acha que eu conseguiria trabalho por aí em alguma dessas áreas.? Desde já obrigada pela ajuda e por compartilhar a sua história conosco. Bjns Verónica ?
Olá Verónica,
Muito obrigada! Fico feliz que você esteja acompanhando a minha história. Pra quem quer trabalhar nas Maldivas, o melhor é se inscrever no site http://www.jobs-maldives.com, assim você sempre recebe e-mails com as vagas disponíveis. Também é possível enviar o currículo diretamente para os hotéis, mas tenho que ser sincera e dizer que não é fácil encontrar trabalho nas Maldivas. Os maldívios terão sempre prioridade, se não for possível preencher a vaga com mão de obra local, aí sim eles contratam expatriados, e nesse caso os asiáticos já saem na frente, pois a mão de obra é barata. Falar outras línguas além do inglês (francês, alemão, italiano, espanhol, mandarim) já é uma grande vantagem. Você tem passaporte português? Se sim, é melhor mencionar, porque quanto mais longe o país de origem, menores são as chances, porque a passagem aérea (responsabilidade da empresa contratante) é mais cara, ou seja, mais um ponto negativo. Espero que eu tenha te ajudado um pouco.
Beijo 😉
Marcela
Obrigada pela partilha!
A minha filha vai trabalhar para um resort durante três meses e estou um bocadinho apreensiva …
Tenho procurado saber quais as condições que lhe são oferecidas no que respeita aos tempos livres. Podem fazer praia? Existem atividades para o Staff? Como é que são pagas as compras? Cartão crédito? Dólares?
Ela vai para o Anantara Kihava? Alguma dica? ????????
Se ela ficar junto dos locais, é dado que são muçulmanos, será necessária alguma atenção especial (roupa)?
Obrigada!!!
Olá Maria do Carmo,
A Marcela Ito parou de colaborar conosco e, infelizmente, não temos outra colunista morando no país.
Obrigada,
Edição BPM