Turismo econômico nas Ilhas Maldivas.
Ilhas Maldivas, paraíso na terra, sinônimo de turismo de luxo, exclusivo e acessível somente para poucos, certo?
Não necessariamente.
Por mais três décadas isso foi verdade absoluta, mas em 2009 o governo resolveu abrir as portas para o turismo econômico, possibilitando a construção de pousadas (guest houses) nas ilhas locais, com o objetivo de criar mais oportunidades de trabalho para os maldívios e movimentar assim a economia local.
Até então, o turismo era restrito somente aos resorts, todos localizados em ilhas privadas, em uma tentativa de evitar que os turistas interagissem com a comunidade local.
Vale lembrar que o país é muçulmano e obedece à Sharia, por isso, entre as muitas proibições estão o consumo de álcool, carne de porco e a exposição do corpo. Os resorts sempre representaram um mundo à parte, onde o proibido é permitido, e isso explica o receio de ter turistas circulando pelas ilhas locais.
Como estou no país desde 2010, pude acompanhar de perto essa transição. Lembro-me bem que no começo houve muito ceticismo, muitas pessoas não acreditavam no sucesso de um turismo sem álcool, carne de porco e biquínis.
Seis anos depois, podemos afirmar que eles estavam enganados; e esse novo nicho, que começou timidamente com 25 pousadas (2010), hoje conta com mais de 220 (2014), oferecendo mais de 3200 leitos. Algumas são bem simples, originalmente residências locais que foram ampliadas para oferecer dois ou três quartos aos turistas; outras contam com uma infraestrutura bem melhor, quartos confortáveis, banheiro privativo, ar condicionado, wifi e até spa e piscina.
A maioria dessas pousadas está localizada próximo à Malé, facilitando assim o transporte, que pode ser feito através de lancha rápida ou até de balsa pública (a partir de dois dólares por pessoa, para 1h ½ de viagem), para quem quer minimizar os gastos.
Nas ilhas locais você não ficará hospedado em bangalôs em cima d’água, e nem vai poder tomar aquela cervejinha enquanto aprecia o pôr-do-sol, mas aquele mar lindo de águas transparentes e cheio de vida, é o mesmo e está à disposição de todos; não importa se você está pagando cinquenta ou mil dólares a diária.
Muitas das pousadas oferecem praia privativa, as chamadas “bikini beaches”, onde os turistas podem usar roupa de praia, mas fora da área da pousada, a religião deve ser respeitada, e ombros e joelhos devem permanecer cobertos.
Há muitas opções de passeios, como piqueniques em ilhas desertas ou bancos de areia, flutuação com guia, surfe, mergulho e pesca.
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Para aqueles que fazem questão de provar o luxo das Maldivas, algumas ilhas resorts oferecem o “day pass”, que é um passe que dá direito a usufruir das instalações do hotel por um período de oito horas e que geralmente inclui traslado e almoço e pagando-se um extra dá até para tomar uma cervejinha ou um coquetel. Esse passeio também pode ser organizado pela pousada, dependendo da disponibilidade e distância entre as ilhas.
Para aqueles que sonham em conhecer as Maldivas, pelas suas belezas naturais e não pelos resorts de luxo, o turismo local com certeza é a melhor opção.
Além de não ter que quebrar o cofrinho, uma das grandes vantagens de ficar hospedado numa ilha local, sem dúvida alguma, é a possibilidade de interagir com os maldívios, de ver de perto como é o dia a dia dessas pessoas e de conhecer melhor essa cultura tão diferente da nossa. E além do mais, os maldívios são um povo muito hospitaleiro e sorridente.
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E esse novo turismo não somente trouxe mais renda aos moradores locais, mas também criou muitos empregos, mudando a dinâmica das ilhas. Mães de família agora tem a oportunidade de trabalhar em casa, fazendo o serviço de lavanderia para as pousadas, e os jovens, que antes viviam ociosos, passando o tempo em cafés e que acabavam no caminho das drogas, agora têm uma ocupação.
Outro ponto positivo é a conscientização ambiental que o turismo trouxe à comunidade local. No artigo anterior, fiz um alerta em relação à produção e o descarte de lixo e nas ilhas locais esse problema é ainda mais grave, devido à falta total de infraestrutura. Tudo sempre foi queimado ou descartado nas praias para que o lixo fosse levado pela maré, mas agora, nas ilhas onde o turismo local tem se desenvolvido, existe um esforço maior por parte da população para manter tudo limpo.
É importante ressaltar que o turismo econômico nas Maldivas não pode ser confundido com mochilão no sudeste asiático. Os preços das pousadas são bem mais acessíveis do que os praticados pelos resorts, mas ainda assim não espere pagar US$ 20,00 a diária, ou encontrar uma refeição por US$ 2,00.
As diárias variam entre US$ 40,00 e US$ 130,00, algumas com café da manhã incluso, o que em comparação com os resorts, que cobram entre US$ 350,00 e US$ 2000,00 a diária, é uma economia brutal.
Outra maneira de economizar e ao mesmo tempo esticar as férias é combinar as Ilhas Maldivas com outro destino, como a Índia ou o Sri Lanka. Afinal, se você já está desse lado aqui do mundo, porque não aproveitar o máximo possível?
1 Comment
Não sabia dessa possibilidade, mas desde que descobri que não pode entrar nas Maldivas com nada que remeta a fé cristã, eu não tenho mais vontade nenhuma de ir. Tem muitos outros paraísos de água azul pra ir onde Jesus é bem vindo…