Meu nome é Vanessa, sou mãe, esposa, psicóloga, desbravando um mundo novo há oito meses! Meu mundo novo é a experiência de morar fora do país!
Para nossa sorte, estamos na querida Auckland, Nova Zelândia! Sim! Querida Nova Zelândia! Difícil não se sentir bem por aqui, e que lugar acolhedor para nós mães de bebês! Os bebês por aqui são reis!
Esse lugarzinho distante no mapa, na verdade é o nosso lugar além do arco íris (over the rainbow, como a música!). Cá estamos, depois de escolher a dedo nosso futuro, nosso destino, viemos, conhecemos e sim, decidimos! É aqui! Mas será que esse arco íris maravilhoso, esse pote de tesouro, esse ideal é algo assim tão fácil, tão simples?
Tenho certeza que àqueles que estão morando fora do país, principalmente aos mais maduros e com suas famílias, saberão imediatamente como responder: Não!
Não e fácil, buscar o seu pote de tesouro, seu lugar além do arco íris, não é fácil para ninguém, em nenhum lugar! Amadurecemos e então entendemos essa lei natural da vida: É árduo o caminho que nos leva às alturas, seja esse sonho morar fora, seja ele vencer no próprio país, sejam quais forem os objetivos, as altas metas, existe um caminho ao topo, existem degraus e precisamos vencer a fantasia, vencer a nós mesmos, trabalhar duro e então sim, chegar lá.
A delícia que me refiro está exatamente nisso, a superação desse recomeço. Essa palavra recomeço, com seus possíveis sinônimos, reiniciar, restaurar, destravar, renovar… , a última minha preferida, renovar! Esse é o espírito!
Você sai do seu país sozinho ou com sua família e amigos, obviamente trazendo aquela bagagem que lhe é permitida, o que é essencial digamos, mas na verdade com você está uma bagagem de vida, de cultura, a sua essência, a sua identidade, impossível vir sem ela…
Ao chegar, nessa querida cidade, nesse amável país, você imediatamente se apaixona, e não é a toa que tantos brasileiros têm descrito e tem divulgado esse lugar como destino de aventuras e de um lugar para se viver, sim é inquestionável. Porém, com o passar do tempo aquele seu espírito de aventura e descoberta vai dando lugar ao que é inevitável, nosso censo de cidadania, nossa humana necessidade de pertencimento, de sociabilidade e enraizamento, e aí que entra a complexidade de todo esse processo e também a singularidade do mesmo.
Sim, diferente, por mais que muitas pessoas se identifiquem nesse processo, ele é singular, é único, é a nossa reconstrução, o início da nossa identidade imigrante-cidadão e de como vamos lidar com aquela nossa bagagem de vida, por que ela não ficou no Brasil, ela está bem aqui conosco o tempo todo.
A sorte ajuda? Quem sou eu para negar isso, acredito que ajuda muito! Mas acredito muito que quanto melhor gingarmos nesse movimento, bagagem anterior, com bagagem nova, ou seja, compartilhar os traços da nossa nacionalidade (como perdê-los!) com a abertura para esse mundo novo, que não dá para ser resumido apenas em “outra cultura”, não é apenas isso, seria se fôssemos visitantes aqui, mas não, a melhor definição seria de “início de nossa fusão com esse mundo”, que tem a cultura, tem o lugar, claro! Mas tem o que está implícito e o que está no ar, que nos impacta e modifica à medida que vamos nos relacionando com esse mundo, aquilo que muitos psicanalistas Junguianos definiriam muito bem como o inconsciente coletivo…
O impacto desse movimento de fusão é gigante! Nunca imaginaria a força disso antes de vivenciar concretamente a experiência. A reação de aninhamento com nossos semelhantes, àqueles conterrâneos, os quais a presença, a conversa, o olhar tudo remete àquele “background”, nos dá aquela sensação reconfortante de alívio, como se nossa mente dissesse em voz baixa “… que bom lembrar de onde venho, de onde pertenço”!
A organização de grupos étnicos, incluindo nas redes sociais, é um bálsamo pra essas almas, mesmo as mais desbravadoras! Ao chegar aqui não imaginaria que esses grupos de brasileiras, essencialmente àqueles específicos, os de mães, os de solteiros, os de esportistas e por aí vai, teriam tanta importância em nossas vidas.
Enquanto nossa identidade ainda se desintegra para reintegrar, enquanto vamos modificando, os conselhos, as experiências, até mesmo as críticas de nossos conterrâneos são como retomadas de consciência, como entrar nesse trilho invisível, individual e coletivo que não se pode fugir.
O primeiro destes que citei, de mães brasileiras, é o meu preferido, pelo óbvio motivo de ser mãe de primeira viagem, vivendo no exterior! Abençoadas criaturas essas mães! Aqui em Auckland elas são maravilhosas, me trazem a gostosa sensação de ouvir conselhos como se fossem aquelas tias, primas, amigas lá no Brasil dividindo suas experiências e como adequar isso aqui na terra Kiwi!
Assim sigo imigrante-cidadã, maravilhada, espantada, feliz e por vezes ansiosa com tudo isso, mas sedenta pelo que está por vir, e principalmente por compartilhar tantas emoções, tantas percepções acomodando tudo no seu devido lugar e no seu devido tempo.
Antes de tudo procuro seguir radiante nessa montanha-russa, com fé que no final dela estará aquele lugar além do arco íris…
5 Comments
Oi Vanessa ! Que delícia ! Sabes que sou apaixonada pela NZ . As raízes sempre se formam . É preparar corretamentw o terreno . Aproveitem
Abraços Beijos
Muito obrigada Drª Cintia! Venha visitar novamente esse lindo país e fazer suas fotos excepcionais por aqui! Grande abraço!
Gostei muito do seu texto, Vanessa, parabéns! Que seja inspiração, conforto e energia pra outros brasileiros e brasileiras que, como nos, estão nesse processo de fusão e renovação, como vc mesma mencionou! Seja bem vinda a esse pedacinho de mundo tão acolhedor!
Obrigada Márcia! O acolhimento dos conterrâneos é muito importante! Abraço.
Márcia fico grata pelo seu comentário e feliz que tenhas gostado! Grande abraço!