O dizer adeus quando moramos fora.
Caros leitores, acabei de fazer o embarque da minha mãe de volta, daqui da Áustria, ao Brasil.
É sobre isso que falarei hoje: a triste hora do dizer adeus – tanto de quem pega o avião quanto de quem parte para sempre – e tentar trazer algumas dicas para se minimizar esse momento tão indesejado.
Reserva financeira
Se for possível, guarde sempre um dinheirinho para o que chamo de “emergência internacional”, ou seja, tenha sempre uma reserva – repito: se lhe for possível – para pegar o avião e aportar na sua casa materna quando a urgência se apresentar.
Explico como aconteceu comigo: dia 08 de março de 2016, através de Skype com minha mãe, recebo a notícia do diagnóstico irreversível do meu pai.
Em conversa com o médico, foi-nos dito que a previsão poderia ser de 2 meses ou de 2 dias de vida. Refleti com meu esposo para resolvermos como fazer com nosso pequeno e, dois dias depois, eu descia em Porto Alegre, sozinha, já que nosso filhinho, de 3 anos, ficaria com meu marido na Áustria. Eu poderia me concentrar, exclusivamente, no meu pai em estágio terminal.
Sem a poupancinha para a “emergência internacional”, eu jamais poderia ter tomado a rápida decisão de embarcar, o que me tirou um mundo das costas, pois estaria presente aos últimos dias de meu pai, podendo, fisicamente, me despedir dele.
Tenho plena consciência de que para muitas pessoas isso não é possível. Dinheiro é assunto delicado e privado e, morando fora, nem sempre é simples guardá-lo.
Tenho plena consciência, também, de que mesmo dispondo de verba, os compromissos no país onde se está morando, podem não lhe autorizar a sair.
A menção da reserva financeira é apenas uma dica para tentar fazer refletir antes do ocorrido, ou seja, quando se decidir morar fora, que se pese esse tipo de momento também, a fim de se evitar o “por que eu não pensei nisso? Por que, mesmo tendo tempo e dinheiro, não guardei nada para esse tipo de ocasião?”
Então, se lhe for possível reservar um tanto de dinheiro para essas emergências; se você tiver liberdade para levantar voo a qualquer momento e, se você desejar se despedir fisicamente, esse será um questionamento a menos que você se fará, caso a perda aconteça.
E, mesmo assim, se não lhe for possível sair por qualquer outro motivo, não se culpe e não assuma as críticas que eventualmente possam surgir até de pessoas que você não espera.
Leia também: Como dizer adeus sem se culpar quando perdemos alguém no Brasil
Decisões envolvendo crianças
Muitas pessoas me perguntaram por que não levei o neto para se despedir do avô. Aqui preciso abrir um parêntesis: uma criança que visita seus parentes sempre, porque moram perto, tem uma imensa bagagem de lembranças e vivências com essas pessoas. Quando chega a hora do adeus, ela terá o baú de memórias como ferrolho.
Uma criança nascida no exterior, muito nova como o caso do meu pequeno, só vê os parentes de tempos em tempos e as vivências e recordações não são tão abundantes. Meu filho viu o avô, ao vivo e a cores, apenas duas vezes na vida: quando ele veio visitá-lo, aos 8 meses de vida, e quando fomos visitar meus pais, quando o pequeno completou 2 anos. A terceira e última lembrança, portanto, que meu filho teria do vovô, se fosse junto comigo, seria apenas de sofrimento, além de precisar permanecer em um ambiente adulto, tenso e entristecido.
Há ainda um outro importante detalhe: quem convive com criança sabe que não é possível explicar a um infante de 3 anos que seu avô está terrivelmente doente e que não será possível brincar, nem se distrair, nem se terá tempo para andar de bicicleta ou ir à pracinha, porque a mamãe, que é filha única, pegou o avião para ajudar a cuidar do vovô.
Minhas tias nos davam o suporte em casa, mantendo-a limpa, cozinhando, indo a supermercado, enquanto eu e minha mãe nos concentrávamos nos cuidados com meu pai, além de nos ocuparmos com funerária, em como faríamos as últimas homenagens, até o dia em que ele foi hospitalizado, quando, então, nos revezávamos em acompanhá-lo no quarto.
Leia também: tudo que você precisa saber para morar na Áustria
Definitivamente, meu racional não conseguia colocar meu filho de 3 aninhos em um avião para passar por momentos graves aos quais não teria compreensão nenhuma e que só lhe trariam tristeza. Meu esposo tem a disponibilidade de trabalhar tanto do escritório, quanto de casa, e foi o que fez durante essa semana que me afastei, já que meu pai veio a falecer 10 dias após o diagnóstico.
Nessas ocasiões sérias, temos a tendência de agir de forma emotiva, mas quando se tem uma criança em casa, há que se avaliar todos os prós e contras, tanto para o pequeno quanto para o ente querido. Cada família é uma família, cada sentimento é um sentimento, e todos devem ser respeitados, o que deixo apenas é o fato de que se tenha serenidade para que se tome a melhor decisão da forma mais consciente possível.
Leia também: Custo de vida na Áustria
O adeus nos aeroportos
A chegada é sempre esperada com muita felicidade, preparação e festa. A volta nunca é festejada, pois é, obviamente, triste e deixa o vazio da pessoa que entra no avião.
Nos dias anteriores à partida, aproveite ao máximo a companhia que está lhe visitando ou que está lhe acolhendo no Brasil, intensifiquem os momentos juntos, deixe claro o quão super foi ter estado ali, ou ter recebido a pessoa na sua casa por aquele período; bata fotos, agradeça, abrace, beije, divirta-se junto e, se conveniente, alinhave planos para o próximo encontro. Isso traz um pouquinho de alívio, pois dá a sensação de continuidade e não de rompimento.
Na hora do embarque, se tiver de chorar, chore; se tiver de rir, ria. O importante é sentir-se, na medida do possível, confortável consigo, com quem parte e com a situação em si para que não se coloque nos ombros um peso desnecessário.
Se tiver criança envolvida, tente prepará-la para o momento de acordo com a capacidade de compreensão correspondente a sua idade.
Para os pequenos é um pouco mais complexo, pois dependendo da ligação afetiva, não aceitam bem a despedida, então, avalie conversar com sua pequeninha ou seu pequeninho sobre a situação. E o Jardim de Infância do nosso distrito orienta que se comunique, inclusive, esse tipo de alteração familiar à pedagoga para que esteja preparada em caso de mudança de comportamento da criança.
O day after
Os dias que sucedem a partida de quem lhe visita parecem meio sem sentido, os ambientes parecem mais silenciosos e você fica meio sem saber o que fazer, já que a rotina com visitante acabou. É provável que você sinta tristeza e vazio. Isso tudo é normal!
Lembre-se sempre que esses momentos de encontro são feitos para que se guardem boas lembranças de pessoas, de acontecimentos, de coisas, então, quando sentir que a tristeza está querendo predominar, recorde cada excelente instante e pense no dia do reencontro!
Grande abraço e até a próxima!