Eu não sabia que supermercado era um lugar que me interessava tanto até ir morar fora do Brasil. Desde quando ainda estávamos em Madrid, ficava maravilhada com as novidades nas prateleiras, principalmente na seção de vinhos e charcutaria. Em Abu Dhabi, também me surpreendi bastante, mas tivemos que esquecer as bebidas alcoólicas e derivados do porco, já que são itens considerados “haraam”, ou proibidos, pelos muçulmanos.
Adaptações culturais à parte, não há nada que não possamos nos acostumar, ou desacostumar. Se por um lado marido saiu perdendo com o bacon e a cerveja, só foi em Abu Dhabi que descobrimos sabores e produtos incríveis no supermercado. Hoje, é difícil imaginar como será a vida quando não tivermos mais acesso a eles.
Sobre o álcool e a carne de porco
Já comentei que esses itens são proibidos pelos muçulmanos, mas nos Emirados Árabes é possível comprá-los em lugares específicos. Para o álcool, você deve procurar lojas especializadas e autorizadas a comerciar bebidas desse tipo. Não é difícil de encontrar, tampouco de comprar, desde que você não seja muçulmano. É recomendado obter uma licença para a compra e consumo de álcool, que pode ser obtida nos próprios estabelecimentos.
E importante: você não encontrará álcool em supermercados “normais”, como vemos no Brasil. A venda desses produtos se restringe a esses lugares específicos ou nos cardápios dos restaurantes que ficam dentro de hotéis. Pode consumir álcool em Abu Dhabi? Pode, desde que seja feita dessa forma.
Sobre a carne e derivados do porco, você encontrará em algumas seções específicas dentro de alguns supermercados (o Waitrose do Boutik Mall, por exemplo). Essas seções ficam escondidas dentro do supermercado e há um aviso na porta indicando que é proibida a entrada de muçulmanos. Sobre os produtos vendidos lá, sim, há tudo que se possa imaginar de origem suína, mas os preços são elevadíssimos! Assim como o álcool, não é todo restaurante que possui porco em seu menu. Se você deseja comer um bacon de porco e não de vaca, é melhor conferir antes de ir.
Sobre produtos brasileiros em Abu Dhabi
Eu já tive a sorte de achar arroz de marca brasileira no Carrefour de Abu Dhabi. Hoje, não acho mais. Dizem que antigamente a oferta de produtos brasileiros era maior, mas não sabemos se por falta de saída ou pela dificuldade da importação, eles estão cada vez mais raros na prateleira. Alguns produtos são praticamente inexistentes, como paçoca. Outros, a gente consegue achar similares que quebram bem o galho. Quando meu arroz brasileiro acabou, por exemplo, aprendi que o tailandês vendido a granel é a mesma coisa.
Brasileiros mal chegam a Abu Dhabi e já enchem os compatriotas de perguntas: onde acho feijão preto, tapioca, doce de leite? Felizmente, é possível levar todos esses produtos na mala quando vamos para os Emirados Árabes. Infelizmente, por causa da falta de espaço e da validade dos produtos, logo ficamos com os estoques vazios. Para garantir, sempre ocupo uma mala só com os nossos produtinhos “de casa” e vou racionando o uso. Às vezes, pessoas se aventuram em trazer grandes quantidades e vender para outras pessoas. Outras vezes, milagrosamente, achamos os produtos na prateleira do mercado. Acontece com alguma frequência com o nosso Guaraná, por exemplo.
Sempre que recebo uma mensagem com esse tipo de preocupação por alguém que está prestes a mudar, digo: traga a comida que quiser! É melhor garantir do que passar noites sonhando com o tal feijão preto. Nunca tive problemas em entrar com produtos devidamente embalados e rotulados em Abu Dhabi. Exemplos de itens que trago e que valem a pena (por ser difícil de encontrar ou muito caro aqui): feijões preto e carioca, polvilhos doce e azedo, milho para canjica, café, doces brasileiros (paçoca, pé de moleque, goiabada, marmelada, bombons…), chás de boldo e erva cidreira, trigo para quibe.
Se quiser comprar comida feita por brasileiros (salgadinhos, bolos, docinhos e outros), veja essa lista que preparei com os fornecedores em Abu Dhabi e Dubai. É uma ótima forma de matar o desejo do sabor de casa e ainda ajudar os compatriotas empreendedores do deserto!
Sobre um mundo inteiro em prateleiras
Não só as ruas de Abu Dhabi são a própria Torre de Babel – as prateleiras dos supermercados não ficam para trás quando o quesito é oferecer opções do mundo inteiro! Em alguns, até podemos ver seções específicas de países. Quer achar um tempero de pimenta tipicamente filipino? Vá na seção das Filipinas que você vai encontrar! E antes que me perguntem, não, nunca vi seção do Brasil, tampouco mercadinhos que vendem os nossos produtos. Mas não se desanime, quero te mostrar que há muitos outros sabores interessantes para provar!
Morar em uma cidade multicultural e ir ao supermercado exige curiosidade, ousadia, desapego e coragem. Já provei muita coisa boa, muita coisa horrível e muita coisa que voltei e comprei várias vezes. O “quem não arrisca não petisca” pode ser interpretado literalmente aqui. Se você for ousado e corajoso, certamente vai descobrir sabores incríveis – e eu nem estou falando só de produtos árabes, já que aqui encontramos itens do mundo inteiro.
Algumas vezes, produtos tidos como quase “luxo” no Brasil, em Abu Dhabi são super acessíveis. Vou dar 2 exemplos simples, de itens que estão “na moda”: a manteiga clarificada ghee e o bendito óleo de coco. Agradeça aos indianos e aos nossos amigos asiáticos por fazerem desses itens presenças certas nas prateleiras dos supermercados e, a melhor parte, a preços módicos. O preço que pagaria em 1 (uma) ghee no Brasil daria para comprar umas 5 (cinco!) em Abu Dhabi. Apenas. Isso sem contar na variedade de marcas que oferecem esses produtos.
Os exemplos anteriores são do meu próprio cotidiano. Em minha vida pré-arábia eu não consumia esses itens, seja pela escassez de oferta ou pelos altos preços. Hoje, consumo com alegria, não só esses, mas muitos outros. E isso só aconteceu porque eu tive a curiosidade de pesquisar, arriscar e provar. Hoje, a paixão por alguns produtos do supermercado é tão grande que eu viajo para o Brasil e levo alguns comigo. Se você mora em Abu Dhabi há algum tempo, também deve passar por isso. Se acabou de chegar, ainda irá descobrir sabores que te ganharão para a vida!
Frequentemente me perguntam se achamos frutas e verduras frescas em Abu Dhabi. Felizmente, sim, muito mais do que eu esperava – e muitas vezes mais caro do que eu gostaria, também. A não ser frutas muito específicas do Brasil, como acerola, pitanga e jabuticaba, por exemplo, de resto encontramos tudo, até além do que achamos na Terra Brazilis. Como precisam importar tudo, eles o fazem de vários lugares do mundo, fazendo com que as bancas de vegetais sejam lindas, coloridas e globais.
A única atenção aqui é em relação aos agrotóxicos, que comumente extrapolam as quantidades limitadas pelos órgãos reguladores. Já vi maçã verde com capa de “cera” que não a deixou apodrecer por 2 meses! Isso não pode ser normal, eu penso. Se puder, dê preferência aos orgânicos. Por sorte nossa, há grande oferta de produtos livres de químicos aqui na cidade, alguns inclusive plantados nos próprios Emirados Árabes, em estufas super equipadas que eles constroem no deserto. Fantástico, né?
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E então, ainda têm curiosidade sobre o assunto? Deixem nos comentários que terei muita alegria em responder! E se quiserem ver outro artigo sobre o tema “supermercados”, deem uma olhada nesse artigo. Até a próxima!
3 Comments
Pingback: Os fantásticos supermercados de AD - Brasileiras pelo Mundo - Diário de Polly
Trabalho com consultoria em Gestão de Varejo no Brasil, e atendo supermercados de médio e pequenos portes, estou investindo nesse segmento por ver a necessidade de cada empresario querendo que seu negocio prospere e seja competitivo. Trabalhei por 20 anos no Carrefour Brasil, a vivencia e experiencia de um cultura europeia me deu know-how para tal. Vendo este post entendi que preciso me atualizar no que acontece em supermercados pelo mundo e sair do convencional. Gostaria de receber dicas inclusive em gestão e o que se aplica em todo mundo alem a tecnologia de ponta para esse segmento.
Olá Antonio Carlos,
A Pollyane Martins, infelizmente parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM