O que muda depois de morar fora?
Logo quando comecei a faculdade no Brasil, eu quis ir para o outro país após minha graduação. Fiquei com esse objetivo fixado na minha mente durante os quatro anos de curso. Surgiu a ideia de ir para a Nova Zelândia e pensei ‘por que não?’. Iria fazer um curso técnico de Marketing que me permitiria ficar no país por dois anos.
E aí surgiu o nervosismo costumeiro de quando estamos de cara com novas experiências. Me perguntei como seriam os trabalhos e as aulas, quais os critérios de avaliação e se daria conta de escrever tudo em um inglês um pouco mais técnico.
A decisão de morar fora engloba muitos aspectos: distância dos familiares, estudo em uma língua diferente, moradia em uma cultura nova, e convívio com pessoas diferentes. Em especial, depende muito da sua capacidade de lidar com situações novas e o seu emocional. Muitos – mas muitos mesmo – imprevistos vão surgir e a única pessoa a quem você irá recorrer é você mesmo.
Quero compartilhar a minha experiência com a intenção de tirar dúvidas e também acalmar os corações dos ansiosos. Antes de vir para Auckland, uma das coisas que me ajudou muito foi procurar relatos de experiências de outros brasileiros na internet. Minha maior preocupação era se eu me daria bem com o estilo de vida neozelandês.
Será que eu iria me adaptar ao modo de pensar relax ao extremo dos kiwis? Será que faria amigos e encontraria pessoas legais com facilidade? E a questão do emprego? Acontece que as dúvidas e questionamentos que temos na nossa cabeça nem se comparam com a realidade. Muitas vezes nós criamos situações inexistentes e sofremos à toa. Pior ainda, sofremos mesmo antes de chegar ao país.
Leia também: tudo que você precisa saber para morar Nova Zelândia
Não posso afirmar que mudar de país não é difícil. É sim complicado ficar longe das pessoas que você ama e começar do zero numa terra desconhecida. Mas não é impossível. Nós, seres humanos, somos capazes de nos adaptarmos às mais diversas situações. Ao longo desse um ano e meio na Nova Zelândia, fui mudando e me reinventando aos poucos até que o choque cultural parou de fazer efeito.
Mas, afinal, quais são essas mudanças?
A maior, pra mim, foi a mudança de perspectiva em relação ao mundo.
Aprendi que nosso planeta é muito grande e cheio de complexidades. Estamos tão concentrados em nossos mundos particulares, problemas com a família, com o chefe, com a escola. Às vezes ficamos muito no eu, eu, eu e esquecemos que a vida é bem mais do que isso.
Morar fora abriu a minha cabeça para novas oportunidades, mas também novas realidades e me ajudou a entender que 99% do que passamos não é, na verdade, o fim do mundo. Existem muitos estilos de vida que à primeira vista podem parecer estranhos, mas funcionam. Não há regras para viver.
Estar em contato com culturas diferentes me ajudou a ver o mundo como uma casa com vários cômodos. Há lugar para todos nesta casa. Basta descobrir como conseguir um espaço só seu. E talvez seja isso que tenha me motivado a continuar desbravando o mundo, devagar, um passo de cada vez, até encontrá-lo.
Mas talvez a melhor parte de morar fora seja descobrir coisas sobre você.
Descobrir que você é sim corajosa, esperta, e preparada para enfrentar os desafios da vida para chegar aos seus objetivos. O sentimento de dever cumprido após a solução de um perrengue enorme é muito gostosa! Você de repente é um super-herói, pronto para desbravar a vida sem medo. Eu até aprendi a viajar sozinha depois de alguns meses morando na NZ – para dentro e fora do país.
Essas mudanças que acontecem no nosso interior são muito valiosas. Podem parecer assustadoras, porém acontecem com naturalidade. São aprendizados que carregaremos a vida intera e que muito dificilmente teríamos vivenciado no Brasil. Após um período em solo estrangeiro – seja lá quanto tempo – você se transforma em outra pessoa, mas conserva os melhores aspectos do seu ‘eu’ do passado.
Agora, próximo ao dia primeiro de Janeiro, é o momento certo para refletirmos sobre novos começos. Se você está pensando em morar fora, o meu melhor conselho é: vá com calma. Há mil caminhos para chegar a Roma, e você com certeza vai encontrar o seu. Morar fora é um aprendizado constante, tenho certeza que você já escutou isso milhares de vezes. A cada dia é possível tirar algo útil de uma situação, uma conversa, uma saída com amigos.
O nervosismo passa à medida que você se familiariza com o novo ambiente. A fase de adaptação é obrigatória e pode ser difícil, mas persista. Muitas coisas mudaram para mim depois da Nova Zelândia: penso de uma forma diferente, sou uma pessoa melhor do que fui ontem – pelo menos, acredito que sim – e ganhei coragem para enfrentar o mundo de uma forma que jamais teria conseguido no Brasil, na minha zona de conforto.
Deixei meus medos e apreensões de lado e resolvi me jogar no mundo. É difícil, é complicado, é triste, é desanimador por vezes. Mas também é recompensador, é emocionante, e é, acima de tudo, divertido. Não fique triste se você não achar o seu cômodo especial na casa que abriga o mundo logo de cara. É normal ter dúvidas e experimentar várias coisas para concluir o que é melhor para você.
A questão é levar tudo com leveza, sem pressa, sem cobranças, e um dia você vai chegar lá. Terá mil e umas histórias para contar e estará mais madura para tomar decisões – e isso vem de alguém de 23 anos, super indecisa! Espero que a sua jornada seja maravilhosa e sem medos bobos que não nos levam para frente.