Dúvidas sobre morar fora.
Uma das coisas que me afetou muito morando fora foi à indecisão. Quando se não tem um caminho certo, as dúvidas começam a surgir. Antes de ir para a Nova Zelândia, eu tinha uma vaga ideia de como eu queria traçar o meu futuro. Estava bem aberta para as possibilidades porque não queria me limitar. Estava certa de que muitas coisas aconteceriam diferentes do plano. E aconteceram.
A princípio, foi bem frustrante. Confesso que não pesquisei tanto assim sobre o país e pensei que eu sabia o necessário para estudar e depois encontrar um trabalho. Algumas coisas me pegaram de surpresa, especialmente em relação à como pessoas de outras nacionalidades se comportavam. Também não tinha uma visão clara do mercado de trabalho neozelandês na época e fiz algumas coisas erradas. Foi um desafio.
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As dúvidas começaram a surgir. Será que eu fiz certo? Será que devo seguir esse caminho ou tentar algo diferente? É isso mesmo que eu quero? Não é mais fácil fazer X em vez de Y? Vi isso acontecer com todas as pessoas à minha volta. Todo dia era um passo em direção a um futuro incerto. É difícil não se preocupar com cada detalhe quando você precisa prestar atenção nos pré-requisitos para a imigração e as leis mudando constantemente.
Por vezes, me deixei levar pelas experiências dos outros. Vi pessoas terem experiências ruins no trabalho e pensava “será que vou conseguir me adaptar?” ou “será que vai ser assim sempre?” Mas também conheci pessoas que prosperaram e conseguiram construir uma vida estável no país.
Basear as minhas próprias expectativas na experiência dos outros foi um erro. Estava rodeada de pessoas na mesma situação. Algumas acabaram aceitando péssimas condições de trabalho e de vida para ficar no país. Passávamos horas conversando sobre as nossas dúvidas e incertezas, com medo da insegurança da vida de estrangeiro.
Por isso, é preciso ter uma “cabeça boa”, como dizia minha mãe, para morar fora. Existem milhares de histórias e nenhuma delas é a sua. Podem ser parecidas com ela, mas cada pessoa traça seu próprio caminho. Quando parei de me comparar ou me deixar levar pelas experiências negativas dos outros, me senti muito melhor para focar no meu próprio caminho.
Aquela pulga do “será que é isso que eu quero?” pode ficar atrás da sua orelha como ficou na minha. Tem pessoas que só querem imigrar, não importa como. Uma cama para dormir e comida para sobreviver já está ótimo. Eu queria mais. Eu queria poder crescer na Nova Zelândia da mesma forma que eu poderia no Brasil, onde meu diploma e minhas experiências de trabalho são reconhecidos.
Não é todo mundo que consegue o emprego ideal de primeira. Às vezes, é só para garantir o visto mesmo. Mas não há nada de errado em sonhar e querer sempre se desenvolver, não é mesmo? Essa questão era muito importante para mim e eu me perguntava quase que diariamente se ficar em um país fazendo qualquer trabalho, com chances limitadas de crescer, era mesmo uma boa ideia.
Uma vez, alguém me disse “Os primeiros dois anos são sempre os piores.” E são mesmo. Essas dúvidas existem porque morar fora é um caminho incerto. A não ser que você tenha sido convidado a trabalhar no país por uma empresa disposta a ser seu sponsor, não há uma resposta certa. Você precisa correr atrás dessa resposta.
Sinceramente, às vezes a resposta é negativa. Não tem problema você sentir que aquele não é o seu lugar, que está na hora de voltar, que precisa estudar/trabalhar mais, ou qualquer coisa do tipo. Conheci muitas pessoas assim também. Para mim, era muito difícil tomar decisões sabendo que elas interfeririam no meu futuro de uma forma que seria diferente no Brasil. Pressionava a mim mesma para ser certeira, mas, na verdade, às vezes a vida não é certeira e você só precisa aceitar os fatos.
Não quero desencorajar ninguém. Quero apenas que a sua jornada seja menos maluca que a minha, que viva com medo de caminhar e chegar ao fim da linha. Para muitas pessoas, uma oportunidade de morar fora pode ser a única e a pressão é infinita.
Aprendi que o melhor caminho é a tranquilidade. Pensar, refletir, tomar decisões e ser positivo. Conquistei pouco quando estava desanimada, cheias de questionamentos e incapaz de ver uma solução. Quando relaxei, minha produtividade aumentou, meus pensamentos melhoraram e eu compreendi que, apesar das constantes dúvidas, eu tinha o poder de mudar a forma como as encarava.
Respire fundo. Entenda que morar fora é viver com dúvidas. Quem sabe o que o tinha de amanhã reserva? Mas você pode conviver bem com essas dúvidas e tornar a sua experiência inesquecível. Não se cobre muito. Seja determinada, corra atrás dos seus sonhos, e tenha coragem de repensar quando as coisas não estiverem mais dando certo.