Os 7 Mandamentos da Reeducação Financeira no Exterior – Parte 2.
Mês passado comecei a contar para vocês como tem sido esse meu processo de lidar com o dinheiro num contexto diferente. Falei sobre como o casamento e a vida no exterior foram os motores de uma virada significativa na minha relação com meus hábitos de consumo e planejamento financeiro. Se você perdeu essa parte, clique aqui para ler.
Nesse entre tempo, me dei conta de mais um fator interessante da minha vida profissional que veio de encontro a essa reflexão master sobre os números e eu. Atuo como Gerente de Projetos e atendo uma multinacional que define o portfólio de projetos anual e consequentemente o orçamento global. Faz parte das minhas responsabilidades monitorar o uso desse orçamento que é bem considerável. Aí de repente me deu um click: Helloooo, você gerencia tantos dólares americanos, porque nunca pensou em aplicar isso na sua vida pessoal? Pois é, coisas que estão na nossa cara e que muitas vezes a gente não vê. Aí me veio aquele momento citação Gandhi que merece replay:
Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em plena harmonia.
Passemos então aos últimos mandamentos, imbuídas desse alinhamento harmônico que tanto sentido faz na teoria e que tão difícil pode ser na prática. Vamos falar de moda, de salário e sobre o que o futuro nos reserva.
Aguardarás o fim da estação para que colhas os frutos da liquidação.
Aqui vale a máxima: quem espera sempre alcança. Comprovei na vida real. No Brasil, dada a facilidade de crediário e as influências mais diretas da moda (revistas, redes sociais, televisão), grande parte da minha renda ia direto para o meu guarda-roupa. Esperar, não era para mim. Nada contra as liquidações, mas bacana mesmo era seguir as tendências real time, por duas razões principais: vaidade pessoal e boa aparência no trabalho. Lidava direto com clientes e a impressão que eu tenho é que, mesmo que a aparência tenha sua importância mundo afora, no Brasil parece que ela é potencializada.
Na época das vacas mais magras, durante o processo de residência permanente aqui no Canadá, window-shopping era o que tinha para hoje, ou seja, andar pelas ruas comerciais ou pelos shoppings apenas namorando lindos looks expostos here and there and everywhere. Ainda bem que aqui as vendedoras não ligam se você disser que está apenas olhando, uma pressão a menos para lidar.
O fato é que isso me permitiu observar que nas épocas de liquidação, muitas peças que eu tinha gostado mas que achava caras, caiam para pelo menos metade do preço. Acabei criando uma nova lei da atração na minha vida que é a seguinte: se tiver de ser meu será, mas vou botar aqui um olho gordo só por garantia. Muitas vezes, funciona, e quando vem a liquidação, eu pago o valor que eu acho mais justo pela peça. Também entendi que não preciso garantir tudo que eu gosto de uma vez. Vou priorizando sempre de acordo com o que já tenho no guarda-roupa e focando em peças atemporais.
Cada vez que compro algo novo, doo algo que não uso mais ou jogo fora se não tiver mais serventia para alguém que precise. Aliás, como temos praticamente estações quente e frio, fazemos o rodízio do guarda-roupa no começo da primavera e no final do outono. Quando abro as caixas em que ficam as roupas, redescubro coisas que nem lembrava que tinha e quando percebo que já não usei no verão ou inverno passado, desapego. Estou achando ótimo essa coisa do guarda-roupa enxuto!
Leia também: Por que economizar morando no Canadá?
– Aprenderás a calcular teu salário anual.
Ler sobre o custo de vida esperado num determinado país e viver na pele a emoção são momentos bem distintos. Quando comecei a procurar emprego, descobri que uma das perguntas nas entrevistas com recrutadores seria: quanto você deseja ganhar por ano? Até então, sempre tive aquela visão mais mensal de salário e, na maioria das vezes, já sabia a quantia que a empresa brasileira estava disposta a pagar.
Não sei vocês, mas poucas vezes trabalhei com carteira assinada. Então o meu salário bruto era muitas vezes o líquido. Nunca ganhei o suficiente para declarar imposto de renda, então o máximo que eu fazia era preencher a declaração online de isenta no site da Receita Federal.
Resumindo, o que determinava o meu salário no Brasil era: os custos para manter meu apartamento, alimentação, transporte, cachorro, bem-estar, pequenos luxos na vibe Carpe Diem. Imposto, aposentadoria, previdência, casa própria, projetos pessoais, emergências enfim, nada relacionado com planejamento de médio e longo prazos entravam na minha conta. Meus pais me ajudavam com plano de saúde e em alguns apertos e assim eu achava que tudo estava muito bem, obrigada! Vivendo em negação total no Mundo de Alice.
Corta para 2018 no Canadá: eu pago impostos locais e federais, eu participo de um programa de previdência pessoal com contra-partida da minha empresa, eu pago a hipoteca do nosso apartamento, eu preciso separar dinheiro para poder ir ao Brasil, para cada custo comum existe um orçamento pré-definido, meu salário não é só meu e sim do casal e meu orçamento pessoal (categoria pequenos luxos: academia, cuidados pessoas e roupas) corresponde a mais ou menos 10% do que eu ganho por mês.
Portanto, na hora de definir quanto você gostaria de ganhar por ano, leve todos esses pontos em consideração. Com impostos, grosso modo para a minha realidade em Québec, vai entre 30 e 40% do salário bruto (total de impostos locais mais federais). Por isso é muito importante saber de antemão a quantia necessária para manter o padrão de vida que você gostaria de ter em terras estrangeiras. Nada de converter para real e achar que agora ficou rica!
– Não temerás o futuro…se planejares bem!
Quantas vezes você pensa sobre a sua aposentadoria? Até participar de uma reunião de apresentação de uma empresa de planos de investimentos, nunca tinha sequer vislumbrado esse momento da vida. Fiz uma simulação online para prever quanto de dinheiro eu teria daqui uns 30 anos, quando projetei iniciar a aposentadoria e considerando os meus ganhos em início de carreira no Canadá com zero economias até então (Salve, Tostão!). Sério, foi deprimente! Baixou um humor negro que me fez pensar: o jeito é morrer antes.
Quando você coloca as coisas numa perspectiva com a qual não está acostumada, esse exercício de projeção é bem mais difícil de realizar. Ao mesmo tempo em que parece tão distante, é o tipo de assunto sobre o qual a gente precisa pensar, falar e fazer algo a respeito. Deparar-me com Bolada, o fantasma do dinheiro futuro, me fez perceber a importância das decisões financeiras que a gente toma hoje. Logo, planejar é a melhor forma de garantir maior segurança no futuro.
– Entenderás que o dinheiro é teu aliado e não algoz!
Moral da história: minha vida no Brasil não me preparou para a minha vida no Canadá, por n razões. Vivo mal? Sofro? Passo necessidade? Claro que não, vivo com mais consciência do quanto custa o padrão de vida que eu e meu marido negociamos de comum acordo. Além disso, nossas escolhas determinam simplesmente onde desejamos colocar nossos esforços. Não significa privação, mas ter objetivos maiores e fazer um exercício constante de projeção. Mudanças virão durante a rota e aí a gente reprograma o caminho. O que não dá é desligar o GPS!
2 Comments
Carol, peguei o bonde andando hoje nos seus artigos e posso dizer que já amei hahaha! Vou fazer uma maratona e absorver todo esse conteúdo mara que vcs disponibilizam! Me identifiquei em muitos pontos e essa questão financeira é realmente crucial para gerar harmonia na vida e nas decisões de um casal. Se forem imigrantes, o bicho pega mais ainda! Adorei tua escrita, êta menina arretada de talento! Bjs amore,
Sucesso sempre <3
Amandinha, obrigada pelo comentário e carinho de sempre. Aproveite mesmo nosso blog porque ele é cheio de artigos super bacanas e sobre várias partes do mundo. Amo escrever desde sempre e por aqui, além de colocar em prática um hobby, procuro compartilhar experiências e pontos de vista diferentes. Escrevo como se estivesse batendo papo com vcs! Continue ligada no BPM! Bjs