Os gatos de Van (Van Kedisi).
O interessante de vivenciar outras culturas é a aquisição de conhecimento e autoconhecimento que isso nos traz. Descobrir coisas interessantes e querer compartilhar, mostrar a todos o quanto nosso mundo é diverso é algo que me estimula muito! Num desses momentos de conversa sobre o que há por aqui, ouvi comentários sobre os gatos de Van. E como nunca ouvi falar antes, minha curiosidade ficou aguçadíssima! Lá fui eu perguntar, perguntar e pesquisar. Acabei embarcando até a cidade de Van, levada pelo meu maior apoiador, o marido turco (risos) e, enfim, fui apresentada à cidade de Van. É uma cidade a sudoeste da Turquia, já próxima à fronteira com o Iraque. É uma cidade que merece um post somente a respeito dela. Sua maioria é de curdos e isso a torna um tanto quanto curiosa, pois os curdos possuem suas tradições bem mais enraizadas.
O Lago Van, o maior lago da Turquia, fica nessa região. É um lago de origem vulcânica e é alimentado pelos caudais dos rios e ribeiras que descem desde o alto das montanhas. Essa é uma das primeiras coisas que chama a atenção na cidade, mas vou deixar para destacar isso e outros pontos sobre Van em outro post dedicado realmente a ela. Dessa vez, o destaque será para os gatos de Van (Van Kedisi). Os gatos que me fizeram sair de Izmir e viajar quase 1800 km para realmente ver de perto o que eles têm de especial. E acreditem, valeu a pena!
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Quando cheguei a Van liguei na Yüzüncü Yıl Üniversitesi Kedi Evi, é uma Universidade que possui em seu Campus uma casa para os gatos de Van. A Internet dizia fechar às 19h e liguei por volta das 17h30. Fui informada que o horário estava errado, no site, e iriam corrigir; e que o encerramento seria às 17h45. Respondi obrigada e desliguei. Mas eu tinha um problema, iria embora no dia seguinte e havia tantas coisas para ver, ainda! Liguei novamente e aí usei nosso jeito brasileiro de pedir (risos). Disse que era brasileira e havia vindo de muito longe somente para visitar o local e no dia seguinte voltaria para Izmir. Tudo mudou! Disseram-me pode vir, abriremos para você, será nossa convidada. Quando um turco ou turca lhe disser: Sen benim misafır (você é meu convidado) espere por tudo de melhor que ele puder fazer por você. Eu e meu marido pegamos o carro e partimos na direção da Universidade. E que recepção calorosa! Um funcionário chamado Ali nos aguardava e nos acompanhou, abrindo cada cantinho da casa dos gatos de Van e me explicando cada detalhe.
Fui observando tudo com olhos curiosos e surpresa com tanta limpeza, organização e cuidado. Vou descrever o que vi e então falarei sobre as peculiaridades da raça.
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Van Kedisi Evi é um local que foi financiado por um homem muito rico da cidade de Van e que ama gatos. Tudo foi feito com muito carinho. Há uma área comum na parte central da casa, cercada por tela, onde os gatos possuem brinquedos, podem se alimentar, beber água, serem medicados e nadar numa piscina! Sim, eles amam nadar! Também existem os quartos para alimentarem-se, salas de parto, salas de descanso e salas para os gatinhos bebê. Tudo separado por paredes e portas com vidros e muito, muito limpo e organizado.
Quando se fica de frente para a casa, ao lado direito está a área azul, dos machos. Há várias repartições, os quartos onde cada um tem sua cama, uma espécie de nichos na parede com almofadinhas, tudo muito limpo. Outra área ainda na parte azul é externa, fechada por telas, com uma piscina somente para os machos, brinquedinhos, lugares para subir e descer e um amplo espaço para caminharem. Também podem se alimentar nessa área externa e acessar a parte interna o tempo todo através de portinhas próprias para eles.
Ao lado direito há a mesma estrutura, mas tudo em rosa, para as fêmeas. Uma piscina somente para elas e quartinhos com nichos rosa.
Os gatos de Van é uma das raças mais antigas do mundo. É uma das poucas ou quase únicas raças naturais existentes. Isso significa que suas peculiaridades provêm da natureza e não de cruzamentos feitos pelo homem. É possível ver gatos de Van retratados em pinturas do século I por pintores da época. São gatos que amam água e para a aquisição de um deles uma das exigências é que não lhes falte água para brincar e fotos serão exigidas após os gatos irem para o novo lar. Também é feita uma entrevista minuciosa com todos os integrantes da família. Se um deles não gostar de gatos, a aquisição será interrompida. Caso seja estrangeiro quem deseja adquirir, tudo é ainda mais complicado. A documentação exigida é bem burocrática para todos que desejam um filhote. A análise é feita por um departamento do governo em Ancara (capital da Turquia) e dura uma média de 3 meses e 90% dos pedidos para sair do país com um gato são negados.
Eles podem ter os dois olhos azuis, os dois âmbar ou um azul e outro âmbar. Esse terceiro grupo é o mais desejado e o que menos acontece, cerca de 3%, apenas. Os filhotes nascem com os dois olhos cinzas. Vinte dias após o nascimento as cores começam a mudar e com 45 dias elas se fixam e aí é possível saber se os dois olhos são da mesma cor ou diferentes. A Universidade não vende os que possuem olhos com cores diferentes porque cuidam para que não acabem.
Um casal deles foi levado para a Inglaterra em 1955 por uma jornalista que trabalhava para o Conselho Turco, Laura Lushington, que trabalhou incansavelmente pelo reconhecimento da raça, que aconteceu em 1969.
São gatos silenciosos e não gostam muito de colo ou abraços apertados, mas são bons amigos e gostam das pessoas. São meticulosos em sua limpeza, inteligentes, vibrantes e cheios de amor pelas pessoas. Amam os lugares mais altos da casa. São os únicos gatos que gostam de entrar na água e brincar. São bons caçadores e dizem que na antiguidade nadavam no Lago Van e pegavam peixes para comer. Na Van Kedisi Evi eles são alimentados com ração e atum. Raramente adoecem. São muito fortes.
Sua pelagem é mais cheia no inverno, no verão diminuem, talvez porque se banham direto na piscina que possuem. Não precisam ser escovados quase nunca porque o fato de estarem sempre na água já deixa sua pelagem muito bem escovada. As fêmeas pesam em torno de 3 kg e os machos 3,5 kg ou um pouco mais. Possuem focinho arredondado e rosa, o couro das patas também é da mesma cor, rosa. Possuem uma membrana entre os dedos, que os ajuda no impulso e possuem o corpo coberto com uma camada oleosa, que lhes permite nadar na água de 35-40 graus.
Seu período de acasalamento acontece nos meses de fevereiro, março e abril. A gestação é de 62 dias e o máximo de gatinhos são 4 em cada gestação.
Um deles chega a custar em torno de R$ 5.000 no Brasil. Na Universidade, os que podem ser vendidos custam entre 300 e 500 Liras, cerca de R$ 190 a 315.
Tudo isso me foi explicado e mostrado gentilmente pelo Ali, que não poupou esforços para me fazer compreender cada palavra. Até eu que nunca tive gato voltei de lá querendo um!!!