Oi, gente! Quase 6 meses vivendo em Kuala Lumpur, na Malásia, e continuo amando tudo por aqui. Melhor dizendo, quase tudo. É sobre esse “quase” que escrevo hoje: os problemas da Malásia, na minha opinião! Também escrevo nesse mês sobre um assunto que faz com quem vive “fora” se identifique, que são as fases de adaptação no novo país.
Conforme abordei nos meus textos passados (confira: Chegando em Kuala Lumpur e A comunidade brasileira no exterior), minha vida por aqui tem sido maravilhosa. Sempre vai ter alguém que vai dizer que é impossível ser tão bom assim. Para mim é! Aí que entram todas as variáveis que fazem ou não você ser feliz fora do seu país de origem. Elas são subjetivas e abrangentes, podendo estar ligadas às suas experiências anteriores, momento de vida, objetivo no novo lugar e até condição financeira. Assunto para um outro texto, quem sabe: o que me faz feliz aqui e não me fez ser lá. Guardem aí.
O importante é saber que fases, dificuldades, altos e baixos, são comuns a todos os imigrantes. Você não está sozinho “nesse barco”. Comigo não foi diferente. Passei por grandes mudanças nesses anos. Várias me fortaleceram, outras me magoaram, diversas fizeram eu ver o mundo e as pessoas dele com outros olhos, mas o mais importante é que o resultado delas foi um autoconhecimento incrível. Hoje eu sei o que eu quero, como eu quero, quem eu quero e onde eu quero!
Para falar de forma mais concreta sobre este assunto, quero dividir com vocês um ensinamento que aprendi em vários cultural trainings que fiz. Chama-se Teoria da Curva em U, que considera que o processo de adaptação a uma nova cultura passa por quatro fases: Lua-de-mel, Choque cultural, Ajuste e Domínio.
A fase Lua-de-mel é caracterizada pelo encantamento com a nova cultura e a fascinação com tudo que o novo nos apresenta. Esta fase pode durar semanas ou meses, dependendo de cada processo. Para aqueles que não desejaram mudar de país ou viver em uma nova cultura, como esposas ou maridos que estão acompanhando seus cônjuges, ou filhos que estão acompanhados seus pais, esta fase passa muito rápido. Há ainda algumas pessoas que não a vivenciam, indo diretamente para o choque cultural. Isto aconteceu comigo, quando mudei para Londres. Infelizmente, nunca tive a fase lua-de-mel com a Inglaterra.
A fase Choque cultural surge quando a pessoa se depara com as dificuldades de ser um imigrante. Essas experiências vão desde a dificuldade com a nova língua, a burocracia para abrir uma conta no banco ou alugar um apartamento, até a mudança de papéis sociais, como, por exemplo, uma mulher passar de advogada à dona de casa, ou ainda pior, na nossa sociedade machista, o homem passar a ser “do lar”. Com o passar do tempo, as diferenças culturais se tornam irritantes e humilhantes, e toda a dificuldade parece não ter solução. É comum nos sentirmos deixados de lado, passando vergonha, muitas vezes o sentimento de humilhação nos persegue. Passei por isso muitas vezes. Hoje já sei rir das situações, mas não é fácil.
Quando consegue-se superar essa fase, é chegada a hora de caminhar em direção à fase Ajuste. Muitos imigrantes podem estagnar na fase choque cultural. Não há nada de errado nisto. Faz parte! O melhor seria não desistir e, por pior que seja, tentar tirar algum proveito disso. Muita gente não consegue e acaba, neste momento, voltando para os “braços” da pátria amada.
A fase Ajuste é quando já conseguimos reconhecer aspectos do lugar e do comportamento social, e já não nos sentimos um total estranho. Esta fase é lenta e são comuns ciclos de crise e adaptação durante este processo.
A última fase, chamada de Domínio, acontece quando a pessoa apresenta um domínio suficiente do ambiente e da nova cultura. Não significa que deixamos nossa “brasilidade” de lado, mas sim que somos capazes de nos adaptar ao novo ambiente, nos comportarmos segundo os padrões da nova cultura. Não só somos aceitos nesta cultura, mas também a aceitamos ou, pelo menos, a entendemos melhor. Nesta fase, podemos experimentar um equilíbrio psicológico e emocional. Depois de cinco anos vivendo em Londres, eu acho que cheguei na última fase sim. Cheguei tanto, que entendi que aquele, definitivamente, não era o meu lugar!
Parece que a minha razão e objetividade não me deixam viver a fase Lua-de mel mesmo. Não estou passando por essa fase por aqui também não! Como já falei anteriormente, minha experiência na Ásia tem sido ótima, mas eu consigo, claramente, enxergar os problemas. O que para mim não são muitos, mas existem. Vou falar sobre eles, aí abaixo, e vou fazer isto por ordem de impacto direto no meu dia a dia. “Bora” lá?
- Problemão do tipo eu não consigo lidar: banheiros públicos na Malásia. “São para matar”. Eles têm duchas higiênicas em todos os banheiros e as usam, e muito, o que faz com que os toaletes, literalmente, fiquem encharcados de água e você, necessariamente, pise nela. Eu finjo que ela é limpa para não pirar mas, obviamente, os respingos de todos os “números” estão por ali. Um nojo. Para completar, se o banheiro estiver cheio, com fila, ela não valerá pois a mesma não é respeitada e aí, além de você estar “boiando” naquele lugar, você estará lutando por ele. Não riam. Não é engraçado!
- Problema difícil mas contornável: respeitar fila. Não sabem o que é. Eu grito line (fila em inglês americano), queue (fila em inglês britânico), 排队 (fila em mandarim), baris (fila em malaio), nada adianta. Total falta dessa cultura ou desta educação mesmo. A fila de um elevador no shopping, por exemplo, a gente respeita quem chegou antes, certo? Errado. Aqui não! Eles vão chegando e entrando… não querem saber se é velho, bebê em carrinho, nada. E para sair do elevador a imagem é a mesma. Eles não esperam sair. Para a grande maioria dos malaios (cidadãos da Malásia), dois corpos ocupam o mesmo lugar no espaço. Triste.
- Problema do tipo perigoso mas eu já tenho o jeito: atravessar a rua. Este ato, pelas ruas da Malásia, é uma aventura perigosa e o único jeito de você conseguir essa façanha é se jogando no meio da rua e “chamando” no sinal de PARE com a mão. Complexo!
- Problema costume/cultura: falar com a boca cheia, arrotar em público, comer com as mãos, etc. Terei que me acostumar pois faz parte da cultura do povo. O desafio está sendo fazer a Bella (minha filha de 4 anos) entender que não é errado para o colega dela fazer isso mas para ela é, no mínimo, inadequado.
- Problema ruim para os outros mas bom para mim 1: verão o ano todo. Amo!
- Problema ruim para os outros mas bom para mim 2: comida super temperada e apimentada. Amo demais.
- Problema que me contaram mas ainda não vivenciei: corrupção. Dizem ser outra coisa séria neste país. Tanto no setor público, quanto na sociedade de forma geral. Sabe aquela velha e conhecida “molhada de mão” do policial de trânsito para te liberar daquela multa? Então… aqui existe e muito. Neste aspecto, infelizmente, me sinto em casa.
É isto gente, espero que tenham curtido ler sobre as fases de adaptação e sobre os “pontos de melhoria” do meu novo país.
“A perfeição só pode ser avaliada por aquilo que é perfeito. E, portanto, não existe.” (Marcus Deminco)
15 Comments
Leitura agradável. Estílo literário excelente. Texto muito elucidativo. Quem lê parece estar presente. Parece que estás “tirando de letra” os problemas . Abração! aguardando o próximo. Quando sair teu livro, vou ler tudo novamente.
Melhor parte é ter você como leitor querido Mestre! Obrigada
Texto excelente…. Ah os banheiros na Malásia… A comida apimentada…. 1 ano se passou e não me acostumo com estas duas coisas
Imagino Renata… algumas coisas não tem jeito mesmo… Obrigada pela leitura!
Um deleite seu texto! Amei a fluência e a sinceridade.
Não costumo viver a fase “Honey moon”. Acho que já vou tentando sobreviver por ali aos trancos e barrancos. Na Austrália tive vontade de voltar para o Brasil no outro dia. Já em Londres, ficaria para sempre….! É coisa de alma mesmo!
Amei o texto! E “tô” indo lhes ver em breve! Beijos
Esperando por ti já! Feng Shui… com certeza.
Parabéns, ótimo texto !
Obrigada pela Leitura!
Amei o texto, Jana! Realmente muito bem escrito e fluído e, o melhor de tudo, me fez refletir sobre as minhas próprias mudanças, as fases de cada uma e como um simples olhar positivo Pode ser crucial para se alcançar o domínio!
Li o texto e te escutei narrando!! ❤️❤️❤️
Não pude deixar de rir na cena do banheiro, te imagino lá, xingando na fila! Que coisa!! E como é a higiene desse povo? Adianta o chuveiro apesar de toda sujeira no chão? ?
Super bjs! Keep writing!!! ??
Ai que bom que você está acompanhando! Quanto ao chuveirinho… esse é o meu medo… imagina o nível de “pureza” de toda aquela água esparramada… Triste
Beijos!
Olá Jana, (já estou íntima!)
adorei o texto, com todas as dicas e comentários.
continue escrevendo já sou fã!
aproveito para te desejar um 2018 com muitas aventuras e alegrias.
bj
Olá Jana, (já estou íntima!)
adorei o texto, com todas as dicas e comentários.
continue escrevendo, já sou fã!
aproveito para te desejar um 2018 com muitas aventuras e alegrias.
bj
Amei o texto!! E o site é muito legal, exatamente o q eu estou precisando! Parabéns!!
Eu estou morando na Malásia, em Selangor próximo de Kuala Lumpur, a pouco tempo e estou em busca de alguns esclarecimentos de pessoas que já vivem aqui a algum tempo, como mercados que tenham produtos brasileiros ou os que estamos acostumados, e também escolas de línguas pois gostaria de estudar idiomas. Se alguém puder me ajudar agradeço bjos
Olá Leana,
A Janaína Barreto parou de colaborar conosco, mas temos outra colunista na Malásia chamada Vanessa Taboada que talvez possa te ajudar.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
Obrigada!! Vou pesquisar!