Na Espanha, o mais correto seria falar da Semana Santa e não apenas da Páscoa. Afinal, a data que é o feriado mais longo desde o Dia de Reis, marca a chegada definitiva do calor e se torna um pretexto para as famílias se encontrarem ou viajarem.
Vou contar um pouco do que vi na Semana Santa de Alcalá de Henares (uma cidade na Comunidade de Madri) e Córdoba (Andaluzia, sul da Espanha).
Por ser um país que já tem suas próprias tradições, pouco ou nada se fala de Coelhinho da Páscoa. É raro encontrar um ovo de chocolate e só alguns cafés ou padarias em zonas turísticas vendem o doce nesta época. Por outro lado, também se come bacalhau e rabanada. Isto mesmo! Aquela mesma rabanada, companheira do Natal brasileiro, aqui aparece na Páscoa.
O ponto alto, entretanto, são as procissões que saem pelas ruas das cidades organizadas pelas Irmandades ou Confrarias duranete toda semana e, especialmente, na Quinta-feira Santa e na Sexta da Paixão. As procissões são extremamente organizadas, contam com sua própria hierarquia, banda de música, tema e vestimentas; até ensaio elas fazem nas semanas anteriores ao desfile.
As Irmandades ou Confrarias são grupos de leigos católicos que se reúnem para rezar e meditar a Bíblia durante o ano, sob direção de um sacerdote. Na sua origem, nos séculos 16 e 17, os fiéis eram do mesmo grêmio profissional ou companheiros de armas; mas atualmente reúnem pessoas de diversas origens. Geralmente, tomam como patrono um título de Nossa Senhora (Dolorosa, do Silêncio, dos Aflitos, etc.) ou alguma cena da Paixão como a Última Ceia, a Coroação de Espinho ou a Descida da Cruz. Uma vez escolhido o tema é hora de encomendar a um escultor especializado em imagens religiosas – o imaginero – que faça uma imagem que será venerada por esta Irmandade e sairá pelas ruas na época da Páscoa.
Ao longo do ano, paralela à atividade espiritual, os irmãos ou confrades, arrecadam fundos para pagar os custos da procissão. Em Sevilha, a maior referência do assunto, as procissões começam na sexta-feira que antecede à sexta da Paixão e só terminam no Domingo de Páscoa. Inclusive a maior procissão sevilhana acontece na noite de quinta para sexta chamada de “La Madrugá”. Seis irmandades percorrem as ruas da cidade, passam pela catedral e voltam às suas paróquias para lembrar os últimos momentos da vida de Jesus.
Na procissão participam fiéis de todas as idades, desde crianças até idosos. Abrindo o cortejo vai a insígnia da Irmandade ou Confraria, em seguida, conforme a antiguidade dentro da organização, vão os “penitentes” com hábitos que cobrem o corpo todo e com um chapéu cônico. As cores variam e podem ser vinho, verde, vermelho ou preto. Alguns fiéis vão descalços, com correntes enroladas nos tornozelos e há os que carregam cruzes, assim como Jesus fez durante sua caminhada ao Calvário. Igualmente vão acólitos carregando velas ou incenso dando o tom religioso à cerimônia. As mulheres vestem negro, pois estão acompanhando o luto de Nossa Senhora, usam a famosa mantilha espanhola, usam joias e maquiagem; ao final, dando o ritmo e fechando cortejo, a banda tocando música solene e algo fúnebre.
No meio desta profusão de gente vem o andor ricamente enfeitado com flores ou velas. No alto, a imagem que beira a perfeição. Embaixo, carregando este peso todo vão os costaleros, que – literalmente – carregam aquele peso todo nas costas. O cargo, algumas vezes, passa de pai para filho. Devido ao esforço e o tamanho do itinerário, os costaleros fazem revezamento para carregar o andor.
Não sei se todos que participam de uma procissão o fazem por convicções religiosas. Muitos estão ali para manter a tradição ou por que sentem orgulho de fazer parte de um esforço da comunidade e assim querem acrescentar seu grão de areia. Para quem está de fora, como foi o meu caso, foi uma experiência bastante forte e enriquecedora ver um costume que remonta há séculos acontecer ali diante dos meus olhos.
5 Comments
Muito legal manter estas tradições, imagino a emocao de participar de um momento assim, parece tudo muito bem feito e organizado, achei as fotos impressionantes! 🙂
Obrigada! Realmente é emocionante. Que bom que você gostou das fotos. Bj.
Estou em Córdoba para a semana santa. Vivo em Lisboa há 24 anos e não temos nada como cá em Espanha. As procissões são belíssimas com imagens magníficas. O clima é tão intenso que sentimos uma emoção sem igual. Aconselho vivamente a quem puder vir a Córdoba passar pelo menos os 4 dias- de quinta a Domingo de Pascoa
Olá, Leila! Obrigada pelo seu comentário. Também fiquei muito comovida com o que vi em Córdoba. Abraços!
Pingback: Páscoa pelo Mundo!