Por que voltar a estudar depois dos 40 na Finlândia?
Este ano resolvi voltar a estudar. Aos 41 anos de idade vejo com clareza que minha experiência não pode caminhar sozinha. Ela precisa de certificações e de especializações.
Num país como a Finlândia, onde o nível de educação é alto e muitas pessoas estudam o tempo inteiro ao longo da vida, não é fácil ter vantagens no mercado.
No mundo de hoje, tudo muda na velocidade da luz; as empresas mudam suas estratégias e têm que se readaptar o tempo todo. Com esta readaptação, cargos deixam de existir, novas carreiras e posições surgem e as carreiras que se mantém, também mudam. Isso gera novas oportunidades, mas também muitas demissões e o fechamento de um número considerável de empresas cujos serviços deixam de fazer sentido. Salvo algumas exceções, não há certeza sobre emprego nenhum, nem sobre aquele no qual você trabalha há 30 anos.
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Faz um ano que deixei meu emprego estável para me tornar freelancer. Não me arrependo em absoluto, pois estava acomodada e não tinha mais como crescer. Claro que aprendi coisas, mas nada que sirva para o que realmente quero e gosto de fazer. Como freelancer, no entanto, sinto que cresço todos os dias, apesar de trabalhar muito mais, porque eu tenho que buscar por oportunidades e preciso me reinventar e me aprimorar o tempo inteiro.
Por mais que eu me considere atualizada, pois trabalho no mundo online e logicamente conheço e uso suas ferramentas, as mudanças do mercado são tantas, que a especialização real é inevitável. Pude constatar isso pelo perfil dos meus colegas do mestrado. Achei que seria a vovó da galera, mas minha turma é muito heterogênea. Apesar de estar no time dos mais velhos, não somos tão poucos e nem somos muito mais velhos do que a grande maioria.
Há pessoas em cargos altíssimos no meu curso: CEOs, gerentes de comunicação, gerentes de marketing, mas todo mundo está correndo atrás. Alguns estão, inclusive, fazendo seu segundo mestrado ou já possuem MBA e diversas certificações.
A importância de ter um mestrado ou de acumular certificações é visível nos sites de emprego. Algo que percebi este ano e que não era assim há 2: as grandes empresas que oferecem estágios, buscam cada vez mais por alunos de mestrado como estagiários e não somente alunos de bacharelado. Isso sem contar a fluência tecnológica que se espera de um candidato: saber usar as ferramentas de business e social media, saber analisar dados estatísticos, ter o conhecimento de programas que vão além do Office. Vejo esses requerimentos muitas vezes para cargos teoricamente simples, como secretária e assistente administrativo.
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Outra coisa que percebi na minha área, mas que acredito seja igual em várias outras, é que somente a academia não me dará o que realmente preciso. Terei meu diploma de especialista depois do mestrado, fato, mas ele não me adiantará de nada se eu não tiver certificações complementares, das quais terei que correr atrás via cursos online fora da universidade.
Eu estou adorando o meu mestrado. Comecei há dois meses e já apendi tanta coisa…
Deixo aqui algumas dicas para você, que vive ou pretende viver aqui e deseja fazer mestrado na Finlândia.
1. Yliopisto ou Ammattikorkeakoulu?
As duas são universidades, a diferença é que a primeira se refere a academia tradicional, focada em continuidade e pesquisa. A segunda trata-se de uma universidade de ciências aplicadas e contempla áreas menos acadêmicas e mais práticas. Nelas, os cursos mesclam teoria e prática e o mesmo vale para o tipo de mestrado. No mestrado de uma Ammattikorkeakoulu você tem como escrever sua tese em colaboração com seu empregador, por exemplo: desenvolver um projeto e implementá-lo na empresa onde trabalha e escrever a tese sobre este processo. Você pode criar um projeto de start-up, falar sobre os problemas que ela resolve, sobre a inovação que trás e construir o business plan. E o mais legal! Você não precisa que sua tese esteja toda no papel, pode usar recursos de multimídia para construí-la, por exemplo: uma parte da tese pode ser um vídeo e a universidade provém todos os recursos para isso. Em ambas as opções você pode seguir em frente com um doutorado se quiser, mas na Ammattikorkeakoulu, não são todos os cursos de mestrado que provêm o número de créditos necessários para um PHD. Você deve pesquisar por isso na página do curso de seu interesse. Doutorado, até o momento da escrita deste artigo, é sempre feito em Yliopisto.
2. Idioma
Cada vez mais as universidades se internacionalizam e oferecem cursos de pós-graduação em inglês. Não é difícil conseguir encontrar algo no idioma. Na universidade onde estou, por exemplo, não há opção de curso em finlandês em minha área de especialização.
O nível de inglês necessário é alto. Agumas universidades, como a minha, têm sua própria prova, outras, exigem exames como o TOEFL, Cambridge ou algo do gênero. Esta informação sempre está no site das universidades.
3. Anuidade
Quem tem visto de residência na Finlândia, independente da nacionalidade, não precisa pagar por cursos acadêmicos (Bacharelado, Mestrado e Doutorado). Quem não é residente, se tiver nacionalidade de país membro da UE também não paga. Quem vem como estudante, mas não tem nacionalidade europeia, paga. Os valores variam e devem ser vistos no site oficial da universidade em questão, na página do curso de preferência.
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4. Documentos
Tradução juramentada do diploma de graduação e do histórico. No meu caso, como sou finlandesa também e resido aqui antes das regras da Apostila da Haia, minhas traduções foram aceitas somente com o reconhecimento das firmas e com a internacionalização dos documentos. Para quem vem agora isso mudou. Os documentos devem ser apostilados. Na página dos cursos, no site das universidades, há explicação sobre isso.
5. Processo seletivo
Falarei sobre isso em detalhes em meu texto do mês que vem, mas adianto que as universidades são livres para escolherem o critério de aceite dos alunos para cursos de mestrado e doutorado. O que costuma ser unânime: ter o seu projeto de tese, fazer uma entrevista face a face e escrever uma carta de intenção onde você expresse o porquê de ter escolhido o curso e o que você acredita que pode agregar à instituição. O projeto pode mudar ao longo do curso, mas você precisa ter uma ideia concreta e ser capaz de expressar isso no papel.
Continuo no mês que vem, falando mais sobre o processo seletivo e os benefícios a estudantes.