Primeiras impressões de Lima.
Depois de quase um ano do nosso casamento, já era hora de sairmos da casa dos meus pais. Um emprego bom para para o meu marido no Brasil, infelizmente, parecia algo impossível enquanto ele não tivesse a tão sonhada permanência.
A empresa na qual ele havia trabalhado anteriormente no país dele, Portugal, chamou-o para um cargo ótimo, com todos os benefícios que precisávamos, incluindo um apartamento com todas as contas pagas! Seria um sonho se a vaga não fosse em Lima, no Peru.
Ficamos chocados porque recusar simplesmente não era opção. Queríamos muito o nosso canto, as nossas coisas, o nosso espaço. Nunca tínhamos pensado que um terceiro país faria parte da nossa vida, talvez porque tudo já estava cansativo demais, dividido por dois.
Em menos de quinze dias meu marido chegava em Lima e eu, quatro dias depois, numa sexta feira ensolarada e de transito caótico. Cheguei completamente desnorteada… A pessoa que deveria estar me esperando segurando uma plaquinha com o meu nome não estava na saída, meu celular não funcionava, eu não falava nenhuma palavra em espanhol, entendia poucas e estava exausta depois de passar a noite inteira acordada por conta de uma escala de dez horas em Santiago.
Lima era assustadora. De todos os países que eu conheço, o Peru foi o primeiro onde eu não cheguei feliz. Talvez porque aquilo não era uma simples viagem. Aquilo era uma mudança radical que havia sido imposta na minha vida. Se eu quisesse estar com meu marido, que era a minha maior vontade, tinha de ser ali.
Eu olhava para todas as pessoas naquele aeroporto e só pensava em uma coisa: “Por que, de todas essas pessoas, eu sou a única que não pode voltar pra casa depois que o passeio acabar?”. A resposta, obviamente, era que aquilo não era um passeio.
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Pedi ajuda em português para encontrar um táxi que me levasse ao endereço que meu marido tinha me passado. O oficial, com muita boa vontade, falando quase como se eu fosse um bebê, me explicou que aquele endereço era longe dali e que me colocaria em um táxi de uma empresa que trabalhava somente no aeroporto e que ele mesmo conhecia o motorista.
Entrei no táxi e o país começou a se apresentar para mim. O taxista, depois de quatro ou cinco tentativas sem sucesso de iniciar uma conversa, se calou e nos guiou pelas ruas pálidas de Lima com um estilo de dirigir que mais parecia ter saído de um filme de ação com perseguições loucas em carros tunados. Sobrevivi e cheguei ao endereço certo menos de trinta minutos depois de entrar no “táxi aventura”.
Tive a certeza de estar no local certo quando, na calçada, andando rapidamente em direção ao carro para me abrir a porta antes que eu quebrasse o ato de cavalheirismo, me surgiu um senhor alto, magro e de pele morena. Era um “típico” peruano. Ele, com um imenso sorriso no rosto, perguntou em voz alta: “-Señora Queirós?”
Desci dizendo que sim e estendendo-lhe a mão, tentando disfarçar o quanto a extrema beleza do local onde estávamos me deixava boquiaberta. Era o bairro de San Isidro. Esse senhor se apresentou como Edgar, o porteiro do prédio onde iria morar. Ele estava com o dinheiro que meu marido havia deixado com ele e, imediatamente, pagou o táxi e me deu o troco, já levando minha mala para o elevador.
Edgar me passou a minha chave, me sorriu novamente, e me disse que meu marido em breve chegaria, segundo o que ele mesmo tinha deixado como recado. Antes que eu pudesse abrir a porta, o Edgar me disse: “-Bienvenida al Peru, señora. Seas feliz! ” . Há três anos que eu sigo esse conselho.
2 Comments
Muita coragem, Rafaela! Que vocês sejam muito felizes aí!
Rafaela, amei a sua historia .Essa e a historia de muitas Rafaelas . Um beijo minha linda sobrinha . Seja feeliz , onde quer que vc esteja !