Quando imigrar está no sangue.
Tanaka é um dos sobrenomes mais comuns na terra do sol nascente, é tipo o Silva dos japoneses. A família do meu pai desembarcou no Porto de Santos em 1929 tendo como destino a cidade de Mogi das Cruzes, escolheram o gigante da América do Sul pela fama de país do futuro, lugar de terras férteis, abençoado por Deus, sem desastres da natureza.
A família Vasconcelos de Portugal recebeu título de nobreza, ocupou altos cargos administrativos e era figura frequente na alta sociedade lusitana. Já a minha família Vasconcelos, se inicia com minha avó chegando no Rio de Janeiro aos 15 anos de idade, indo para São Paulo para encontrar seu padrinho e se apaixonando por um ex seminarista de 17 anos, recém chegado no Brasil e que apesar do sobrenome nobre, não tinha onde cair morto.
Já estava tudo decidido para meus pais receberem sua primogênita, meu nome seria Michelle. Haviam toalhas bordadas e enfeite de porta com um dos nomes mais populares no final dos anos 80. Até que, minha mãe teve um sonho. Ela sonhou com alguém dizendo que a filha dela deveria ter o nome do personagem do livro de Sidney Sheldon que ela estava lendo, alguém dizia que Michelle não estava certo, o nome dela teria que ter origem inglesa, mesmo sendo um nome masculino, o nome dela tinha que ser Sheyne.
A minha primeira viagem internacional foi aos dois anos de idade. No meio de uma crise financeira e no auge da juventude, meus pais decidiram se aventurar em terras orientais e foram um dos primeiros a ingressar em um movimento muito comum entre o eixo Brasil- Japão, os decasséguis. Ficou tudo pra trás e atravessamos o mundo para eles trabalharem 20 horas por dia, 7 dias por semana. Para mim, a aventura durou um ano, minha mãe engravidou e voltei com ela para o Brasil, meu pai não viu meu irmão nascer.
Cresci com essas histórias a minha volta, cresci ouvindo sobre a vida nas fazendas de uva em Portugal e sobre a viagem de navio que durou 3 meses, cresci ouvindo como era duro lavourar em fazendas em arroz e como no Japão é muito difícil se cultivar alimentos, parentes que vem e vão, parentes que foram e nunca mais voltaram.
Passei anos cultivando essa vontade de partir, amava ficar folheando o Atlas, lendo blogs e sonhando com os lugares que um dia eu iria conhecer, a vontade era imensa mas a coragem era sempre minúscula. A vida foi passando e a zona conforto me prendendo a mil desculpas, meu namorado que não queria sair do Brasil, minha pós em Marketing que eu precisava terminar, minha carreira no banco que estava prestes a decolar.
As coisas mudaram em 2015. Emprego novo, namorado novo, Sheyne nova! Tinha o dinheiro para dar a entrada em um apartamento quando bateu aquele desespero – você vai deixar isso pra lá, de novo? – disse minha consciência. Dessa vez, minha resposta foi – Não! Então, vendi meu sonho pro meu namorado, ele topou, nos planejamos e viemos, tudo assim, muito rápido!
Dia 04 de Maio de 2017 vai fazer um ano que estamos em Melbourne, na Austrália. Apesar de toda saudade absurda que sinto de casa, estou muito feliz! Inicialmente viemos para estudar inglês e hoje além do inglês, faço especialização em Marketing Digital, trabalho duro em três empregos casuais, viajo bastante e apesar de exausta, sou grata, mas muito grata por estar vivendo esse sonho.
Não tenho dúvidas que embarcar nesta aventura foi uma das melhores decisões da minha vida, adoraria compartilhar cada momento desta experiência com vocês e assim encorajar muitas outras mulheres a fazer o mesmo. Afinal, já dizia o poeta “Vamos viver nossos sonhos, temos tão pouco tempo”.
8 Comments
adorei seu texto e a coragem!
Obrigada Marcia! Que bom que você gostou! 🙂
Que lindo texto! Amei muito interessante ????????????
Obrigada Suellen 🙂
Sucesso! Me identifiquei muito. Espero seguir seus passos. Um abraço! Tudo de bom.
Olá Thales! Obrigada pela leitura e comentário!
Espero que você realize seus sonhos assim como estou realizando os meus!
Boa sorte e toda luz pra você! 🙂
Sheyne , adorei seu texto continue escrevendo e quem sabe em breve nos veremos em Melbourne .
bjos Ca
Olá Carla!
Muito obrigada pela leitura e pelo comentário!
Me escreve quando estiver aqui, podemos tomar um cafézinho 🙂
Beijos!