Escola internacional ou local?
Para quem tem filhos, uma das grandes questões quando saímos do Brasil é o tipo de escola a escolher. Nem sempre o país para o qual vamos nos oferece escola pública com fácil acesso e educação de qualidade. Muitas vezes, como é o caso do Quênia, as escolas públicas são deficitárias até para a população local, as vagas não são suficientes e o ensino deixa a desejar. Aqui existem basicamente três tipos de escola: a escola pública (financiada pelo governo e, assim como no Brasil, tem acesso limitado e condições precárias), a escola particular local e a escola particular internacional.
Hoje vou focar nos dois últimos tipos de escola: a local particular e a internacional, pois eram as minhas opções na época de matricular meus filhos.
Já havia feito pesquisas sobre as escolas pela internet, então tinha ideia mais ou menos de preço e do que me ofereciam. Aqui em Nairóbi existem mais de 20 escolas internacionais, fato que achei interessante e que me deixou surpresa. A saga seria escolher, dentre todas, em qual meus filhos estudariam.
Os currículos das escolas internacionais variam bastante, uma vez que existem escolas internacionais holandesas, francesas, alemãs, americanas e britânicas. Em cada uma delas há ênfase na língua e na base curricular do país a qual a escola pertence. Por exemplo: a escola Francesa, além da matemática, ciências e língua inglesa – que no Quênia todas têm em comum – tem o francês como idioma curricular e obrigatório.
Outra característica das escolas internacionais é que seus professores são trazidos do exterior, geralmente nativos na língua da escola, e recebem grandes benefícios e salários para viver e ensinar aqui no Quênia.
Em contrapartida, existem as escolas locais particulares. Nelas, os professores são quenianos. Além das matérias obrigatórias que já citei acima, o Kiswahilli (segunda língua oficial do país) é matéria obrigatória e levada muito a sério pelos professores. Matérias como “estudos sociais”, são voltadas para o estudo do país e a geografia aprendida nos primeiros anos, como seria de se esperar, é a geografia do Quênia e do Leste Africano. A maioria das escolas particulares locais têm o ensino religioso como matéria fundamental.
Ambos os tipos de escola têm em comum a quantidade de horas diárias de estudo. Geralmente, as crianças entram às 7:30 da manhã e saem entre 15:30 e 16:30. Elas oferecem aulas extracurriculares, como violão e piano, que são ministradas dentro deste horário. Nos dois tipos de escola são oferecidos o almoço e o lanche.
Grande parte dos estrangeiros que moram aqui têm o valor da escola de seus filhos incluso em seus contratos de trabalho, portanto, quase que 100% dos expatriados que eu conheço, têm as crianças matriculadas em uma escola internacional.
Quando chegamos, cogitamos colocar os meninos para estudar em uma das escolas internacionais, mas realmente me assustei quando vi os preços anuais. Uma escola destas, por ano, chega a custar 30 mil dólares por aluno, sem contar os gastos com alimentação e transporte. Como temos três filhos e o contrato do meu marido não prevê a escola, uma escola internacional é impossível em nosso orçamento.
Decidimos por uma escola queniana particular. Para nós, que somos brasileiros e que pensamos em eventualmente voltar para o Brasil, uma escola internacional não tem muito sentido, uma vez que não há escolas com o currículo brasileiro e nem com a língua portuguesa. Portanto, quando meus filhos retornarem ao Brasil, pode ser que tenhamos que contratar professores particulares para ensinar as matérias do currículo brasileiro para eles. O mesmo aconteceria se eles estudassem nas escolas internacionais que temos por aqui.
O preço de uma escola particular local é muito mais acessível. Hoje pagamos em torno de 2.500 dólares, anualmente, para cada um de nossos filhos. Nestes valores estão inclusos a alimentação, aulas de tênis, natação, violão e piano, que são ministradas em caráter especial.
O lado positivo de uma escola local é que além do que ensinam curricularmente, estudar ali fez com que eles tenham um real contato com a cultura, tradições, danças, costumes e culinária local, sem rodeios ou maquiagem para turista ver. Como são os únicos estrangeiros na escola, fizeram um monte de amigos rapidamente, o que no processo de mudança e por não falarem o inglês quando chegamos, foi de suma importância para eles.
O lado negativo da escola local me assombrou muito quando me dei conta. Muitas vezes, as professoras são autorizadas a baterem nas crianças que são muito desobedientes. Não é algo corriqueiro e nem um espancamento mas, ainda assim, são pequenos tapas ou puxões de orelhas. Eu só fui saber disso depois de muito tempo dos meninos na escola. Por sorte das professoras e graças ao temperamento tranquilo que têm meus filhos, isso ainda não aconteceu com eles, mas confesso que é um costume que desaprovo e do qual tenho um pouco de medo. A correção por castigo físico aqui é considerada normal e as pessoas acham estranho que eu desaprove essa atitude. Segundo os mais velhos, antigamente era muitíssimo pior e eles já se modernizaram bastante. Acredito que pelos meninos serem estrangeiros isso não acontecerá, sempre há um pouco de proteção a eles, mas estou sempre conversando e observando o comportamento deles e das professoras.
De modo geral (excluindo o modo correcional de algumas professoras), a educação aqui é bastante satisfatória. As matérias dadas são completas e bem explicadas. As escolas são bastante competitivas quando se trata de pontuação geral perante ao governo. Na minha opinião, a educação aqui nem se compara com a da escolas do Brasil, acho muito melhor e mais completa. Mas, para mim, o mais importante e que me deixou tranquila neste processo de expatriação, é que minhas crianças estão felizes e realizadas, apesar do longo período que passam estudando.