Que tal um Cuchubal para socializar na Colômbia?
Fiquei sabendo da minha mudança para a Colômbia com certa antecedência e, por isso, pude me preparar bem em alguns aspectos. Um deles foi entrar em contato com pessoas que estavam vivendo em São Paulo, mas que já tinham vivido em Cali e obter, assim, preciosas dicas de amizade e socialização.
Uma dessas pessoas, uma venezuelana super querida, sempre me dizia: “Você tem que refazer a sua vida e uma das coisas que vai te ajudar são amigos. Quando chegar, foque em fazer amizades, pois assim não vai se sentir tão sozinha. Isso é um primeiro passo fundamental. Pois estas pessoas vão ser sua família, enquanto a sua estiver longe”. Com estas palavras, me passou o contato de uma brasileira que vivia em Cali e, como contato gera contato, este foi o princípio de várias amizades.
Mesmo antes de chegar em Cali, já iniciei contato com a brasileira que me levou para um café e para conhecer a cidade, me convidando para um Cuchubal. Ritual, aliás, que também participava a venezuelana quando vivia em Cali.
No início, eu não conseguia nem falar esta palavra, mas, de tanto ouvir, melhorei a pronúncia. Depois fui descobrir que tem suas raízes no idioma dos maias. A palavra “kuxiubál”, como se pronuncia, na verdade, se deriva dos vocábulos “kuxiu”, que significa “todos” e “bál”, que faz alusão à palavra “colocar/ por”; ou seja, “Todos colocam/ Todos põem”. Simplificando, é uma espécie de ritual ou tradição guatemalteca, que se espalhou por vários países da América Latina e que, ultimamente, tem o objetivo de compartilhar e socializar.
Mas eu só fui descobrir estas coisas mais tarde. Meu primeiro contato com o Cuchubal foi totalmente inesperado. Fui para a tal reunião sem nem saber o que encontrar. E encontrei um grupo de 14 mulheres completamente diferentes uma das outras, mas que, ao mesmo tempo, traziam unicidade e riqueza de diversidade para aquele grupo.
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Unicidade, pois todas se dão super bem, respeitam umas as outras, se ajudam, são companheiras e aprendem umas com as outras. E diversidade, pois são mulheres de seis países diferentes, ou seja, cultura e costumes diferentes, idades e experiências de vida diversas, o que traz uma riqueza para o grupo que cresce e se fortalece a cada encontro.
O primeiro Cuchubal que fui foi um jantar mexicano, com comida original mexicana, feito por um das integrantes. Existe toda uma preparação para cada encontro que é bem pensado e super caprichado, com decoração e bebida típica. Mas cada Cuchubal é uma surpresa, você nunca sabe o que esperar. Os encontros são feitos uma vez por mês e existe um sorteio, no qual cada uma fica sabendo da sua data com antecedência e assim tem tempo de organizar e surpreender.
O tema do Cuchubal pode ser bem variado, mas o ideal é que explore algo de acordo com sua personalidade ou cultura. Dependendo do mês também se pode organizar algo de acordo com alguma data festiva que coincida. Mesmo não sendo oficialmente parte do grupo, pois a rodada tinha que terminar para entrar novas integrantes, fui convidada para mais Cuchubais desta rodada. Fui a um almoço de dia das mães e fui ao Cuchubal final, que foi uma festa do Oscar. Neste último, havia premiações para as cuchubaleras (como são denominadas as integrantes). Foi muito criativo e divertido, com prêmios para o Cuchubal mais criativo, o Cuchubal com comida mais gostosa, etc. Sabe que eu até ganhei um prêmio? O de Cuchubalera com adaptação express! E, assim, a rodada se iniciou novamente e já sou uma Cuchubalera oficialmente.
A capacidade de criatividade feminina é o que mais me surpreende. Já me contaram de Festa de anos 80, Jantar de arepas venezuelanas, Chá londrino, Natal, Carnaval, Festa grega, Degustação de vinhos, Halloween, Festa havaiana, Aula de Salsa. E todas se divertem muitíssimo juntas. Já tiveram umas tão animadas que até surgiu polícia por reclamação de barulho. Mas isso faz partes das histórias engraçadas para se contar.
Sempre tem uma pessoa que lidera a organização do Cuchubal, faz o sorteio, organiza os pagamentos e recebimentos, organiza quem entra e quem sai, gerencia a participação e assiduidade, enfim, modera o grupo. Existe até uma fila de pessoas querendo entrar de tão legal que este ritual é. Mas o ideal é manter o grupo entre 12 pessoas, assim a rodada termina em um ano. No máximo 14 pessoas, para não se estender demais.
O Cuchubal se modernizou e virou o que conto aqui, mas ele, na verdade, começou como um mecanismo de financiamento coletivo, por meio do qual um grupo junta uma quantidade de dinheiro e se reúne mensalmente para entregá-lo a um dos membros. Quando o Cuchubal nasceu, ele era formado apenas por pessoas da família e as economias eram em comida, só depois que passou a ser dinheiro. A ordem de recebimento era decidida de diferentes maneiras e também havia um organizador.
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Cada evento ocorria em um restaurante ou na casa da pessoa que receberia o dinheiro. E este oferecia algum lanche aos participantes. Apesar de, no início, ser mais um mecanismo econômico, de financiamento, fundos ou poupança coletiva, já tinha também seu lado de socialização.
No Cuchubal moderno também tem dinheiro envolvido, no qual cada participante contribui com um montante igual para a Cuchubalera do mês. E mesmo que você não possa ir, você tem que pagar o valor. É uma forma simbólica de contribuir para a organização do evento. Mas a Cuchubalera do mês escolhe quanto quer gastar em seu evento, pode ser mais do que ganhou, ou menos. Cada um é livre para fazer o que quiser.
O sorteio desta próxima rodada já foi feito e eu vou ser responsável pelo Cuchubal de dezembro. Estou colocando minha imaginação e criatividade em ação, mas aceito sugestões. O que vocês me sugerem de tema?
Já a minha dica para vocês é que organizem um Cuchubal onde quer que estejam. Uma deliciosa forma de socializar, fazer amizades, ter companhia, ocupar o seu tempo e o mais importante, se divertir muito!!