Saudade, um estado de espírito.
Todo expatriado vai, mais dia menos dia, cair na mesma crise. Ela pode sumir por meses e você pode até achar que superou ela de vez, mas ela sempre acaba voltando. É a crise do “e se?”.
E se eu tivesse ficado no Brasil? E se tivesse aproveitado aquela promoção e comprado uma passagem pro Brasil no impulso? E se eu conseguisse convencer minha família e amigos e embarcarem na mesma loucura que eu e mudarem todos pra cá? E se acontecer alguma coisa triste e eu não estiver lá pra dar apoio? E se acontecer uma coisa feliz e eu não estiver lá pra comemorar? E se eu decidisse que já chega de viver longe e voltasse pro Brasil? E se…? E se…? E se…?
Uma vez uma amiga me falou que, pra expatriado, saudade é um estado de espírito e eu preciso admitir que essa é uma grande verdade.
Você pode estar num dos melhores dias da sua vida, explodindo de felicidade, passeando de bicicleta pelos canais de Amsterdã num dia lindo de sol e calor depois que receber uma notícia fantástica. E sabe o que você pensa? Cara, como eu queria ligar pra minha mãe/avó/melhor amiga e chamar pra comemorar isso comigo!
Mas tem apenas meio continente e um oceano inteiro no meio da gente. Na diagonal.
Então o que você faz? Graças à tecnologia, você liga, manda áudio, faz vídeo-chamada, se vira nos 30 pra poder sentir que aquela pessoa ainda está fazendo parte da sua vida, por mais limitada que essa presença seja. Mas não tem aquele abracinho rápido de oi e tchau (que faz uma falta que eu não imaginava!) e nem aquela troca de olhares que passa o recado e termina numa gargalhada.
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Sempre ouvi que, quando você vai morar fora, seus amigos acabam te esquecendo, porque você não está presente pra fazer parte dos encontros, entender as novas piadas internas e dar apoio quando eles precisam. Se meus amigos tinham essa esperança, eles devem estar super frustrados.
Eu ligo, mando mensagem, gravo áudios de 8 minutos contando até o que eu comi no café da manhã e se demorar pra responder ou der respostas superficiais, eu reclamo. E isso é praticamente todo dia, com a minha mãe e pelo menos duas amigas. Faço o possível e o impossível pra me sentir perto deles e trazer eles pra perto de mim.
Mas nunca vai ser suficiente, nunca vai ser a mesma coisa. Exemplo prático, há algumas semanas eu estava na expectativa de uma notícia boa no trabalho, prestes a saber se renovariam meu contrato ou não.
Botei todo mundo de sobreaviso, expliquei os cenários com detalhes e ficava mandando mensagens com coisas que eu tinha ouvido que podiam pender contra ou a favor. No dia que eu recebi a boa notícia, fui até zuada no escritório porque me viram sorrindo pra tela do computador. Eu estava, como boa profissional que sou, contando a novidade pra uma meia dúzia de pessoas pelo WhatsApp Web, que pelo menos dá uma disfarçada.
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Vim pra casa saltitante, pedalando num lindo dia de verão me sentindo a pessoa mais feliz e reconhecida do mundo, sorrindo pra qualquer pessoa que passasse por mim (faço isso direto, a galera pela rua deve me achar doida de pedra). Cheguei em casa, cuidei do Elvis, fiz minha aula de Yoga e pensei em abrir um vinho pra comemorar a boa notícia.
E aí me senti a pessoa mais sozinha do mundo, sem as pessoas que mais importam por perto pra dividirem a comemoração comigo. Aquele momento que você entende o verdadeiro sentido da expressão “home sick”. Fiquei triste, sem energia, me sentindo doente mesmo, chorei, entrei na maior onda da auto-piedade. E me sentindo ridícula por estar tão pra baixo depois de uma notícia tão boa e que eu me esforcei tanto pra conquistar.
Mas é que, mesmo sendo uma pessoa feliz, vir morar fora adicionou um extra ao meu estado de espírito, a tal da saudade. E o melhor que a gente faz é aceitar a bichinha, deixar que ela venha, chorar um pouco, botar pra fora, ligar pras pessoas, pedir socorro e esperar que ela dê uma folga, porque ela vai.
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E vamos combinar que eu não posso reclamar, em um ano morando na Europa (completado no final desse mês) já tive minha família me visitando duas vezes, com uma terceira na agenda. Sete amigos botando Amsterdã (ou imediações) no roteiro de férias só pra estarem comigo. E dois ainda por vir nesse segundo semestre.
Então a gente acaba se contentando com abraços apertados no aeroporto, daqueles de fazer a galera em volta sorrir só de ver o quanto a gente fica feliz de estar junto. E lembra que morar fora foi uma escolha, mas que com um nadinha de esforço a gente consegue, mesmo que de um jeito meio capenga, manter quem importa na nossa vida, fazendo parte da nossa rotina e, quem sabe, até estreitando a relação.
4 Comments
Que história linda e quantas saudades hein… Sei o que é isso, eu moro longe de amigos e família, ainda não estou pela Europa, mas estar em outro estado já uma boa distância rs… Tenho que me refazer todos os dias entre amigos e algum laço afetivo. Aprendi a ter mais responsabilidades, de cara amadureci e ter mais certeza de quem quero perto de mim pra sempre na vida: a família e alguns amigos contados rs! um abraço Giovanna!
Não é fácil mesmo, Vivian, mas a gente olha pra frente, engole o choro e torce pra achar boas promoções de passagens, né? rs
Gi, amei seu texto! Esse fim de semana foi beeem ‘home sick” pra mim, até escrevi um texto pra outubro.
Linkei o seu no meu,haha!
Beijo grande!
Tem dia que não é fácil, né? Rs
Há uns dois meses eu estava desesperadamente homesick, aí agora deu uma melhorada, depois vai vir de novo e vamos seguindo a vida heheheh