Em uma recente pesquisa feita pela ONG Save the Children, a Espanha aparece em sétimo lugar como o melhor lugar para se ter um filho. A Noruega lidera o ranking seguida de Islândia e Suécia. Mas o que faz a Espanha aparecer no top 10? A pesquisa indica fatores como saúde gratuita para a gestante e o filho até os 18 anos, a baixa taxa de mortalidade materna (1 a cada 1.200 partos) e infantil (4,5 crianças a cada 1000 nascimentos). O Brasil aparece na 12ª posição no grupo dos países menos desenvolvidos, atrás de nações como Cuba, Argentina, Uruguai e Colômbia.
Ora, posso atestar in loco que é absolutamente verdade, pois resolvi ter o meu pimpolho aqui. Duas razões nos levaram a esta escolha: a primeira porque tudo seria de graça e a segunda foi a certeza que o parto seria normal se minha gestação fosse sem complicações. A Espanha tem um dos índices mais altos de cesáreas do continente europeu – 25% – mas não chega aos assustadores 56% da rede pública brasileira ou 88% de cirurgias praticadas na rede particular, de acordo com o estudo “Nascer no Brasil”, da Fiocruz, de 2014.
Tal qual a nossa colega da Noruega, Denise Assis, descreveu o pré natal em terras nórdicas, vou tentar explicar como é ser mãe na capital espanhola. No sistema médico de saúde em Madri, todas as pessoas, inclusive as ilegais, têm direito a tratamento médico gratuito; no mínimo, à emergência. Em seguida, você recebe em casa seu cartão de saúde com o endereço do seu posto. Vai lá (ou faz o trâmite pela Internet), escolhe o horário preferencial e se o médico será um homem ou uma mulher. Se você não declara a preferência os homens são atendidos por médicos e as mulheres, por médicas. Só não é possível escolher o (a) enfermeiro (a). Uma ressalva madrilenha: aqui é possível escolher o centro, o médico de cabeceira e o especialista de sua preferência. Ou seja: se você não está satisfeito pode procurar outro. No entanto, o critério inicial é sempre a proximidade com a sua residência.
E como é a relação médico-paciente? Bem, como tudo aqui em Madri: é direta! Menos ou mais atenção? Não tenho do que me queixar. Minha médica de cabeceira sempre foi gente boa e bastante atenciosa, mas nunca ficou me perguntando sobre o capítulo da novela ou os gols da rodada.
Já a obstetra que acompanhou a minha gravidez só tinha duas repostas para minhas perguntas: “é normal” e “que bom”. Se eu dissesse “senti dores nas costas esta semana”, ela tascava: é normal. Quando eu dizia que o bebê estava mexendo e que me sentia bem, ela respondia: que bom. Media a pressão, o peso, via os resultados dos exames de sangue e hasta luego. Juro que demorava mais em tirar e vestir o casaco.
No entanto, é preciso fazer uma ressalva: isso se deve ao fato de que a minha gestação foi muito bem, obrigada. Tive uma amiga que também estava grávida no mesmo período, mas a gravidez dela foi considerada de risco. Resultado: ela tinha que ir ao médico a cada duas semanas e as consultas demoravam quase uma hora.
Na primeira consulta quando o teste de gravidez é confirmado você recebe uma folha explicativa sobre os cuidados que você deve ter durante a gestação. Porque durante as consultas, os médicos não ficam explicando o que está acontecendo com seu corpo ou como está crescendo o bebê. Quem faz isso será a matrona, a enfermeira que vai acompanhar sua gestação mais de perto. Também a partir da 30ª semana de gestação assistimos aos cursos de parto e primeiros cuidados com o bebê onde se explica o processo de dar à luz e também do registro civil, vacinas e alimentação.
O curso, sim, foi o melhor de tudo. Logo na primeira aula, a matrona iniciou a explicação com uma frase que jamais esquecerei: “quem faz o parto são vocês, quem vai parir o filho são vocês. A matrona pode estar ali, segurar a mão, dançar uma sevillana, mas quem vai dar a luz, são vocês.” Caramba! Anos e anos ouvindo, “quem vai fazer seu parto?” arrasados em dois segundos. Sou eu que vou parir, eu que vou botar no mundo uma criatura. Meu marido vai estar lá, claro, mas a responsabilidade é minha! Vou ser sujeito e não mera espectadora do nascimento do meu filho.
E assim fomos vivendo o momento até que uma noite falei ao meu marido a frase que só tinha escutado em filmes: “amor, acho que tá na hora…” Fomos para o hospital apressados, porém tranquilos. Ao contrário de outros países europeus, na Espanha, a mulher pode decidir na hora que dá entrada no hospital se vai tomar ou não a peridural. Já tinha tomado a decisão que faria uso da anestesia e entre um intervalo das contrações assinei o termo de compromisso. Este foi o único médico que tive contato, pois quem ajuda a mulher durante o parto são enfermeiras especializadas.
Entre os primeiros sinais de trabalho de parto e o nascimento do herdeiro se passaram 15 horas de muita expectativa, felicidade e cansaço. O pimpolho chegou são e salvo e depois dos exames de praxe, veio para meu colo e já mamou. Em seguida foi direto para o quarto comigo. Por sorte não precisamos dividir o cômodo com ninguém e dois dias mais tarde saía do hospital com meu filhinho nos braços. Já aprendi como funcionam as consultas com a pediatra, ajudas do governo e, agora, estou entrando na “fase creche”. Mas esta história eu conto mais tarde pra vocês.
22 Comments
Primeiro de tudo, parabéns por sua decisão pelo parto normal. Realmente a posição do Brasil no ranking de cesáreas é vexatória. Tenho duas amigas mamães que moram em Madrid, que tb foram super bem atendidas, mas pra mim o ponto alto de ter filhos na Espanha, é a proximidade com o médico Carlos Gonzalez, um pediatra de quem sou fã. O livro dele, besame mucho é uma inspiração a tds os papais e mamães .
Amei seu relato
Bjs
Fabi, o melhor livro que li na vida foi o Besame Mucho !! Todo mundo deveria lê-lo mesmo que não queira ter filhos. Mudei completamente minha visão sobre crianças a partir daquele livro. Obrigada e beijos!
Olá estou pensando em ir para Espanha ano que vem tenho duas filhas uma de 5 e outra de 3, não conheço ninguém ai mais é um sonho morara ai estou me formando técnica de enfermagem será que poderia me ajudar com informações sobre o lugar, onde morar , escolas, visto permanente, emprego enfim tudo ficarei muito grata de fazer uma amizade ai bjs.
Oi, Priscila! Em primeiro lugar sugiro que você se informe junto ao consulado espanhol da sua jurisdição, pois a informação é oficial. O segundo passo é ler/ver tudo o que você puder sobre a Espanha. Terceiro, falar um pouco de espanhol porque o portunhol não é bem visto por aqui. Há também grupos de brasileiros no Facebook que sempre ajudam. No mais, espero te ver por Madri (claro). Beijos!!
Oi Juliana que bom que você me respondeu, vou ver isso certinho sim antes de tudo, porque pretendo ir com a cara e a coragem, estou reciclando meu curso de espanhol para chegar ai afiada. Tenho feito muitas pesquisas sobre os lugares ai, e Madrid é minha primeira opção segunda é Malága, li também que a crise que teve ai não afetou tanto a vida de brasileiros que estão ai, porque aqui sempre que se fala em Espanha as pessoas logo lembram a crise que teve ai por isso não perdi as esperanças de ir para Espanha, mais até logo vou fazer minhas pesquisas e depois entro em contato com você, fiquei muito feliz mesmo de você ter me respondido já entrei em alguns blogs mais infelizmente ninguém responde você foi a primeira beijos e até mais.
Oi, Priscila! Boa sorte nas suas pesquisas. Abraços e volte sempre!
Olá Juliana estou com data marcada para Madri dia 10 de abril de 2016, porém ouvi dizerem que estão barrando muitos brasileiros e me aconselharam entrar por Portugal e seguir de trem, também me disseram que a crise ai esta terrível gostaria de saber de você como esta ai para viver estou indo para Espanha com minhas filhas temo por elas, beijos fico no aguardo.
Olá, Priscila! Depende. Muitos brasileiros que foram barrados realmente não cumpriam os requisitos para entrar, mas fica mais bonito dizer que a culpa é dos espanhóis. Enfim…foram muitos casos e não convém generalizar. Quanto à crise, também depende. Algumas áreas, como a financeira, já dão sinais de melhora. Mas o bom é vir com algo certo. Obrigada e boa sorte!
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Oi Juliana! Gostei do post, mas fiquei intrigada com uma coisa … quero parto cesárea, tenho essa opção ou apenas normal com/sem anestesia? Abraços! – Brece em Ávila 🙂
Oi, Itana! Cesárea, só em último caso e só é opção na rede particular. Sem medo !! Informe-se e você verá que o parto normal é maravilhoso e não é um bicho de sete cabeças. Quer conversar mais ?? Abraço !
Olá. Estou me mudando para Madrid em 50 dias, e tenho vontade de ter parto cesárea, apesar de nem grávida estar ainda rs. Tenho esta opção apenas na rede particular, certo? Faz ideia do valor de um parto cesárea por aí???
OI, Carla! Sinto muito, mas não tenho ideia do preço de um cesárea por aqui. Abraços e venha tomar um café comigo. 😉
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Olá boa tarde, tudo bem, preciso muito de uma ajuda se você ou alguém aqui puder, eu minha esposa grávida de 7 meses e nossa filha de 4 anos moramos numa cidade distrito de Lisboa, Portugal. Ambos somos brasileiros, e como fui me informar, nosso bebé será nascido cá mas porem com a nacionalidade Brasileira, com direito a nascionlidade portuguesa só depois de 5 anos morando cá. Mas nossos planos não são dw continuar morando cá. Pelas pesquisas que fiz na Internet, quem nasce na espanha mesmo filhos de estrangeiros são espanhois, está correto? Se estiver correto, pretendemos ir para Madri proximo aos dias do nascimentos pois será apartir do dia 25 daí pra frente a qualquer hora, precisamos de orientações se for possível, desde já agradeço muito a atenção.
Boa Noite.
Se uma ilegal tiver gravida, e dar a luz na Espanha, facilita a documentação.
Oi Juliana estou indo morar em Madrid emmaio de 2016 e sou casada com um espanhol, casamento já convalidado na espanha. Gostaria de saber sobre auxílio maternidade aí tem? E sou Fonoaudiologa gostaria tb de saber se há algum centro de Reabilitação em madrid. Porque trabalho area de reabilitacao fisica em neurologia. Obrigada
Karla, a Juliana se mudou para outro país e parou de colaborar conosco. Sugerimos que procure textos de outras colunistas nossas em Madri, como a Tati, por exemplo, para tirar a sua dúvida.
Edição BPM
Sou fisioterapeuta obstétrica e gostaria de fazer algum estágio na Europa (Portugal,Espanha,Noruega ou Suécia),queria contribuir para boa evolução do parto vaginal e melhorar a humanização neste momento!Se vocês conhecem alguém que possam me ajudar,ficarei muito grata!
Olá Juliana! Estou grávida e queria tentar morar na Espanha. Saberia me dizer se uma mulher estrangeira que chega gravida ao país consegue emprego?
Olá Lara,
A Juliana Bezerra parou de colaborar conosco, mas sugiro que para tratar sobre este tema, você acesse o site: https://www.brasileirinhospelomundo.com/ pois lá são publicados diariamente temos sobre maternidade, educação, bilinguismo, etc.
Você pode entrar em contato com alguma colunista da Espanha deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM