O sistema de educação finlandês é conhecido no mundo inteiro por sua excelência. Os ótimos resultados no exame PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) alcançados nesta última década, transformaram o país no “queridinho” da imprensa brasileira. Não canso de ler matérias que discorrem sobre o sistema; artigos muitas vezes com um conteúdo um pouco fora da realidade, que tentam dar um ar de conto de fadas à nossa vida por aqui.
O que, em minha opinião, nunca foi expressado de maneira clara para as pessoas, é sobre qual parte do sistema educacional as estatísticas falam, pois, em geral, parece que tudo é maravilhoso e 100% gratuito. No entanto, é importante clarificar que o PISA avalia a educação básica apenas; o período de 9 anos do ensino voltado para crianças de 7 a 15 anos idade. O PISA não avalia o ensino médio, nem o universitário.
Quando falamos sobre ensino superior, a única universidade finlandesa que aparece no “top” 100 das melhores do mundo, na 76ª posição, segundo o ranking THE- Times Higher Education é a Universidade de Helsinque. Veja como estão posicionadas as instituições de ensino superior finlandesas aqui.
Veja bem, não estou dizendo em momento algum que o ensino superior seja fraco ou que as universidades sejam ruins, apenas estou esclarecendo que a excelência comprovada sobre a qual a imprensa fala, aplica-se apenas ao sistema de educação básica e não a ele todo.
O que normalmente atrai o desejo de famílias em busca de uma vida melhor em imigrar para cá é o fato deste sistema ser gratuito e de qualidade. Mas, mesmo nesse quesito, há uma série de equívocos na forma como a imprensa faz transparecer o funcionamento. Por isso, vou desmembrar o sistema educacional finlandês em segmentos, mostrando o que realmente é gratuito. Não falarei sobre qualidade ou metodologias nesse texto, pois acho melhor separar as coisas. Meu intuito é discorrer somente sobre custos. No entanto, deixarei ao final, alguns links para artigos que mostram as particularidades do sistema para quem quiser saber mais.
- EDUCAÇÃO INFANTIL (creches) – pago
Apesar de a qualidade do sistema infantil de edução influenciar muito na excelência da educação básica, este segmento não é obrigatório. Os pais podem optar por matricular seus filhos ou não em uma creche, até os 5 anos de idade.
A criança pode ir para a creche pública a partir dos 10 meses de idade, caso os pais não tenham a intenção de continuar a licença-maternidade ou paternidade, que pode durar 3 anos (leia mais sobre a licença aqui).
É importante entrar em contato com o departamento de educação de sua municipalidade para saber detalhes, pois há prioridade nas vagas para famílias em que ambos os pais trabalhem. Cada município é livre para definir o número de horas por semana em que a criança poderá ficar na creche, caso um dos pais não trabalhe, não seja estudante e não tenha nenhum problema de saúde.
Há creches públicas e privadas. Nas públicas, os pais pagam uma porcentagem de sua renda como mensalidade (famílias que tenham renda mensal inferior a 1500€ têm direito a gratuidade) O valor final varia de acordo com o número de horas mensais frequentadas e com o número de filhos matriculados. O preço pago para uma criança que fique na creche período integral (entre 7 e 10 horas por dia), é de, no mínimo, 27€ e, no máximo, 290€ por mês, de acordo com a renda dos pais (dados de 2016). Nas creches particulares o sistema é um pouco diferente e paga-se mais, normalmente entre 100€ e 350€ por mês. Saiba mais sobre taxas nas creches públicas aqui. (atenção: dados de 2016)
Nos valores pagos para as creches públicas estão inclusos café da manhã, almoço e lanche da tarde.
- PRÉ-ESCOLA (gratuita)
Ao completar 6 anos de idade, a criança deve iniciar a pré-escola. Até 2015 ela era opcional, no entanto, em 28.5.2015, entrou em vigor a lei da obrigatoriedade da pré-escola.
É possível que os pais se responsabilizem por esse segmento do ensino, se assim desejarem. Para isso, precisam comunicar ao órgão municipal responsável pela educação, que providenciará o material necessário para o ensino em casa, de acordo com o currículo nacional. O ensino pré-escolar é oferecido tanto por algumas creches quanto por escolas locais. Na página oficial de sua municipalidade de residência é possível pegar todas as informações. As regras da pré-escola são bem parecidas com as das creches.
- ENSINO BÁSICO (gratuito)
Tem início aos 7 anos de idade e dura até a criança completar 15 anos. É totalmente gratuito, estando inclusos também o material escolar (livros, cadernos e acessórios como lápis, borracha etc) e as refeições: almoço e lanche.
- ENSINO MÉDIO (semi-gratuito)
O ensino médio dura 3 anos. Há duas opções: o normal e o profissionalizante. Ambos são gratuitos de mensalidade, no entanto, o material escolar (livros e etc) é pago e gasta-se bastante com livros: no mínimo 300€ por semestre se você optar por comprar todos novos. No profissionalizante, o aluno é treinado para exercer uma profissão ao término dos 3 anos de curso. A escola oferece as ferramentas de estudo, no entanto, se precisar de livros, estes são pagos. Para algumas profissões o estudante recebe gratuitamente o material de segurança como máscaras, macacões, luvas etc, mas, há cursos em que o estudante deverá pagar por seu uniforme e sapatos especiais, se necessários.
Em ambos os sistemas os alunos têm direito a uma refeição por dia.
É possível conseguir os livros de segunda-mão a preços mais baratos e o aluno também pode estudar na biblioteca.
O sistema de segundo grau normal abrange escolas municipais comuns ou específicas. As específicas dão ênfase a matérias como música, esportes, biologia e idiomas, por exemplo. Alunos interessados nelas devem fazer um exame de ingresso. Caso o estudante não passe no exame mas, mesmo assim, queira fazer o segundo-grau, é garantida a ele vaga na escola municipal normal.
- ENSINO SUPERIOR (gratuito, mas não para todos)
O ensino superior é dividido em dois segmentos: universidades e universidades de ciências aplicadas. Escrevi sobre eles, sobre o acesso e sobre custos específicos em um texto anterior que você pode ler aqui.
Até 15 de dezembro de 2015, o ensino superior era gratuito para todos na Finlândia, no entanto, a partir dessa data, o Parlamento finlandês votou a favor de uma lei que permite às universidades cobrarem anuidade de alunos estrangeiros vindos de fora da União Europeia, que não tenham visto de residência permanente na Finlândia. O governo estipulou como valor mínimo uma anuidade de 1.500€, no entanto, cada universidade é livre para cobrar de acordo com seus propósitos. Para ler o artigo em inglês sobre o caso clique aqui. Para acompanhar, siga o sítio oficial Study in Finland. Para saber os preços das anuidades cobradas você deve acessar o site da universidade de seu interesse.
Para os que têm direito a gratuidade, de qualquer forma, os livros, a moradia e as refeições devem ser pagos pelos alunos. O governo oferece uma ajuda ao estudante local que pode chegar a 500€, no entanto, este valor valor varia de acordo com a cidade de residência, com o tipo de estudo e com a idade e condição financeira de cada aluno. Leia mais aqui.
Finalizo com alguns links para consulta, caso você tenha interesse em saber mais:
Meu artigo completo sobre educação básica e ensino médio na Finlândia, publicado em português pelo Departamento Cultural do Itamaraty, na Revista Mundo Afora número 11.
Tudo sobre o sistema de educação finlandês em inglês: Finnish National Board of Education e Ministério da Educação e Cultura.
16 Comments
Ai que ótimo artigo amiga, até que enfim, bom ler um resumo (muito) bem feito pra poder (compartilhar) e esclarecer tanto essas matérias mal feitas por ai, sem pesquisa, e dados, vendendo a ilusão de conto de fadas, como falou, de que tudo é gratuito.
Até porque passa uma idéia errada, de como é tudo simples e acessivel.
Achei ótimo! Parabens! Beijo
Muito obrigada, querida!
Um beijão
Olá Maila, gostaria de parabenizá-la pelas ótimas reportagens! Me mudei para a Finlândia há pouco tempo e através de suas reportagens sempre consigo ter uma visão melhor das coisas por aqui. Sem o “sensacionalismo” das reportagens brasileiras mas sim explicando tudo como realmente é. Obrigada e parabéns!
Olá Juliana,
Muito obrigada por seu comentário. Meu objetivo é exatamente esse: escrever de maneira realista para informar de verdade. Seu feedback me deixou muito feliz! Um abraço
Maila-Kaarina,
Agradeço pelos esclarecimentos.
Seria possível discorrer algo sobre a metodologia pedagógica empregada na Finlandia?
No Brasil, ocorre neste momento uma grande discussão sobre a forma do ensino médio.
Gostaria de compreender, se possível, como as disciplinas são estruturadas ao longo do curso do ensino fundamental e médio, na Finlandia (Detalhamento do conteúdo exposto nas páginas 296 e 297 da Revista Mundo Afora número 11).
Há algum site onde eu possa efetuar esta pesquisa?
Desde já, lhe sou grato pela atenção.
Prezado Leo,
Obrigada por sua mensagem.
Caso você leia bem em inglês, os outros dois links que deixei ao final do texto, o da Finnish National Board of Education e o do Ministério da Educação, fazem uma descrição bem mais detalhada do sistema.
Em língua portuguesa ainda não há nada publicado. Pretendo escrever mais artigos sobre isso aqui no blog no futuro. Um abraço
Prezada Maila-Kaarina
Obrigado pelas indicações.
Estudarei o referido material.
Abraço Fraterno
Leo M
Outro para você! 😉
Prezada Maila-Kaarina,
Saudações
Como informação adicional que pode ser útil a outros interessados, após a leitura completa das referências, observei que o ‘Finnish National Board of Education’, comercializa a versão eletrônica do ‘National Core Curriculum’ por preço bastante acessível, via Amazon. Acabei por adquirir o material para Kindle,, e penso que a publicação será interessante para o estudo mais detalhado do ponto que motivou o meu primeiro questionamento.
Uma vez mais, grato pela ajuda.
Abraço Fraterno
Olá!
Obrigada pela informação.
Em setembro deste ano foi oficialmente lançado o novo currículo nacional para educação básica. Uma mudança radical e revolucionária em todo o sistema entrou em vigor. Detalhes sobre ele ainda não estão disponíveis nos sites do governo e nem o novo currículo. Fique de olho nos sites que disponibilizei porque acredito que, em breve, haverá muita novidade.
Um abraço fraterno para você também
Maila-Kaarina,
Obrigada pelo post! Sempre fui/sou interessada pela Finlândia e o motivo disso tudo foi o sistema de educação por aí. A midia brasileira impõe algo que, para muitos, é um paraíso e na prática, não é bem assim. Continuo na minha pesquisa para poder, quem sabe um dia, me ingressar em uma dessas faculdades (visitei o link-THE). Desde já lhe agradeço e continue com suas postagens!
Muito obrigada, Juliana!
Se você tem interesse no assunto, fique de olho em minha coluna em novembro, pois escreverei sobre o novo currículo nacional de educação, que entrou em vigor agora em setembro.
Um grande abraço!
Parecido como na Alemanha, desculpam, mas acho que vc nao conhece a maioria das escolas publicas e privadas no Brasil,. Moro em Berlim, meus filhos estudam em uma escola privada, com bolsa do estado, pago só uma parcela. È muito boa, sao 12 criancas por sala. Concordo que tem que cobrar de quem nao pertence a Uniao Europeia, se nao vai ficar que nem em Berlim, tem bastante estrangeiro, que recebe bolsa, moradia e ainda reclama do país. E ainda quer impo ra religiao deles na Faculdade.
Olá Simone,
Obrigada por dividir sua opinião.
Um abraço
Olá!
Exelente artigo!
Parabéns!!!
Abraços
Obrigada! 😉